Publicidade

Como estudar para Provas Sozinho?



Nesta postagem relacionamos algumas dicas para o aluno se preparar para a realização da avaliação escolar. A maratona de provas pode fazer com que o estudante se perca em seus estudos. A preparação na véspera da prova é fundamental para um bom aproveitamento do exame:

Como estudar para Provas Sozinho?

  1. Saber o quanto do conteúdo foi alcançado com os estudos e rever alguns pontos e notas de aulas.
  2. Reserve tempo suficiente para revisar seus materiais de estudo.
  3. Em geral, os alunos se saem melhor nas questões objetivas quando se preparam como se fosse uma prova discursiva. Tente redigir texto sobre assuntos fundamentais;
  4. Para melhor memorização da memória, tenha uma boa noite de sono na noite anterior; evite a maratona ou sessões de estudo a noite toda.
  5. Não esqueça de comer! Inclua proteínas e evite quantidades excessivas de açúcar e cafeína.
  6. Seja confiante em sua capacidade de ter sucesso! Seja positivo.
  7. Pratique previamente técnicas de relaxamento (como respiração profunda) se você for propenso a ansiedade.
  8. Sente-se em seu assento habitual de estudo para revisar se possível, mas sente-se onde você possa evitar distrações.
  9. Separe todos os materiais necessários, ou seja, lápis, canetas, relógio, etc permitidos para a prova.
  10. Saiba exatamente quanto tempo você precisa para concluir o exame. Faça simulações.
  11. Revise tópicos importantes.
  12.  Planeje como você abordará o exame. Prefira questões fáceis primeiro.
Preparar um Cronograma de Estudos não é uma tarefa fácil. Se o seu objetivo for montar um cronograma de estudos para faculdade, cronograma para o ENEM, cronograma de estudos para o vestibular, cronograma de estudos para concurso, cronograma de estudos para oab ou para qualquer outro motivo uma coisa é certa. Comece agora!



7 maneiras de elaborar um Cronograma de Estudos eficaz

1 - Para se preparar para uma prova planeje um cronograma de atividades equilibradas. 


A vida do estudante tem muitos aspectos que são muito importantes para o sucesso. Você deve considerar isso em seu plano de estudo Alguns aspectos têm requisitos de tempo fixo e alguns são flexíveis. Os mais comuns que você deve considerar são: alimentação, organização, aulas, trabalho, espiritualidade, dormir, recreação, estudo, relaxamento, socialização


2 - Estude em um horário regular e em um lugar regular quando estiver se preparando para uma prova. 

Não há um modelo de cronograma de estudos perfeito. Tudo é adaptação. Estabelecer hábitos de estudo é extremamente importante. Saber o que você vai estudar e economizar muito tempo fazendo decisões e retrair os seus passos para obter os materiais necessários, etc.  Evite generalizações na sua agenda como “estudo”. Faça uma planilha de horarios.

3 - Estude assim que possível após a aula. 

Uma hora de estudos logo após a aula fará o mesmo efeito de várias horas alguns dias depois. Faça um mapa de estudos. Revise notas de aula enquanto elas ainda estão frescas em sua mente. Elabore uma grade de estudos e aproveite enquanto a sua memória ainda é precisa.

4 - Use horas estranhas durante o dia .  

Criar um cronograma exige criatividade. Use Períodos livre dispersos de 1 a 2 horas entre as aulas ou trabalho que são facilmente desperdiçados. Planejando e estabelecendo hábitos de usá-los  irá resultar em tempo livre para recreação em outros momentos da semana. Faça esquemas de estudo e limite seus blocos de tempo de estudo a não mais do que 2 horas em qualquer assunto de cada vez. Depois de  1 a 2 horas de estudo você começa a se cansar rapidamente e sua capacidade de concentrar diminui rapidamente. Fazer uma pausa e depois focar em outro tema fornecerá a mudança necessária para que mantenha sua eficiência.

5 - Providencie uma revisão espaçada para se preparar para a prova.  

Um período semanal regular em que você analisará o estudo realizado em cada um dos seus cursos e certifique-se de estar atualizado. Esta revisão deve ser cumulativa, cobrindo brevemente todo o trabalho feito até agora.

6 - Inclua no seu cronograma o cuidado com a saúde. 

Ao colocar as primeiras coisas em primeiro lugar, você tem certeza de obter o mais importante a cada tempo. Coma refeições bem equilibradas e faça exercícios regularmente. Tire um tempo para boas refeições e exercícios.
Alimentação saudável e exercícios podem melhorar drasticamente sua concentração, humor e aumento seu nível de energia.

7 - Dobrar suas estimativas de tempo. 

A maioria das pessoas tende a subestimar quanto tempo para uma determinada atividade de estudos será necessária. Uma boa regra é estimar quanto tempo você realisticamente acha que vai durar e depois dobrar.
Prova de Matemática, Prova de Português, Prova do ENEM, Conhecimentos Gerais. Provas e mais provas.

Questões sobre o Plano Nacional de Educação (PNE)

Questões sobre o Plano Nacional de Educação (PNE)


1 - Em junho de 2014, o Brasil aprovou seu mais recente Plano Nacional de Educação (PNE), por meio da Lei n o 13.005/2014. A respeito do que versa esse plano, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas:

  • ( ) O objetivo de universalização da alfabetização indica que o Brasil deve erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional em 10 anos.
  • ( ) A meta da Educação Infantil indica que o país deve universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de Educação Infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final de 2024.
  • ( ) Na busca pela valorização docente, o PNE indica que o país deve equiparar o rendimento médio dos professores ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente, até 2020.
  • ( ) Em relação à qualidade, o PNE indica que o Brasil deve fomentá-la, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir a média nacional de 7,0 no IBED para os anos iniciais do Ensino Fundamental até 2024.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
a) V – F – V – F.
b) V – F – F – F.
c) F – V – F – V.
d) F – F – F – V.
e) V – V – V – F.


2 - (PROGEPE 2017)A respeito do Plano Nacional de Educação, considere as seguintes metas:

  • 1. Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do primeiro ano do Ensino Fundamental.
  • 2. Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da Educação Básica, até o último ano de vigência deste PNE.
  • 3. Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos e alunas da Educação Básica.
  • 4. Ampliar o investimento público em educação pública, de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do País no quinto ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.

São metas presentes no Plano Nacional de Educação:
a) 1 e 3 apenas.
b) 1 e 4 apenas.
c) 2 e 3 apenas.
d) 2, 3 e 4 apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.

Publicidade

3 - Quanto ao Plano Nacional de Educação, é correto afirmar:
a) Trata-se de lei que define metas e estratégias para o desenvolvimento da educação nacional, com vigência de 20 anos.
b) A cada cinco anos, ao longo do período de vigência do plano, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira
publicará estudos para aferir a evolução no cumprimento das metas estabelecidas.
c) Institui o Sistema Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os sistemas de ensino.
d) Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem elaborar seus correspondentes planos de educação ou adequar os já existentes, em consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas no PNE, no prazo de até quatro anos da publicação da lei.
e) A meta progressiva do investimento público em educação será avaliada no quarto ano de vigência do PNE e poderá ser ampliada por meio de lei para atender às necessidades financeiras do cumprimento das demais metas

4 - A meta 12 do Plano Nacional de Educação prevê elevar a taxa bruta de matrícula do Ensino Superior para 50% e a taxa bruta para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade de oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público. Assinale a alternativa que corresponde a uma estratégia definida para essa meta.
a) Reduzir o tempo de duração dos cursos de graduação para otimizar as vagas e diminuir os custos da formação inicial, sendo possível complementação da formação por meio de cursos lato sensu e stricto sensu.
b) Ampliar para 50% a oferta de vagas nos cursos noturnos, buscando atender as demandas das classes trabalhadoras que não têm acesso às instituições de ensino superior públicas.
c) Instituir convênios com instituições de ensino superior privadas, para atendimento da demanda reprimida de estudantes entre 18 e 24 anos.
d) Fomentar a oferta de educação superior pública e gratuita prioritariamente para a formação de professores e professoras para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, bem como atender o déficit de profissionais em áreas específicas.
e) Ampliar a oferta de vagas em centros universitários e faculdades, públicas e privadas, investindo na expansão da estrutura física e humana das instituições já existentes.

