Exercícios de literatura sobre Clarice Lispector. Escritora clássica da literatura brasileira acompanhe as questões sobre interpretação dos textos da autora. Sugeridos para aulas do ensino médio, vestibular e ENEM.
Questões sobre a escritora Clarice Lispector
QUESTÕES – CLARICE LISPECTOR
1. Em qual movimento literário Clarice Lispector está inserida?
A) Romantismo
B) Naturalismo
C) Modernismo – terceira fase
D) Simbolismo
E) Parnasianismo
2. Qual das características abaixo é mais marcante na escrita de Clarice Lispector?
A) Narrativa linear e descritiva
B) Enredos épicos com muitos personagens
C) Foco na ação externa e na objetividade
D) Linguagem introspectiva e fluxo de consciência
E) Linguagem regionalista e oral
3. O romance "A Hora da Estrela" gira em torno de qual personagem principal?
A) Joana
B) Clarice
C) Macabéa
D) Loreley
E) Madalena
4. Quem é o narrador da obra "A Hora da Estrela"?
A) Um narrador onisciente sem nome
B) O namorado de Macabéa
C) Um repórter anônimo
D) Rodrigo S. M.
E) O pai da protagonista
5. Em "A Hora da Estrela", Macabéa representa:
A) A elite carioca
B) A mulher moderna
C) O intelectual nordestino
D) A mulher pobre e marginalizada
E) A juventude universitária
6. Um dos principais temas na obra de Clarice Lispector é:
A) As guerras mundiais
B) O universo rural brasileiro
C) A subjetividade e a busca pelo eu
D) A crítica ao imperialismo
E) A política partidária
7. Clarice Lispector nasceu em qual país?
A) Brasil
B) Portugal
C) Ucrânia
D) França
E) Alemanha
8. Em qual romance Clarice Lispector narra a vida de uma dona de casa que tem um momento de epifania ao matar uma barata?
A) Laços de Família
B) A Paixão Segundo G.H.
C) A Hora da Estrela
D) Água Viva
E) O Lustre
9. A linguagem de Clarice Lispector costuma ser marcada por:
A) Impessoalidade e distanciamento
B) Linguagem rebuscada e acadêmica
C) Tom confessional, filosófico e poético
D) Uso de termos científicos e técnicos
E) Ironia e humor escrachado
10. Qual das frases abaixo reflete bem o estilo existencial de Clarice Lispector?
A) “O mundo é dos fortes e dos valentes.”
B) “Não se nasce mulher: torna-se mulher.”
C) “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
D) “A natureza é sábia e bela.”
E) “Pelo trabalho venceremos.”
GABARITO COM EXPLICAÇÕES
1. C – Modernismo – terceira fase
Clarice Lispector faz parte da terceira fase do Modernismo brasileiro, também chamada de Geração de 1945, marcada por introspecção e profundidade psicológica.
2. D – Linguagem introspectiva e fluxo de consciência
A autora é conhecida pelo estilo introspectivo, com uso do fluxo de consciência, focando nos pensamentos íntimos dos personagens.
3. C – Macabéa
Macabéa é a protagonista de A Hora da Estrela, uma jovem nordestina que vive no Rio de Janeiro em situação de extrema pobreza.
4. D – Rodrigo S. M.
O narrador é o fictício Rodrigo S. M., uma figura criada por Clarice para mediar a relação entre autora, leitor e personagem.
5. D – A mulher pobre e marginalizada
Macabéa simboliza a mulher excluída da sociedade, ignorada pelo mundo ao seu redor.
6. C – A subjetividade e a busca pelo eu
Clarice trata de temas como a identidade, a consciência e o autoconhecimento, pilares do existencialismo literário.
7. C – Ucrânia
Clarice nasceu na Ucrânia, na cidade de Tchetchelnik, em 1920, e veio ao Brasil ainda pequena, naturalizando-se brasileira.
8. B – A Paixão Segundo G.H.
Nesse romance, a protagonista tem uma crise existencial e epifania ao matar uma barata, refletindo sobre a vida e o vazio.
9. C – Tom confessional, filosófico e poético
Clarice utiliza uma linguagem que mistura poesia, filosofia e confissão pessoal, sendo considerada única na literatura brasileira.
10. C – “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
Essa frase é famosa e representa bem a ânsia existencial e a linguagem reflexiva de sua escrita.
Exercícios sobre Clarice Lispector
Texto 1 (Pref. Francisco Dumont/MG COTEC/UNIMONTES - 2016) Leia o fragmento do conto “Amor”, de Clarice Lispector, retirado do livro Laços de família, para responder às questões a seguir.
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida. [...] No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. [...] O bonde se arrastava, em seguida estacava. Foi então que olhou para o homem parado no ponto. A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego. O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranquila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles. [...] Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados. Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida. Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito. A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um malestar. [...] Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite. [...] Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo. A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si. [...] Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. [...] Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
1) Assinale a alternativa INCORRETA.
- A)A narrativa demonstra que a personagem Ana vê-se subitamente despertada pelo amor ao cego, único ser capaz de retirá-la da alienação da vida comum de dona de casa.
- B) O conto representa um momento da vida de uma mãe e dona de casa, que suspende momentaneamente suas atividades cotidianas para viver uma possível metafísica do instante.
- C) A imagem da rede de ovos que se parte e deixa escorrer a gema amarela metaforiza o despertar, ainda que passageiro, de uma mulher comum, que passa a ter uma visão mais consciente de seu papel social.
