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10 Poemas de Gonçalves Dias: Autor do Romantismo Brasileiro - Indianista

10 Poemas de Gonçalves Dias: Sugeridos para Preparação e Estudo


1.  A Leviana

Souvent femme varie, Bien fol est qui s'y fie. 

-- Francisco I


És engraçada e formosa

Como a rosa,

Como a rosa em mês d'Abril;

És como a nuvem doirada

Deslizada,

Deslizada em céus d'anil.


Tu és vária e melindrosa,


Qual formosa

Borboleta num jardim,

Que as flores todas afaga,

E divaga

Em devaneio sem fim.


És pura, como uma estrela


Doce e bela,

Que treme incerta no mar:

Mostras nos olhos tua alma

Terna e calma,

Como a luz d'almo luar. 


Tuas formas tão donosas,


Tão airosas,

Formas da terra não são;

Pareces anjo formoso,

Vaporoso,

Vindo da etérea mansão.


Assim, beijar-te receio,


Contra o seio

Eu tremo de te apertar:

Pois me parece que um beijo

É sobejo

Para o teu corpo quebrar.


Mas não digas que és só minha!


Passa asinha

A vida, como a ventura;

Que te não vejam brincando,

E folgando

Sobre a minha sepultura.


Tal os sepulcros colora


Bela aurora

De fulgores radiante;

Tal a vaga mariposa

Brinca e pousa

Dum cadáver no semblante. 


Gonçalves Dias

Primeiros Cantos



2. CANÇÃO DO EXÍLIO

Gonçalves Dias


Kennst du das Land, wo die Citronen blühn,

Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühn,

Kennst du es wohl?

 Dahin, Dahin!

Möcht ich... ziehn!

Goethe


Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.


Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar - sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


Não permita Deus que eu morra,

Sem que volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.



3. Não me Deixes de Gonçalves Dias

NÃO ME DEIXES

Debruçada nas águas dum regato

A flor dizia em vão

A corrente, onde bela se mirava...

“Ai, não me deixes, não!


“Comigo fica ou leva-me contigo”

“Dos mares à amplidão,

“Límpido ou turvo, te amarei constante

“Mas não me deixes, não!”


E a corrente passava, novas águas

Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na fonte:

“Ai, não me deixes, não!”


E das águas que fogem incessantes

À eterna sucessão

Dizia sempre a flor, e sempre embalde:

“Ai, não me deixes, não!”


Por fim desfalecida e a cor murchada,

Quase a lamber o chão,

Buscava inda a corrente por dizer-lhe

Que a não deixasse, não.


A corrente impiedosa a flor enleia,

Leva-a do seu torrão;

A afundar-se dizia a pobrezinha:

“Não me deixaste, não!”


Gonçalves Dias

Novos Cantos


4. A FLOR DO AMOR

já lento o passo, no cair da tarde,

Lá nos desertos d’abrasada areia,

Que o vento agita, porém não recreia,

da caravana o condutor parou.

Armam-se à pressa tendas alvejante,

Rumina plácido o frugal camelo;

Porém a nuvem d’árabes errantes

Se achega à presa, que de longe olhou.


E já, tomada a refeição noturna,

Junto a fogueira, que derrama vida,

Descansam todos da penosa lida

À voz canora, que o cantor alçou!

Confuso o ouvido um burburinho alcança,

As armas toma o árabe prudente;

Mas logo pensa, rejeitando a lança:

“Foi o grunhido que o chacal soltou.”


Ouvidos todo e curioso enlevo,

torna de novo a retomar seu posto;

Pela fogueira alumiado o rosto,

Bebendo as vozes que o cantor soltou;

Simelha a terra, quando aberta em fendas

Da noite o orvalho sequiosa espera;

E o corcel árabe encostado às tendas

Os sons lhe escuta, e de os ouvir folgou.


“Algures cresce (o trovador cantava)

Sempre fresca e virente e sempre bela,

Por influxo e poder de maga estrela,

Mimosa, pura e delicada flor!

Jazendo em sítio escuso e solitário,

Esforços é mister p’ra conhece-la,

Que diz a forte lei do seu fadário

Que a não descubra acaso o viajor. 


“Alva do albor dos lírios odorosos,

Tem a modéstia da violeta esquiva,

e o pronto retrair da sensitiva,

Que parece vestir-se de pudor!

Assim, à luz da cambiante aurora,

Mudando um poço a resplendente alvura,

De uns toque de carmim s’esmalta e cora

A graciosa e pudibunda flor.


“Faz-me mais puro o ar, mais brando o clima,

Onde cresce; amenizam-se os lugares,

Tornam-se menos agros os pesares

E menos viva, e quase nula a dor;

Fresca e branda alcatifa o chão matiza,

Com doce murmúrio as aguas correm,

e o leve sopro do correr da brisa

Volúpia embebe em mágico frescor!