5 - O financiamento da educação é abordado na meta 20 do Plano Nacional de Educação. Essa meta visa ampliar o investimento público em educação de forma a atingir, no mínimo, o patamar de:
a) 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei e, no mínimo, o equivalente a 8% do PIB ao final do decênio.
b) 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.
c) 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.
d) 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei e, no mínimo, o equivalente a 12% do PIB ao final do decênio.
e) 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência da lei e, no mínimo, o equivalente a 12% do PIB ao final do decênio.

6 - A respeito das metas do PNE e suas estratégias, numere a coluna da direita de acordo com sua correspondência com a coluna da esquerda.

  • 1. Expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecnologias de educação a distância.
  • 2. Ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós-graduação dos professores e das professoras e demais profissionais da educação básica.
  • 3. Ampliar programa permanente de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação profissional para atuar no magistério da educação básica.
  • 4. Elevar o padrão de qualidade das universidades, direcionando a sua atividade, de modo que realizem, efetivamente, pesquisa institucionalizada, articulada a programas de pós-graduação stricto sensu.
( ) Meta 13.
( ) Meta 14.
( ) Meta 15.
( ) Meta 16.

Assinale a alternativa que apresenta a numeração correta da coluna da direita, de cima para baixo.
a) 2 – 4 – 1 – 3.
b) 2 – 3 – 1 – 4.
c) 4 – 1 – 3 – 2.
d) 1 – 4 – 3 – 2.
e) 4 – 1 – 2 – 3.

7 - (Colombo 2016) Considere as seguintes metas:
  • 1. Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender ao menos 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica.
  • 2. Universalizar o Ensino Fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.
  • 3. Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste plano.
  • 4. Assegurar condições, no prazo de 2 anos, para a efetivação da gestão democrática da educação.

São metas do Plano Nacional de Educação (PNE):
a) 1 e 2 apenas.
b) 1 e 3 apenas.
c) 1, 2 e 4 apenas.
d) 2, 3 e 4 apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.

8 - (QuatroBarras/2019) A Lei nº 3.005, de 2014, trata do Plano Nacional de Educação (PNE). A esse respeito, considere as seguintes afirmativas:
1. O Ministério da Educação deverá, até o final do segundo ano de vigência desse PNE, elaborar e encaminhar, ao Conselho Nacional de Educação, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os alunos do Ensino Fundamental.
2. O PNE tem como meta a universalização do Ensino Fundamental de nove anos para toda a população de seis a quatorze anos e a garantia de que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência do PNE.
3. Uma das metas do PNE é a estruturação dos processos pedagógicos de alfabetização, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, de acordo com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, a fim de garantir a alfabetização de todas as crianças até, no máximo, o 2º ano do Ensino Fundamental.
4. Até o final da vigência do PNE, deve-se buscar a universalização para toda a população de quatro a dezessete anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação do acesso à Educação Básica em instituições de atendimento educacional especializado.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

9 - (QuatroBarras/2019) Em relação às metas e estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE), assinale a alternativa correta.
a) As redes de Educação Básica devem disciplinar grêmios e associações de pais, assegurando-lhes espaços adequados e condições de funcionamento nas escolas e fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos escolares, por meio das respectivas representações.
b) No último ano de vigência do PNE (2024), todos os estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ter alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 80%, pelo menos, o nível desejável.
c) A oferta de educação de jovens e adultos, nas etapas de Ensino Fundamental e Médio, nos estabelecimentos penais que apresentarem solicitação via projeto pedagógico, deve ser assegurada.
d) Os professores da Educação Básica devem ter formação em nível de pós-graduação e, até 2024, o estabelecimento de lotação do professor deve oferecer formação continuada na área de atuação do docente.
e) A existência de planos de carreira para os profissionais da Educação Básica e Superior pública e privada de todos os sistemas de ensino, tomando como referência o piso salaria l nacional profissional, deve ocorrer até o final da vigência do PNE.

10. São diretrizes do Plano Nacional de Educação (PNE):
1. Erradicação do analfabetismo.
2. Universalização do atendimento domiciliar especializado para estudantes com
deficiências.
3. Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania
e na erradicação de todas as formas de discriminação.
4. Melhoria da qualidade da educação.
5. Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
a. São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
b. São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5.
c. São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.
d. São corretas apenas as afirmativas 1, 3, 4 e 5.
e. São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5.


Leia também:
Questões sobre o Plano Nacional de Educação (PNE)

Gabarito das Questões sobre o Plano Nacional de Educação (PNE)


1.E
2.D
3.E
4.D
5.C
6.C
7.E
8.B
9.B
10.D


Estratégias para Compreensão de Textos

Para o professor de Língua Portuguesa e Literatura as atividades de compreensão e interpretação de texto estão mais presentes em sua prática escolar, contudo leitura e compreensão de textos é inerente a qualquer área do conhecimento, inclusive exatas, seja na educação infantil, ensino fundamental, ensino médio ou superior. Como compreender um texto? Nesta postagem confira algumas estratégia para a elaboração de um plano de aula sobre compreensão de texto.

30 Estratégias para Compreensão de Textos

Reconhecimento do texto, previsão e conhecimento prévio

  1. Forneça informações e idéias para o aluno construir significado a partir de alguns de textos e tipos de texto familiar, desconhecidos
  2. Peça ao aluno para identificar algumas questões explícitas do texto como: quem / o quê / quando / porquê / como.
  3. Refletir sobre a utilidade do texto selecionado e o seu propósito específico
  4. Basear-se no conhecimento prévio de tópicos familiares e estruturas do texto.
  5. Integração de novas ideias e informações com a compreensão existente.

Leia também: 7 Dicas para Elaborar Exercícios de Interpretação de Texto

 Leitura crítica e análise de texto

  1. Identificar os propósitos e públicos-alvo de uma série de textos familiares e alguns desconhecidos
  2. Reconhecer que as palavras e as escolhas gramaticais podem ter matizes particulares de significado em diferentes contextos
  3. Reconhecer que os autores selecionam estrutura, tom e linguagem para atingir fins específicos
  4. Interpretar e extrapolar informações a partir de textos que contenham gráficos e diagramas
  5. Entender por que é importante identificar quem criou um texto e começar a considerar
  6. a validade da fonte
  7. Identificar alguns significados implícitos e desenhar inferências simples , por exemplo, inferir a posição de um autor de um desenho animado usado para ilustrar um texto
  8. Selecione e aplique uma série de estratégias de leitura conforme apropriado para o propósito e tipo

Publicidade

Navegação de texto

  1. Reconhecer as estruturas e características distintivas de uma gama de tipos de texto familiares
  2. Começar a usar o conhecimento de estruturas de texto e recursos, por exemplo, cabeçalhos, parágrafos ou pontuação, como uma ajuda para digitalização