- D)A epifania, característica comum na narrativa de Clarice Lispector, acontece quando a personagem vê o cego parado, mascando chicles, pois é a partir daí que ela começa a ter noção de si.
2) O conto “Amor”, de Clarice Lispector, possui todas as características apresentadas abaixo, EXCETO
- A)O narrador afasta-se totalmente da personagem e da cena, deixando prevalecer a observação distanciada e a análise objetiva dos fatos relatados.
- B) O olhar minucioso, a descrição atenta e a demonstração dos complexos sentimentos da personagem revelam relativa proximidade do narrador com os acontecimentos.
- C) A personagem Ana identifica-se com as mulheres comuns de sua classe e situação, no entanto, ela vive um momento único de revelação e consciência, que pode ser traduzido como uma vontade inconsciente de libertação.
- D)O cotidiano, a cena corriqueira e a personagem comum são artifícios usados pela autora para refletir sobre a vida, os papéis sociais e seus significados.
3) Sobre o texto de Clarice Lispector, é INCORRETO afirmar:
- A)Trata-se de um conto, porque condensa personagens e ações, apresentando um conflito central.
- B) A narrativa apresenta fluxo de consciência, pois as emoções da personagem fundem-se às reflexões da voz narrativa, dando maior ênfase ao mundo interior.
- C) Trata-se de um conto, porque apresenta linguagem acessível e tema popular, adequando-se às exigências de um leitor contemporâneo.
- D)As emoções da personagem, com suas contradições e descobertas, expressam a súbita consciência sobre sua vida e sua identidade.
4) Sobre o título “Amor” do conto de Clarice Lispector, está INCORRETA a alternativa:
- A)A autora apresenta uma visão desmistificadora e reflexiva sobre o amor, contrariando uma percepção romantizada e lírica do sentimento.
- B) No texto, evidencia-se que o amor é um sentimento que pode ser despertado por contingências cotidianas, incorporando-se aos fatos corriqueiros da vida.
- C) A consciência subitamente despertada na personagem propicia a ela uma experiência invulgar de reflexão, em que o amor se incorpora de forma complexa e ambígua.
- D)O título representa uma ironia da autora sobre o sentimento amoroso, pois a personagem conclui que sua vida é monótona e sem sentido.
5) Assinale a alternativa que apresenta a relação INCORRETA entre o excerto e o que ele expressa.
- A) “Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede.” — O trecho destaca o momento de revelação e autodescoberta vivenciado por Ana.
- B) “Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.” — O
- trecho expressa o vazio existencial da personagem.
- C) “A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito.” — O trecho evidencia, metaforicamente, uma necessidade de libertação da personagem.
- D) “Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto.” — O trecho evidencia que a experiência vivida pela personagem desperta nova consciência sobre o que está a seu entorno.
Gabarito das questões do Texto 1
1A 2A 3C 4D 5B
Com esta história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte. Eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida. As palavras são sons transfundidos de sombras que se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, música transfigurada de órgão. Mal ouso clamar palavras a essa rede vibrante e rica, mórbida e obscura tendo como contra tom o baixo grosso da dor. Alegro com brio. Tentarei tirar ouro do carvão.
Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem bola. O fato é um ato? Juro que este livro é feito sem palavras.
É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma pergunta.
É. Parece que estou mudando o modo de escrever. Mas acontece que só escrevo o que quero, não sou um profissional – e preciso falar dessa nordestina senão sufoco. Ela me acusa e o meio de me defender é escrever sobre ela. Escrevo em traços vivos e ríspidos de pintura. Estarei lidando com fatos como se fossem as irremediáveis pedras de que falei.
Embora queira que para me animar sinos badalem enquanto adivinho a realidade. E que anjos esvoacem em vespas transparentes em torno de minha cabeça quente porque esta quer se transformar em objeto-coisa, é mais fácil.
(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.)
1) Que questão o narrador clariceano NÃO coloca ao leitor como ponto de sua reflexão/escrita?
- [A] O papel do escritor e sua função na sociedade.
- x[B] Sua escrita em resposta às cobranças da crítica literária.
- [C] A aproximação entre as artes de diferentes linguagens.
- [D] O processo de depuração da escrita.
2) Em sua reflexão metalinguística, de que estratégia discursiva se utiliza o narrador?
- [A] Afirma com insistência que a sua escrita efetivamente imprime mudanças na sociedade.
- [B] Ignora a figura do leitor, que fica fora do alcance das suas indagações.
- [C] O narrador silencia, mostrando que considera Macabea capaz de falar por si própria.
- x[D] Coloca sua narração sob suspeição, ao optar por expor igualmente os mecanismos constitutivos da narrativa e da narração.
3) No conjunto da obra de Clarice Lispector, têm centralidade as personagens femininas. No caso de A hora da estrela, pode-se dizer que Macabea revela
- [A] a origem de sua força em sua psicologia e existência interiores.
- [B] uma atuação e destino marcados pela comicidade.
- x[C] seu lugar como personagem e sua atuação determinados por um jogo de forças familiares e sociais.
- [D] seu papel de heroína paradigmática – a sertaneja que consegue escapar à tragédia do sertão.
Adquira o Livro Português Esquematizado Gramática, Interpretação de Texto, Redação Oficial e Redação Discursiva. O candidato tem diante de si todo o arsenal de Língua Portuguesa. Clique aqui e confira!



Compartilhe em sua s Redes Sociais!