“Feliz aquele que a encontrou na vida,

Que onde ela nasce tímida e fagueira

Não s’enovela a mó d’atra poeira,

Tangida pelo simum abrasador!

Ali sorri-se oásis venturoso,

Qu’entre deleites o viver matiza,

E ao que vai triste, aflito e sem repouso

Chama a descanso de comprido error!


“Feliz e mais que se, perdido, achara

Conforto e auxilio no catá, seu guia,

Que o leva a fonte perenal e fria

Onde se apaga o sitibundo ardor.

Tão feliz, qual talvez se o precedesse

Que por fanal noturno lhe acendesse

Maga estrela de límpido fulgor.


“Ai! porém do que a vê, e a não conhece,

Do que a suspira em vão, e a em vão procura,

Ou que achando-a, desiste da ventura

Por não entrar no oásis sedutor.

Essa flor descoberta por acerto

Nunca mais a verás! colhe, insensato,

Colhe abrolhos da vida no deserto;

Pois desprezaste a que produz o amor!”


Assim cantava o trovador; e todos

Ouvem-no com prazer de dor travado,

Que mais do que um talvez terá deixado

Atrás de si a pudibunda flor!

No entanto a nuvem d’árabes errantes

Chega-se à presa, que avistou de longe;

E dos corcéis, que alentam ofegante,

Precede a marcha túrbido pavor!


E, nado o sol, aquele que passava

Pelos desertos d’abrasada areia,

Que o rubro sangue de cruor roxeia,

A um lado o rosto pálido, voltou!

Ninguém as mortes lastimáveis chora,

Ninguém recolhe os restos insepultos,

E o mesmo orvalho, que goteja a aurora,

Sem borrifa-los, no areal ficou


Quem saberá do seu destino agora?

Ninguém! Somente em climas apartados

Miseranda mulher lastima os fados

De filho ou esposo, que jamais tornou!

Talvez porém, trás de montões d’areia,

Nobre corcel sem cavaleiro assoma,

E alonga avista, de pesares cheia,

Te onde a vida seu senhor deixou! 



Gonçalves Dias


5. O Canto do Índio


Quando o sol vai dentro d'água
Seus ardores sepultar,
Quando os pássaros nos bosques
Principiam a trinar;

Eu a vi, que se banhava...
Era bela, ó Deuses, bela,
Como a fonte cristalina,
Como luz de meiga estrela.

Ó Virgem, Virgem dos Cristãos formosa,
Porque eu te visse assim, como te via,
Calcara agros espinhos sem queixar-me,
Que antes me dera por feliz de ver-te.

O tacape fatal em terra estranha
Sobre mim sem temor veria erguido;
Dessem-me a mim somente ver teu rosto
Nas águas, como a lua, retratado.

Eis que os seus loiros cabelos
Pelas águas se espalhavam,
Pelas águas, que de vê-los
Tão loiros se enamoravam.

Ela erguia o colo ebúrneo,
Por que melhor os colhesse;
Níveo colo, quem te visse,
Que de amores não morresse!

Passara a vida inteira a contemplar-te,
Ó Virgem, loira Virgem tão formosa,
Sem que dos meus irmãos ouvisse o canto,
Sem que o som do Boré que incita à guerra
Me infiltrasse o valor que m'hás roubado,
Ó Virgem, loira Virgem tão formosa.

As vezes, quando um sorriso
Os lábios seus entreabria,
Era bela, oh! mais que a aurora
Quando a raiar principia.

Outra vez - dentre os seus lábios
Uma voz se desprendia;
Terna voz, cheia de encantos,
Que eu entender não podia.

Que importa? Esse falar deixou-me n'alma
Sentir d'amores tão sereno e fundo,
Que a vida me prendeu, vontade e força
Ah! que não queiras tu viver comigo,
Ó Virgem dos Cristãos, Virgem formosa! 

Sobre a areia, já mais tarde,
Ela surgiu toda nua;
Onde há, ó Virgem, na terra
Formosura como a tua!?

Bem como gotas de orvalho
Nas folhas de flor mimosa,
Do seu corpo a onda em fios
Se deslizava amorosa.

Ah! que não queiras tu vir ser rainha
Aqui dos meus irmãos, qual sou rei deles!
Escuta, ó Virgem dos Cristãos formosa.
Odeio tanto aos teus, como te adoro;
Mas queiras tu ser minha, que eu prometo
Vencer por teu amor meu ódio antigo,
Trocar a maça do poder por ferros
E ser, por te gozar, escravo deles. 

Gonçalves Dias
Primeiros Cantos




6. O HOMEM FORTE


O modesto varão constante e justo
Pensa e medita nas lições dos sábios
E nos caminhos da justiça eterna
Gradua firme os passos.