Estratégias de Compreensão

  1. Usando uma gama de estratégias para facilitar a compreensão, por exemplo, criando uma imagem mental, lendo adiante ou sublinhando as sentenças do tópico
  2. Auto-monitoramento de leitura para sentido e precisão , e selecionando a partir de uma série de estratégias para ajudar compreensão quando o significado é perdido, por exemplo, auto-correção ou leitura em voz alta
  3. Usando estratégias explícitas para fazer conexões entre informações e idéias durante a leitura, por exemplo fazendo anotações de margem ou diagramas simples

Decodificação e fluência na compreensão do texto

  1. Ler textos familiares fluentemente e automaticamente, reconhecendo a maioria das palavras do dia-a-dia e algumas vocabulário especializado
  2. Reconhecer quando palavras desconhecidas são essenciais para o significado e usar uma variedade de estratégias de decodificação para identificá-los, por exemplo, silabificação, padrões de ortografia ou analogia

Padrões de sintaxe e linguagem fundamentais para a compreensão do texto

  1. Prever o significado de palavras desconhecidas considerando as palavras, frases e frases; verificação cruzada de que isso faz sentido sintático e semântico
  2. Reconhecendo frases introdutórias que indicam uma opinião ou um fato está sendo oferecido
  3. Identificar alguns dispositivos de sinalização, incluindo aqueles que se referem a palavras ou frases em cláusulas anteriores ou frases, por exemplo, embora, quando, se, enquanto, em segundo
  4. Reconhecer que a pontuação é usada para esclarecer o significado e reduzir a ambiguidade
Estratégias para Compreensão de Textos


Complexidade do texto

  1. Compreender textos familiares de complexidade limitada que podem incorporar gráficos, tabelas e gráficos
  2. Compreender os textos que requerem a integração de várias ideias e informações e algumas
  3. inferência
  4. Identificar as principais mensagens em textos que incorporam algumas frases complexas e compostas e cláusulas dependentes, e que podem usar alguma linguagem abstrata e a voz passiva
  5. Compreender textos sobre assuntos familiares que incorporam alguma linguagem abstrata e uso do voz passiva

Estratégias para compreender o que está lendo 

Aqui está uma lista de algumas das estratégias de compreensão que os leitores usam para ajudá-los a entender o que leem.

  1. • Vincule o que estiver lendo a coisas que já saiba (faça conexões)
  2. • Adivinhe o que está por vir (faça previsões)
  3. • Faça uma imagem em sua mente (visualize)
  4. • Leia nas entrelinhas (faça inferências)
  5. • Faça perguntas a você mesmo (questionamento)
  6. • Volte e releia (peça esclarecimentos)
  7. • Resuma enquanto estiver lendo e procure a grande ideia ou mensagem (ideia principal)

Use outras maneiras de entender, por exemplo, trabalhando a sequência de eventos ou as relações em uma história (analisar e sintetizar). 

Descreva como você usa algumas ou todas as estratégias desta lista. Para cada estratégia que você usa descubra qual é a estratégia mais eficiente.

 O que Leitores com dificuldades precisam saber?

Leitores com dificuldades precisam de:

• conhecimento dos diferentes tipos de textos e das melhores estratégias de leitura.

• praticar a leitura em contextos específicos do assunto que estiver pesquisando.

• oportunidades para praticar a leitura em locais e condições apropriadas.

• oportunidades para falar sobre sua leitura e pensamento.

• conhecimento prévio em áreas temáticas.

• vocabulários vasto com palavras para ler textos de assuntos específicos.

• estratégias de visualização de textos determinando as mais importantes ideias e as relações entre eles, lembrando o que leram e fazendo conexões e inferências.

• estratégias para se tornarem leitores independentes em qualquer contexto


Referências
https://www.qcaa.qld.edu.au/downloads/portal/syllabuses/snr_literacy_short_course_18_syll.pdf

STF decide sobre Idade mínima para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental

Idade mínima para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental - 3


Segundo o informativo nº 909 do Supremo Tribunal Federal são constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.

Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto e por maioria, julgou procedente ação declaratória de constitucionalidade (ADC) e improcedente arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), que discutiam a validade de exigências previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996) e em resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) (Informativos 879, 903 e 904).

STF decide sobre Idade mínima para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental


Quanto à ADC, o Colegiado concluiu que os artigos 24, II, 31 e 32, “caput” (1), da Lei 9.394/1996 — que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB) — não conflitam com os dispositivos constitucionais que regulam o tema. Fixou a seguinte tese: é constitucional a exigência de seis anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário.

No que se refere à ADPF, o Tribunal também reputou constitucionais os artigos 2º e 3º (2) da Resolução 1/2010 e os artigos 2º, 3º e 4º (3) da Resolução 6/2010, ambas da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), as quais definem as diretrizes operacionais para a implantação do ensino fundamental com duração de nove anos e para a matrícula no ensino fundamental e na educação infantil, respectivamente.

Ademais, entendeu que as resoluções impugnadas não violam os princípios da isonomia, da proporcionalidade e do acesso à educação, ao estabelecerem um critério único e objetivo para o ingresso nas séries iniciais da educação infantil e do ensino fundamental da criança que tenha, respectivamente, quatro e seis anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula.

Publicidade

A efetividade das normas consagradoras do direito à educação encontra suporte nas alterações promovidas pelo constituinte derivado, por meio das Emendas Constitucionais 53/2006 e 59/2009. Esses regramentos ampliaram a educação obrigatória, a partir dos quatro anos de idade, e substituíram o critério da etapa de ensino pelo da idade.

O importante é que seja assegurado ao aluno entre quatro e dezessete anos o acesso à educação, de acordo com a sua capacidade. A faixa etária não é estabelecida entre as etapas do sistema de ensino. Desse modo, a regulamentação questionada, relativa à transição entre as etapas de ensino, está em conformidade com o art. 208, I e IV (4), da Constituição Federal (CF).

Cabe ao Poder Público desenhar as políticas educacionais, respeitadas as balizas constitucionais. O corte etário, apesar de não ser a única solução constitucionalmente possível, insere-se no espaço de conformação do administrador, sobretudo em razão da “expertise” do CNE e da ampla participação técnica e social no processo de edição das resoluções, em respeito à gestão democrática do ensino público [CF, art. 206, VI (5)].

Por fim, considerou que as regras objetivas relativas a datas e números asseguram notável segurança jurídica, porque a expressão “anos completos” é inerente a qualquer referência etária, sem que o esforço exegético de se complementar o que está semanticamente definido possa desvirtuar a objetivação decorrente do emprego de número. O acesso aos níveis mais elevados de ensino [CF, art. 208, V (6)], segundo a capacidade de cada um, pode justificar, eventualmente, o afastamento de regras em casos bastante excepcionais, a critério exclusivo da equipe pedagógica diretamente responsável pelo aluno, o que se mostra consentâneo com a valorização dos profissionais da educação escolar e o apreço à pluralidade de níveis cognitivos e comportamentais em sala de aula.

Vencidos, em parte na ADC e integralmente na ADPF, os Ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Dias Toffoli e Celso de Mello. Para eles, seria constitucional a Lei 9.394/1996, no que fixa a idade de seis anos para o início do ensino fundamental, inadmitida a possibilidade de corte etário obstativo de matrícula da criança no ano em que completa a idade exigida.

(1) Lei 9.394/1996: “Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns (...) 
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; 
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; 
c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino”; (...) Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: 
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; 
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional; 
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral; 
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas; 
V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança; e Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (...).”

(2) Resolução 1/2010: “Art. 2º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter 6 (seis) anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula; e Art. 3º As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data definida no artigo 2º deverão ser matriculadas na Pré-Escola.”
(3) Resolução 6/2010: “Art. 2º Para o ingresso na Pré-Escola, a criança deverá ter idade de 4 (quatro) anos completos até o dia 31 de março do ano que ocorrer a matrícula; Art. 3º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter idade de 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula; e Art. 4º As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data definida no artigo 3º deverão ser matriculadas na Pré-Escola.”
(4) CF: “Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (...) IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.”
(5) CF: “Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei.”
(6) CF: “Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um.”

ADPF 292/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 1º.8.2018. (ADPF-292)
ADC 17/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em 1º.8.2018. (ADC-17)

Fonte: Informativo 909

Veja também

Revistas Científicas de Filosofia e Ciências Sociais

Revistas Científicas de Filosofia e Ciências Sociais

Revistas Científicas de Filosofia e Ciências Sociais



Cognitio: Revista de Filosofia
Editada pelo Centro de Estudos de Pragmatismo do Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Cognitio-Estudos: revista eletrônica de filosofia
ISSN 1809-8428: A Cognitio-Estudos, editada pelo Centro de Estudos de Pragmatismo do Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, da PUC-SP
PARALAXE ISSN 2318-9215
A Paralaxe é uma revista eletrônica com periodicidade anual. Tem como objetivo promover e divulgar pesquisas produzidas no campo dos estudos em Estética e Filosofia da Arte
Poliética. Revista de Ética e Filosofia Política. ISSN 2318-3160
A Revista Polietica é uma revista eletrônica, semestral, do Grupo de Pesquisa em Ética e Filosofia Política da PUC-SP
ethic@ - An international Journal for Moral Philosophy
ethic@ - An international Journal for Moral Phylosophy - uma publicação do Núcleo de Ética e Filosofia Política da UFSC
Periagoge
A Revista Periagoge trata-se de uma iniciativa do corpo docente de Filosofia da Universidade Católica de Brasília
Veritas (Porto Alegre)
Revista de Filosofia da PUCRS
Aisthe
Revista da linha de estética
do Programa de Pós-graduação em Filosofia UFRJ
Anais de Filosofia Clássica  Laboratório OUSIA de Estudos Clássicos da UFRJ
Analytica. Revista de Filosofia  UFRJ

Aurora. Revista de Arte, Mídia e Política
Aurora é uma publicação eletrônica do NEAMP – Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC–SP

Ponto-e-Vírgula : Revista de Ciências Sociais
Ponto-e-Vírgula é revista eletrônica semestral do Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.

Em Debate
A revista EM DEBATE, vinculada ao Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO/UFSC)

Em Tese
Revista digital semestral editada por discentes do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Civitas – Journal of Social Sciences

Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social
Publicação quadrimestral do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu) do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação e Sociologia e Antropologia (PPGSA) do IFCS/UFRJ.

Revista Enfoques
A Revista Enfoques é a publicação semestral do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Revista de Cultura Teológica
A Revista de Cultura Teológica, do Programa de Estudos Pós Graduados em Teologia da PUC/SP

REVER - Revista de Estudos da Religião
ISSN 1677-1222: A REVER - Revista de Estudos da Religião é uma publicação quadrimestral do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Revista do Núcleo de Estudos de Religião e Sociedade (NURES). ISSN 1981-156X
Criado em 1995, o Nures - Núcleo de Estudos de Religião e Sociedade

ReBiblica  PUCRS
Revista Brasileira de Interpretação Bíblica

Teocomunicação
Revista da Teologia da PUCRS





10 Exercícios de Português sobre o emprego de Maiúscula e Minúsculas

Exercícios de Português sobre o emprego de maiúscula e minúsculas. 

Exercícios para treinar as aulas de língua portuguesa e gramática, para exames, provas e testes.

Exercícios de Português sobre o emprego de Maiúscula e Minúsculas


1. (Bombinhas 2016) Assinale a alternativa na qual a letra maiúscula foi usada de modo correto.
a. ( ) Ela vivia ao Léu.
b. ( ) Ele e Eu, somos inseparáveis!
c. ( ) No Carnaval, a cidade ficava colorida!
d. ( ) Os Silvas eram muito conhecidos nesta cidade.
e. ( ) O Sudeste da Europa está sendo atingido pelo frio.


2. (Bombinhas 2015) Assinale a frase em que a inicial maiúscula está corretamente empregada.
a. ( ) Natal e Páscoa são festas cristãs.
b. ( ) Percorri o país de Norte a Sul.
c. ( ) Na Segunda- feira sairá o resultado do concurso.
d. ( ) Na Primavera e no Verão os dias são mais bonitos.
e. ( ) Nos meses de Janeiro e Fevereiro temos férias escolares.


3. (Tijucas 2013) Assinale a alternativa correta quanto ao uso de letras maiúsculas.
a. ( ) páscoa / Márcio dos santos / ONU / Florianópolis / papa francisco
b. ( ) Páscoa / Márcio dos Santos / ONU / Florianópolis / Papa Francisco
c. ( ) Páscoa / Márcio dos santos / ONU / florianópolis / papa Francisco
d. ( ) páscoa / Márcio Dos Santos / onu / Florianópolis / Papa francisco
e. ( ) Páscoa / márcio dos santos / onu / florianópolis / papa Francisco


10 Exercícios de Português sobre o emprego de Maiúscula e Minúsculas



4. (Tijucas 2012) Assinale a frase correta quanto ao emprego de maiúsculas.
a. ( ) Moro na rua luís de souza.
b. ( ) Eu amo esta Terra onde nasci.
c. ( ) Na páscoa e no natal visito minha família.
d. ( ) Vou à praia toda Sexta-Feira de Janeiro.
e. ( ) Gosto de ler o jornal Diário Catarinense.




5. (COMCAP 2012)  Assinale a alternativa em que todas as maiúsculas e
minúsculas estão corretamente empregadas.
a. (  ) V. Exª ainda reside na rua Victor Meirelles?
b. ( ) Você paga pontualmente o inss e o fgts?
c. ( ) O Rio de minha Cidade tem águas límpidas.
d. ( ) Minha Família sempre se reúne na páscoa e no natal.
e. ( ) Gosto de ler a Página de Esportes do diário catarinense.


6. (Palhoça 2015) Assinale a alternativa correta quanto ao emprego da inicial maiúscula.
a. ( ) Apresentaram a sua excelência, o Prefeito, as reivindicações da categoria.
b. ( ) Na Idade Média, o homem não se preocupava com a natureza.
c. ( ) Nos meses de Janeiro e Fevereiro, há recesso escolar.
d. ( ) No Jornal daquela cidade, as notícias são veiculadas de maneira Imparcial.
e. ( ) Estamos aptos à vaga. todos competimos igualmente para o Cargo

7. Sobre o emprego de maiúsculas assinale a alternativa INCORRETA
a) Nos antropônimos, reais ou fictícios. Exemplos: Pedro Silva, Cinderela, D. Quixote.
b) Nos topônimos, reais ou fictícios. Exemplos: Rio de Janeiro, Rússia, Macondo.
c) Nos nomes mitológicos. Exemplos: Dionísio, Netuno.
d) Nos nomes de festas e festividades. Exemplos: Natal, Páscoa, Ramadã.
e) Estado, Nação, Pátria, União quando são empregados em sentido geral ou indeterminado.

8. Assinale a alternativa em que há erro no emprego da minúscula
a) O presidente da República determinou ao ministro da Educação que fosse estabelecido um plano estratégico de combate à discriminação racial nas escolas.
b) O advogado-geral da união defende a prática de conciliação como forma de solucionar conflitos de execução fiscal envolvendo cobrança de impostos no país.
c) Cabe ao técnico de planejamento e pesquisa analisar o escopo da solicitação do serviço e definir recursos materiais para sua execução.
d) A obtenção dos títulos de mestre e doutor é recomendada para quem pretende seguir a carreira de professor universitário ou pesquisador.