O brilho da sua lama não mareia
A luz do sol, nem do carvão se tisna;
Morre pelo dever, austero e crente,
Confessando a virtude.

Pode a calúnia denegrir seus feitos,
Negar-lhe a inveja o mérito subido;
Pode em seu dano conspirar-se o mundo
E renegá-lo a pátria!

Tão modesto no paço de Lóculo
Como encerrado no tonel do Grego,
Nem o transtorna a aragem da ventura,
Nem a desgraça o abate.

A tiranos preceitos não se humilha,
Ante o ferro do algoz não curva a fronte,
Não faz calar da consciência o grito,
Não nega os seus princípios.

Antes, seguro e firme e confiado
No tempo, vingador das injustiças,
Co’s pés no cadafalso e a vista erguida
Se mostra imperturbável.

Sofre mártir e expira! A pátria em torno
Do seu sepulcro o chora, onde a virtude, 
Afeita ao luto e à dor, de novo carpe
Do justo a flébil morte


Gonçalves Dias
Novos Cantos

7. O Canto do Guerreiro.


O Canto do Guerreiro

I
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
- Ouvi-me, Guerreiros.
- Ouvi meu cantar.

II
Valente na guerra
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?

III
Quem guia nos ares
A frecha imprumada,
Ferindo uma presa,
Com tanta certeza,
Na altura arrojada
Onde eu a mandar?
- Guerreiros, ouvi-me,
- Ouvi meu cantar.

IV
Quem tantos imigos
Em guerras preou?
Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me:
- Quem há, como eu sou?

V
Na caça ou na lide,
Quem há que me afronte?!
A onça raivosa
Meus passos conhece, 
O imigo estremece,
E a ave medrosa
Se esconde no céu.
- Quem há mais valente,
- Mais destro do que eu?

VI
Se as matas estrujo
Co os sons do Boré,
Mil arcos se encurvam,
Mil setas lá voam,
Mil gritos reboam,
Mil homens de pé
Eis surgem, respondem
Aos sons do Boré!
- Quem é mais valente,
- Mais forte quem é?

VII
Lá vão pelas matas;
Não fazem ruído:
O vento gemendo
E as malas tremendo
E o triste carpido
Duma ave a cantar,
São eles - guerreiros,
Que faço avançar.

VIII
E o Piaga se ruge
No seu Maracá,
A morte lá paira
Nos ares frechados,
Os campos juncados
De mortos são já:
Mil homens viveram,
Mil homens são lá.

IX
E então se de novo
Eu toco o Boré;
Qual fonte que salta
De rocha empinada,
Que vai marulhosa,
Fremente e queixosa,
Que a raiva apagada
De todo não é,
Tal eles se escoam
Aos sons do Boré.
- Guerreiros, dizei-me,
- Tão forte quem é? 

Gonçalves Dias 
Primeiros Cantos

8. O Canto do Piaga


I
Ó GUERREIROS da Taba sagrada,
Ó Guerreiros da Tribu Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.

Esta noite - era a lua já morta -
Anhangá me vedava sonhar;
Eis na horrível caverna, que habito,
Rouca voz começou-me a chamar.

Abro os olhos, inquieto, medroso,
Manitôs! que prodígios que vil
Arde o pau de resina fumosa,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi!

Eis rebenta a meus pés um fantasma,
Um fantasma d'imensa extensão;
Liso crânio repousa a meu lado,
Feia cobra se enrosca no chão.

O meu sangue gelou-se nas veias,
Todo inteiro - ossos, carnes - tremi,
Frio horror me coou pelos membros,
Frio vento no rosto senti.

Era feio, medonho, tremendo,
Ó Guerreiros, o espectro que eu vi.
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi!

II

Por que dormes, Ó Piaga divino?
Começou-me a Visão a falar,
Por que dormes? O sacro instrumento
De per si já começa a vibrar.

Tu não viste nos céus um negrume
Toda a face do sol ofuscar;
Não ouviste a coruja, de dia,
Seus estrídulos torva soltar?

Tu não viste dos bosques a coma
Sem aragem - vergar-se e gemer,
Nem a lua de fogo entre nuvens,
Qual em vestes de sangue, nascer?

E tu dormes, ó Piaga divino!
E Anhangá te proíbe sonhar!
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?! 

Ouve o anúncio do horrendo fantasma,
Ouve os sons do fiel Maracá;
Manitôs já fugiram da Taba!
Ó desgraça! Ó ruína! Ó Tupá!

III

Pelas ondas do mar sem limites
Basta selva, sem folhas, i vem;
Hartos troncos, robustos, gigantes;
Vossas matas tais monstros contêm.

Traz embira dos cimos pendente
- Brenha espessa de vário cipó -
Dessas brenhas contêm vossas matas,
Tais e quais, mas com folhas; é so!

Negro monstro os sustenta por baixo,
Brancas asas abrindo ao tufão,
Como um bando de cândidas garças,
Que nos ares pairando - lá vão.