9. Devem ser usadas as letras iniciais minúsculas, exceto:
a) Nos nomes das estações do ano, dos meses e dos dias da semana: "primavera", "janeiro", "domingo";
b) Nos nomes de acidentes geográficos: "baía de Guanabara", "rio Amazonas", "ilha de Marajó";
c) Nos nomes de regiões: "baixada santista", "recôncavo baiano", "Vale do Paraíba";
d) Nos nomes das profissões, funções e cargos: "princesa", "diretor", "professor", "presidente". Nos nomes de altos cargos, devem ser usadas as iniciais maiúsculas: "o Presidente da República";

10) O uso da letra minúscula inicial está ERRADO

a) Ordinariamente, em todas as palavras da língua nos usos correntes.
b) Nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira, sexta-feira, novembro, dezembro, verão, outono
c) Nos nomes de festas e festividades. Exemplos: natal, páscoa, ramadã.
d) Nos usos de fulano, sicrano e beltrano.
Publicidade

Gabarito das questões
1.D
2.A
3.B
4.E
5.A
6.B
7.E
8.B
9.C
10.C



Resoluções CNE/CEB de 1997 a 2018

Resoluções CNE/CEB de 1997 a 2018

Resoluções CNE/CEB 2018


  • Resolução CNE/CEB nº 1, de 15 de janeiro de 2018 - Institui Diretrizes Operacionais para os procedimentos administrativos de registro de dados cadastrais de pessoa natural referentes aos estudantes e profissionais de educação que atuam em instituições públicas e privadas de ensino em todo o território nacional.

Resoluções CNE/CEB 2016


  • Resolução CNE/CEB nº 1, de 2 de fevereiro de 2016 - Define Diretrizes Operacionais Nacionais para o credenciamento institucional e a oferta de cursos e programas de Ensino Médio, de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e de Educação de Jovens e Adultos, nas etapas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, na modalidade Educação a Distância, em regime de colaboração entre os sistemas de ensino.
  • Resolução CNE/CEB nº 2, de 10 de maio de 2016 - Define Diretrizes Nacionais para a operacionalização do ensino de Música na Educação Básica.
  • Resolução CNE/CEB nº 3, de 13 de maio de 2016 - Define Diretrizes Nacionais para o atendimento escolar de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas.
  • Resolução CNE/CEB nº 4, de 30 de maio de 2016 - Dispõe sobre as Diretrizes Operacionais Nacionais para a remição de pena pelo estudo de pessoas em privação de liberdade nos estabelecimentos penais do sistema prisional brasileiro.

Resoluções CNE/CEB 2014


  • Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de dezembro de 2014 - Atualiza e define novos critérios para a composição do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, disciplinando e orientando os sistemas de ensino e as instituições públicas e privadas de Educação Profissional e Tecnológica quanto à oferta de cursos técnicos de nível médio em caráter experimental, observando o disposto no art. 81 da Lei nº 9.394/96 (LDB) e nos termos do art. 19 da Resolução CNE/CEB nº 6/2012.

Resoluções CNE/CEB 2013



Resoluções CNE/CEB 2012



Resoluções CNE/CEB 2011




Resoluções CNE/CEB 2010




Resoluções CNE/CEB 2009



  • Resolução CNE/CEB nº 1, de 15 de maio de 2009 - Dispõe sobre a implementação da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Médio, a partir da edição da Lei nº 11.684/2008, que alterou a Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
  • Resolução CNE/CEB nº 2, de 28 de maio de 2009 - Fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, em conformidade com o artigo 6º da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, e com base nos artigos 206 e 211 da Constituição Federal, nos artigos 8º, § 1º, e 67 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no artigo 40 da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007.
  • Resolução CNE/CEB nº 3, de 30 de setembro de 2009 - Dispõe sobre a instituição Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC), em substituição ao Cadastro Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio (CNCT), definido pela Resolução CNE/CEB nº 4/99.
  • Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009 - Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial.
  • Resolução CNE/CEB nº 5, de 17 de dezembro de 2009 - Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

Resoluções CNE/CEB 2008




Resoluções CNE/CEB 2006


  • Resolução CNE/CEB nº 1, de 31 de janeiro de 2006 - Altera a alínea “b” do inciso IV do artigo 3º da Resolução CNE/CEB nº 2/98, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.
  • Resolução CNE/CEB nº 2, de 10 de março de 2006 - Altera o artigo 3º e suprime o artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 2/2004, que define normas para declaração de validade de documentos escolares emitidos por escolas de educação básica que atendem a cidadãos brasileiros residentes no Japão.
  • Resolução CNE/CEB nº 3, de 15 de agosto de 2006 - Aprova as Diretrizes e procedimentos técnico-pedagógicos para a implementação do ProJovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens, criado pela Lei nº 11.129, de 30/7/2005, aprovado como “Projeto Experimental”, nos termos do art. 81 da LDB, pelo Parecer CNE/CEB nº 2/2005.
  • Resolução CNE/CEB nº 4, de 16 de agosto de 2006 - Altera o artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 3/98, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.

Resoluções CNE/CEB 2005




Resoluções CNE/CEB 2004



Resoluções CNE/CEB 2003


  • Resolução CNE/CEB n.º 1, de 20 de agosto de 2003 - Dispõe sobre os direitos dos profissionais da educação com formação de nível médio, na modalidade Normal, em relação à prerrogativa do exercício da docência, em vista do disposto na lei 9394/96, e dá outras providências.

Resoluções CNE/CEB 2002




Resoluções CNE/CEB 2001




Resoluções CNE/CEB 1999



Resoluções CNE/CEB 1998




Resoluções CNE/CEB 1997



Pareceres e Resoluções CNE/CEB sobre Educação de Jovens e Adultos EJA

Educação de Jovens e Adultos
  1. Parecer CNE/CEB nº 11/2000, aprovado em 10 de maio de 2000
    Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
  2. Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de julho de 2000
    Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
  3. Parecer CNE/CEB nº 36/2004, aprovado em 07 de dezembro de 2004
    Aprecia a Indicação CNE/CEB 3/2004, que propõe a reformulação da Resolução CNE/CEB 1/2000, que define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
  4. Parecer CNE/CEB nº 20/2005, aprovado em 15 de setembro de 2005
    Inclusão da Educação de Jovens e Adultos, prevista no Decreto nº 5.478/2005, como alternativa para a oferta da Educação Profissional Técnica de nível médio de forma integrada com o Ensino Médio.
  5. Resolução CNE/CEB nº 4, de 27 de outubro de 2005
    Inclui novo dispositivo à Resolução CNE/CEB 1/2005, que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação para o Ensino Médio e para a Educação Profissional Técnica de nível médio às disposições do Decreto nº 5.154/2004.
  6. Parecer CNE/CEB nº 29/2006, aprovado em 5 de abril de 2006
    Reexame do Parecer CNE/CEB nº 36/2004, que aprecia a Indicação CNE/CEB nº 3/2004, propondo a reformulação da Resolução CNE/CEB nº 1/2000, que definiu Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
  7. Parecer CNE/CEB nº 23/2008, aprovado em 8 de outubro de 2008
    Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos – EJA nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância.
  8. Parecer CNE/CEB nº 6/2010, aprovado em 7 de abril de 2010Reexame do Parecer CNE/CEB nº 23/2008, que institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos – EJA, nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância.
  9. Resolução CNE/CEB nº 3, de 15 de junho de 2010 
    Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância.
  10. Parecer CNE/CEB nº 11/2011, aprovado em 5 de outubro de 2011 
    Consulta formal sobre a possibilidade de a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) obter credenciamento específico para oferta e certificação de Ensino Fundamental e Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
  11. Parecer CNE/CEB nº 4/2013, aprovado em 13 de março de 2013 
    Consulta sobre a legitimidade e competência para não autorizar a oferta de exames de Educação de Jovens e Adultos (EJA) por escolas privadas.
  12. Parecer CNE/CEB nº 1/2016, aprovado em 27 de janeiro de 2016 – Proposta de desenvolvimento de experiência pedagógica para oferta de programa nacional de Educação de Jovens e Adultos (EJA), nos níveis do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, em escolas do SESI.


* Os anos não citados ocorrem devido a ausência de Resoluções no POstal do MEC no momento do acesso





Resoluções CNE/CEB de 1997 a 2018




Veja também
Assuntos relacionados


  • Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica atualizada 
  • Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental 
  • PCNS da educação infantil 
  • Organização curricular da educação infantil 
  • Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica 
  • proposta curricular educação infantil 2016 
  • DCN educação infantil 
  • Ministério da Educação Legislação 
  • Resolução CNE/CEB para concurso público ( Edital )

Feitos de Mem de Sá - José de Anchieta

José de Anchieta foi um padre jesuíta espanhol dramaturgo, o primeiro gramático. Em 1566, foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. (Wikipedia)

Segundo o Site Wikipedia De gestis Mendi de Saa" ("Os feitos de Mem de Sá") impressa em Coimbra em 1563, retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo governador-geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara onde Nicolas Durand de Villegagnon fundara a França Antártica. Esta epopeia renascentista, escrita em latim e anterior à edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, é o primeiro poema épico da América, tornando-se, assim, o primeiro poema brasileiro impresso, e, ao mesmo tempo, a primeira obra de Anchieta publicada.

FEITOS DE MEM DE SÁ

José de Anchieta

PADRE JOSÉ DE ANCHIETA
DE GESTIS MENDI DE SAA
PRAESIDIS IN BRAIILLIA
JESUS

A MEM DE SÁ GOVERNADOR

Epístola Dedicatória


Eis que vês, potentado supremo, quão grande façanha
realizou a força do onipotente Deus.

O indômito Brasil já seus anchos orgulhos
depôs, e tombou, rendido às tuas armas.

O que dantes, furioso, semeava ruínas e guerras,
aprecia os fatores de redentora paz.

O que dantes vivia escondido em sombrias florestas
aos templos do Senhor, já pressuroso corre.

O que há pouco, cão feroz, roía ossos humanos,
sacia com o Pão dos Anjos o coração já manso.

O que há pouco de fauces sedentas, sugava o sangue fraterno
voa a desalterar-se nos mananciais divinos.

Foi a própria Onipotência que robusteceu os teus golpes
e prostrou a teus pés as inimigas hostes

Vês como de nada vales a esses ninhos altivos de pedra
toda a estratégia das posições achadas.

Inexpugnáveis embora à força humana as ameias erguidas
pelo hábil francês no cimo dessa penha,

Aquele que rege com seu braço o universo estrelado
e pode com um aceno volvê-lo e revolvê-lo,

franqueou-te, ó vencedor, o forte de rochas horrendas
e a soberba de sua mole sob os teus pés meteu,

nem sofreu te barrassem o passo as flechas aladas
nem as balas que vomita a poderosa pólvora,

nem tão os pelouros que pelos ares arrota
com tremendo fragor o ventre do canhão.

Quando já te faltavam as forças e tua esquadra cedia
desfalcada pelo baque de muitos de teus heróis.

Quando já se acabara a pólvora que alimenta o incêndio
e que ao fogo voraz vem provocar as iras:

Jesus compadecido olhou-te das alturas celestes
e veio ele próprio a estender-te a mão.

Rendido às tuas preces, ele ouviu teus pedidos,
incutiu terror e pôs o inimigo em fuga.

Já no intimo peito podes fruir gozos nunca provados:
é a quadra formosa duma alegria nova.

Já podes exultar entre os vivas deste egrégio triunfo:
esta palma ergue-te o nome ao apogeu da glória.

Glorifica ao Senhor, que com seu braço invencível
esmagou os inimigos e seus fortins ativos.

Só a ele pertence derrubar sanguinários tiranos
calcar ao chão os maus, erguer ao céu os bons.

Aspira aos fulgores, que inundam o palácio celeste,
se é que o amor da glória teu coração enleia.

Bem sabes que o brilho fementido do mundo
foge ligeiro e leve, e se desfaz na fuga.

Como se esvai pelas fendas da jarra partida
o líquido, e baldado é procurar enchê-la.

Assim a honra fugaz, como água, flui e se escapa
por entre os dedos que segurá-la tentam.

Se te deres ao lazer silencioso de revolver em teu peito
as empresas heróicas dos generais famosos,

verás quantos triunfos varreu a lúgubre morte
para as águas imundas da infernal voragem.

É que ensoberbecidos negaram ao Senhor sempiterno,
que tudo fez no mundo, glórias que alcançaram.

No tênue respiro da vida sorveram vãos elogios
e todo o seu cuidado foi sua própria fama.

Se és prudente, pede a Deus uma única glória,
a que só vem de Deus, a verdadeira glória!

Se és prudente, rejeita os enganos do mundo que gira,
não te acorrente com seus grilhões os pés.

Com suas fraudes enleia, com a face ingênua nos mente:
e não nos deixa erguer a fronte altiva ao céu.

Depois que escalaste as árduas muralhas do forte
e a glória de teus louros refulge mais que nunca:

não te envolva em suas malhas o soberbo tirano,
e, apenas vencedor, te calque aos pés vencido.

Ouve pois as palavras que Jesus, o mestre divino
te dirige com lábios que enganar não podem:

“Se queres ser perfeito e galgar as alturas celestes,
vai, vende o que tens, e dá-o todo aos pobres!”

Vê como ele próprio, porque seus pés são ligeiros,
voa como um gigante que não afrouxa o passo:

para que, apressado, seguindo-lhe a esteira sagrada,
sacudas pesos mortos e partas livre e leve.

Se te sustarem o passo riquezas e glórias do mundo,
Jesus, que não para, te escapará dos olhos.

É certo que a soberba, com seus afãs só compra o inferno
e com pouco trabalho o humilde compra o céu!

Se pois com justo ódio desejas vencer o orgulho mundano
a Cristo atribui todas as tuas glórias!

Do fundo do coração ao Pai celeste dá graças
e rende a Jesus as merecidas honras.

Foi ele quem quis que fosses tu nas regiões brasileiras
primeiro propagador de seu bendito nome.

O primeiro a vingar os ultrajes do gentio inumano
e dobrar-lhe a cerviz às tuas ordens justas.

Ao peso do teu braço, os altivos Brasis esqueceram
seus ferozes costumes e seus sangrentos ritos.

Eia! novo ardor, ancião! extermina as maldades,
submete ao Deus eterno essas nações selvagens.

No céu te espera um trono, grande Mem; para aí te convidam
os fulgurantes templos do firmamento azul.

Aquele, cujo nomes ensinas a louvar em plagas incultas,
até aos astros levantará teu nome.

Entre laudas divinas dar-te-á eterna coroa
e o ilumina cetro de seu celeste reino.

Enquanto a fé e a lei de Deus e nome de Cristo
forem reverenciados no hemisfério austral,

os sucessores que empunharem teu bastão glorioso
seguirão tua trilha sem arredar passo.

Vive pois feliz, governando as plagas Brasílicas
numa estrada de glória que teus vindouros sigam,

para que Cristo expulse o tirano infernal, das terras do Sul
e nelas implante os eu reinado eterno!