Oh! quem foi das entranhas das águas,
O marinho arcabouço arrancar?
Nossas terras demanda, fareja...
Esse monstro... - o que vem cá buscar?

Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!

Vem trazer-vos crueza, impiedade -
Dons cruéis do cruel Anhangá;
Vem quebrar-vos a maça valente,
Profanar Manitôs, Maracás.

Vem trazer-vos algemas pesadas,
Com que a tribu Tupi vai gemer;
Hão-de os velhos servirem de escravos
Mesmo o Piaga inda escravo há de ser?

Fugireis procurando um asilo,
Triste asilo por ínvio sertão;
Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vossos quão poucos serão.

Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
Susta as iras do fero Anhangá.
Manitôs já fugiram da Taba,
Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá! 



Gonçalves Dias
Primeiros Cantos

9. Caxias


Quanto és bela, ó Caxias! - no deserto,
Entre montanhas, derramada em vale
De flores perenais,
És qual tênue vapor que a brisa espalha
No frescor da manhã meiga soprando
À flor de manso lago.

Tu és a flor que despontaste livre
Por entre os troncos de robustos cedros,
Forte - em gleba inculta;
És qual gazela, que o deserto educa,
No ardor da sesta debruçada exangue
À margem da corrente.

Em mole seda as graças não escondes,
Não cinges d'oiro a fronte que descansas
Na base da montanha;
És bela como a virgem das florestas,
Que no espelho das águas se contempla,
Firmada em tronco anoso.

Mas dia inda virá, em que te pejes
Dos, que ora trajas, símplices ornatos
E amável desalinho:
Da pompa e luxo amiga, hão de cair-te
Aos pés então - da poesia a c'roa
E da inocência o cinto. 

Gonçalves  Dias
Primeiros Cantos

10. Deprecação


Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto
Com denso velâmen de penas gentis;
E jazem teus filhos clamando vingança
Dos bens que lhes deste da perda infeliz!

Tupã, ó Deus grande! teu rosto descobree:
Bastante sofremos com tua vingança!
Já lágrimas tristes choraram teus filhos
Teus filhos que choram tão grande mudança.

Anhangá impiedoso nos trouxe de longe
Os homens que o raio manejam cruentos,
Que vivem sem pátria, que vagam sem tino
Trás do ouro correndo, voraces, sedentos.

E a terra em que pisam, e os campos e os rios
Que assaltam, são nossos; tu és nosso Deus :
Por que lhes concedes tão alta pujança,
Se os raios de morte, que vibram, são teus?

Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto
Com denso velâmen de penas gentis;
E jazem teus filhos clamando vingança
Dos bens que lhes deste da perda infeliz.

Teus filhos valentes, temidos na guerra,
No albor da manhã quão fortes que os vi!
A morte pousava nas plumas da frecha,
No gume da maça, no arco Tupi!

E hoje em que apenas a enchente do rio .
Cem vezes hei visto crescer e baixar...
Já restam bem poucos dos teus, qu'inda possam
Dos seus, que já dormem, os ossos levar.

Teus filhos valentes causavam terror,
Teus filhos enchiam as bordas do mar,
As ondas coalhavam de estreitas igaras,
De frechas cobrindo os espaços do ar.

Já hoje não caçam nas matas frondosas
A corça ligeira, o trombudo quati...
A morte pousava nas plumas da frecha,
No gume da maça, no arco Tupi!

O Piaga nos disse que breve seria, 
A que nos infliges cruel punição;
E os teus inda vagam por serras, por vales,
Buscando um asilo por ínvio sertão!

Tupã, ó Deus grande! descobre o teu rosto:
Bastante sofremos com tua vingança!
Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
Teus filhos que choram tão grande tardança.

Descobre o teu rosto, ressurjam os bravos,
Que eu vi combatendo no albor da manhã;
Conheçam-te os feros, confessem vencidos
Que és grande e te vingas, qu'és Deus, ó Tupã! 

Gonçalves Dias 
Primeiros Cantos10 Poemas de Gonçalves Dias: Autor do Romantismo Brasileiro - Indianista

10 Poemas de Gonçalves Dias: Autor do Romantismo Brasileiro - Indianista 



Veja também

Autor: Antônio Gonçalves Dias. 


Um grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como "indianismo", é famoso por ter escrito o poema "Canção do Exílio" — um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira —, o curto poema épico I-Juca-Pirama e muitos outros poemas nacionalistas e patrióticos, além de seu segundo mais conhecido poema chamado: Cancões de Exílio que viriam a dar-lhe o título de poeta nacional do Brasil. (wikipedia).

 A obra de Gonçalves Dias enquadra-se no Romantismo, pois, a semelhança do que fizeram os seus correlegionários europeus, procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. 


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João 3 16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.