LIVRO 1


As glórias do Pai celeste e sua força divina
teu nome, ó Cristo Rei, e teus feitos gloriosos
começarei a cantar. Num arrojo gigante,
empreenderei a celebrar em versos tuas magnas empresas.
Pois há pouco tua força descerrou uma aurora
por entre a escuridão das regiões brasileiras,
que o úmido Sul encharca com furiosas rajadas.
Esse vento impele nimbos e arma tremendas borrascas
nos altos mares, e cobre com véus de névoas os campos;
fustigando com frio a nudeza das gentes.
Já os astros que orvalharam o mundo oprimido
brilham de luz mais fulgente, e o sol conduz o seu carro
no límpido espaço e, com novos raios, do céu afugenta
nuvens densas, dissipa névoas e seca o solo embebido
de longas chuvas e, todo-luz em seu disco brilhante
enche de claridade as trevas do mundo.
Tu, ó Jesus, ó clara luz do firmamento sereno,
ó fulgor sem ocaso, ó imagem do brilho paterno,
ilumina-me a mente cega, aclara-me a alma
com esplêndidos lampejos. Tu és a fonte ubertosa
donde, em torrentes, se inebriam os habitantes celestes.
Fecunda meu coração de copioso orvalho e derrama
sobre mim fontes vitais, ondas de vida:
Inunda meu peito árido com teus raios divinos:
Assim cantarei os prodígios que teu braço potente
há pouco operou em favor da gente brasileira,
quando fez raiar, rasgando as trevas do inferno,
na arcada celeste, esplendoroso arrebol.
     Envolta, há séculos, no horror da escuridão idolátrica,
houve nas terras do Sul uma nação que dobrara a cabeça
ao jugo do tirano infernal, e levava uma vida
vazia de luz divina. Imersa na mais triste miséria,
soberba, desenfreada, cruel, atroz, sanguinária,
mestra em trespassar a vítima com a seta ligeira,
mais feroz do que o tigre, mais voraz que o lobo,
mais assanhada que o lebréu, mais audaz que o leão,
saciava o ávido ventre com carnes humanas.
Por muito tempo tramou emboscadas: seguia,
no seu viver de feras, o exemplo do rei dos infernos,
que por primeiro trouxe a morte ao mundo, enganando
nossos primeiros pais. Dilacerava os corpos de muitos,
com atrozes tormentos, e, embriagada de furor e soberba
ia enlutando os povos cristãos com mortes freqüentes.
Mas um dia o pai onipotente volveu os olhares
dos reinos da luz à noite das regiões brasileiras,
às terras que suavam, em borbotões, sangue humano.
Então mandou-lhes um heróis das plagas do Norte,
um heróis que vingasse os crimes nefandos,
que banisse as discórdias, freiasse o assassínio,
bárbaro e contínuo, acabasse com as guerras horrendas,
abrandasse os peitos ferozes e não sofresse impassível
cevar-se em sangue de irmãos queixadas humanas.
     E já trezentos e doze lustros o tempo volvia.
depois que o Criador dos astros, feito homem,
saíra do seio da Virgem Maria impoluta,
iluminado de esplêndidos fulgores a terra,
sepultada, há séculos, no negror do pecado.
Eis que, liberta dos perigos do mar e de há muito esperada,
uma esquadra fundeia na baía a que todos os Santos
legaram o nome. Trazia, salvo das fauces do oceano,
um singular herói, de extraordinária coragem,
Mem, que do sangue de nobres antepassados
e de seiva ilustre de longa ascendência
herdara o sobrenome de Sá. Superiores aos anos,
ornam-lhe o rosto barbas brancas e majestosas:
alegres as feições, sombreadas de senil gravidade,
vivos os olhos, másculo o arcabouço do corpo,
frescas ainda, como de moço, as forças de adulto.
Muito mais excelente é a alma: pois lha poliram
vasta ciência, com a experiência longa do mundo,
e a arte da palavra bela. Arraigado no seio
traz um amor de Deus, santo, filial, verdadeiro
e a fé de Cristo jamais desmentida. No peito,
incendiado pelo sopro divino, ferve-lhe o zelo
de arrancar as almas brasílicas às cadeias do inferno.
     Ó que faustoso sai, Mem de Sá, aquele em que o Brasil
te contemplou! quanto bem trarás a seus povos
abandonados! com que terror fugirá a teus golpes
o inimigo fero, que tantos horrores e tantas ruínas
lançou nos cristãos, arrastado de furiosa loucura!
Mas muitas lágrimas doridas a primeira refrega
custar-te-á. Nela tombará um filho querido
varado de setas, e tingirá as praias de sangue
inda jovem, lançando às auras o tênue sopro da vida.
Tu porém leva sempre ante os olhos a glória
do Pai celeste: nem males nem a desgraça te dobrem!
Para sempre a morte ser-lhe-á mãe da vida
com a bela alma acesa no amor da fé verdadeira
arrostará a morte que o sublimará à mansão da beleza.
Ainda as brônzeas proas não tinham ferrado
o litoral. Depois dos trabalhos do mar, muitos e vários,
deixaram a costa africana, zona que o sol esbraseia.
Ainda para lá, o céu adverso e as correntes marítimas
os retornam com fúria aos fustigos do vento:
enquanto ferozes guerras e cruéis injustiças,
causa de tantas dores, esperam a energia do chefe.
Lá ao longe, cultivam terra feraz uns poucos colonos,
Cingidos em redor de altos montes e praias rochosas,
por onde o Sul chuvoso solta as rédeas em fúria,
ergue ondas revoltas, envolve em névoas, mares e céus
e varre com turbilhões de nuvens os campos.
Deu à terra seu próprio nome o Espírito Santo.
Habitam-na portugueses. Guerras horrendas
desfecha sobre ela o Tamoio feroz: é este o nome
que a fera tribo herdou dos avós. Inúmeros danos
causa por toda a parte, talando as culturas em fruto
e arrebatando os homens. Afastam-se altivos com a presa
e fartam-se de sangue humano os ávidos ventres.
eis que se ajuntam, vindos de várias paragens,
em magotes cerrados, para arruinar para sempre
as aldeias cristãs, ferve-lhes nas veias a raiva
a louca paixão da guerra e o apetite da carne
humana, batem os corações em fúrias amentes.
Se o braço de Deus não impede esses aprestos ferozes
com o socorro celeste, senão dispensa essas tribos altivas
que vibram ao incêndio da guerra e ao faro do sangue,
em breve a ímpia guerra tudo terá conspurcado
e encharcada se verá a terra no sangue dos justos.
     Transposto finalmente o oceano, fundeiam no porto.
Sabe então o valente chefe que cruas guerras se aprestam
contra os cristãos, tribos ferozes se insurgem
de toda a parte, decididas de uma vez para sempre
a ferir, matar, devorar a todos os brancos.
O primeiro cuidado do chefe foi erguer logo a mente
ao Pai celeste e revolvendo em silêncio todos esses sucessos
implorar para os sitiados o auxílio que desce
copioso do alto: pois a clemência onipotente, vencida
pela prece dos filhos, sobre eles se inclina piedosa.
     Escolhe depois duas caravelas da armada
e manda equipá-las. Envia Fernão à peleja,
seu filho querido, ainda na primavera da vida,
jovem de coração varonil, alma plasmada
nos moldes paternos, enche-lhe o coração de conselhos,
e diz-lhe: “aprende, filho, desde os anos mais tenros,
a buscar no trabalho as virtudes e a glória,
não honras humanas: pois que haverá sobre a terra
capaz de encher-te a alma?” No coração insculpido
leva o nome de Deus, e, na chama da fé abrasado,
onde quer que apertem os trabalhos da guerra,
arroja o dique do peito à maldade furiosa.
Vês como gentes cruéis em hordas imensas preparam
aos Cristãos batalhas ferozes. De morte humilhante
ameaçam agora as cabeças dos pobres colonos,
quais tigres cruéis em redor da preia lanhada
sorvendo com fauces sedentas o sangue inocente.
Que esperança ou que alívio resta ainda aos sitiados?
Donde tirar auxílio? com que forças enfrentar inimigo
tão sanguinário? com que esforço, tão poucos
poderão repelir das aldeias as ondas que avançam?
Se é força buscar na fuga a salvação (vergonhoso
embora o proceder), se é força deixar ao selvagem
lares e férteis campos? lembra-te que mares profundos
tolhem a retirada, nem têm naus que sulquem as ondas
do pego irado, e salvem a vida pobres que tudo perderam.
Eia, pois, sem tardar, lança-te ao mar encrespado
e de novo provoca as vagas em naus bem armadas.
Voa em auxílio da pobre gente no que puderes.
Qualquer a sorte que te espera, quaisquer os trabalhos,
esforça-te por arrostá-los e suplantá-los com brio.
Se a destra onipotente te conservar são e salvo
e te conceder, com a derrota do inimigo, o pendão da vitória
e desdobrar ao olhar paterno os sinais do triunfo:
ditoso dia nos será a ambos! A Deus soberano
cumpriremos os votos e renderemos os devidos louvores.
A glória conquistada em guerra pela honra divina
te será muito doce: eis, filho, o teu belo futuro!
Se porém por desígnio imutável do Pai sempiterno
o último alento te colher na primavera da vida,
se a morte te arrancar em plena flor da existência:
então te aguardarão imarcescíveis louros e honra perene,
glória imorredoura dourará nos céus teus destinos!
Trocam-se assim pelo dia eterno efêmeros dias
À luta pois com braço forte, e no fundo do peito
gravado o nome do Senhor que governa o universo”!
      Assim falando envia o filho à empresa gloriosa.
Dá-lhe quatro dezenas de companheiros bem equipados,
manda soltar ao vento as velas, e à divina clemência
roga auspiciar as primeiras estréias do jovem.
De pronto ergue as âncoras a marujada valente
e em voz cadenciada puxa as amarras que vai recolhendo
em círculos. Volta proas à vaga a marulhar mar em fora,
desdobra dos altos mastros o cândido linho,
enquanto o vento, bojando as velas, as cordas estira.
O Norte se abate sobre o mar, o casco impelindo
e abaulando as velas; voa a lisa proa, cortando
o pego espumante, roçando apenas o dorso das ondas.
Ora aqui, ora além fundeia nos litorais rumorosos.
Só se abranda o rondo do oceano enraivado,
quando a Ursa Maior o bafeja com ventos propícios
e a nau, vencida muitas milhas, ferra os diversos
portos dos cristãos. Muitos logo aí se oferecem
ao intrépido chefe para sócios da empresa e da sorte.
Vai pois o jovem brioso escoltado de cem companheiros
ansiosos por domar com as armas a altivez do selvagem.
Já no termo da rota, e perto das aldeias dos brancos,
a que vinha socorrer ainda a tempo, penetra
na foz espaçosa de grande rio, e remando
contra o ímpeto da corrente veloz, se dirige
ao acampamento inimigo. Aí ajuntara o gentio
forças vindas de toda a região em redor.
     Das fortificações, umas se ocultam em selvas sombrias
do lado em que o sol, deixando o zênite, se engolfa no plaino;
outras, escondidas juntos dos litorais arenosos,
ouvem o troar das ondas que se enrolam e quebram.
O melhor da mocidade foi destinada a esses lugares:
ergueram aí, em vasta construção, três fortalezas
cercadas de larga trincheira de troncos gigantes.
Rodeavam cada um dos fortes seis voltas de lenhos,
robles descomunais, fincados na terra, ligados
a madeiras transversais com cipós da floresta.
Era um muro soberbo: duas torres e três baluartes
o reforçavam de cada lado; neles estreitas janelas,
quais furos invisíveis, foram deixadas, por onde
pudesse o arco estridente soltar a seta ligeira,
causando com golpes traiçoeiros feridas de morte.
      Aí se ajuntara toda a juventude guerreira
de sangue borbulhante e sedento de lutas infames.
Brande as armas feroz: o arco e as setas velozes,
o tacape ornado de penas várias, alisado e polido
pela mão do bárbaro com o ferro ou dente afiado
do porco montês: em todas as suas ferozes usanças
é a arma que os serve. Têm também impenetráveis escudos,
couros peludos, arrancados ao dorso das feras
e endurados ao sol. Pintam os membros robustos
com as cores da tribo: tingem com listas vermelhas
as faces, a fronte e as meias pernas; o resto do corpo
com riscas pretas, tão bem enlaçadas, membro por membro,
que imita a pele pintada verdadeiros vestidos,
que em nada desmerecem dos que, com o requinte da arte,
borda a agulha na mão habilidosa do artista,
nem das redes caprichosas, tecidas de fios variados.
Outros depenam o peito e as costas de inúmeras aves
e tingindo-lhes as penas de variadíssimas cores
colam-nas ao corpo, untado todo de visgo.
Outros ornam o topete com asas de pássaros
e dependuram muitos enfeites dos penteados cabelos.
Com estes e muitos outros adereços, medonhos e feios,
cobrem os membros nus os selvagens ferozes.
Ao vê-los o herói, poderosos em número e armas,
aí reunidos para saquear barbaramente
a gente lusitana toda, estas palavras amargas
disse cheio de indignação: “eis aí, companheiros,
as hordas cruéis que distilam dos peitos malvados
o veneno mortal do furor e do ódio implacável
e nos ameaçam com a guerra o completo extermínio.
Contra nós se arrojarão em bloco cerrado,
com todas as forças que a raiva esporeia.
Cumprirão seu desígnio nefando, se em estréia brilhante
nossas armas não lhes quebrarem o furor sanguinário.
Daqui nasceu toda a guerra. Portanto com peito invencível
lancemo-nos, todos, contra as hostes selvagens.
Adiantemo-lhes a morte que contra nós preparavam,
e que eles merecem. Eis a hora dos valentes e bravos!
Alento e energia nos dará o Deus poderoso
que domina as alturas. Sua mão vingadora
sobre o inimigo desumano descerá justiceira.
Vingando as ofensas sacrílegas, sua cólera santa
dizimará com a morte as alcatéias ferozes.”
     Terminada esta arenga, com armas divinas
robustece o peito: com cuidado examina a consciência
e a seguir aos pés do sacerdote de Deus se ajoelha,
para isso o chefe piedoso consigo o trouxera,
e liberta-se do peso das culpas que talvez contraíra.
Entusiasmaram-se os soldado: a fala do chefe
calara fundo nas almas. Seguindo-lhe o lúcido exemplo
purificaram os corações de todas as manchas
com a confissão. Lavra nos peitos agora incontido
o fogo da guerra, e justa ira lhes ferve nas veias.
     Já a noite avançada vencera metade do curso
e transmontando-se inclinara para os pousos celestes.
À voz do chefe toda essa mocidade guerreira
atira-se às armas, rema contra a corrente, ao encontro
do arraial inimigo. O brilho sinistro das armas
invade o rio. Branquejam as águas da espuma dos remos.
Saem-lhe ao caminho correndo os cruéis inimigos
em chusmas: uns arrojam da terra chuvas de setas,
outros coalham as águas de igaras ligeiras
e de perto esticam os fortes arcos. Voam zunindo
de toda a parte flechas em profusão, gemem os arcos
ao romper da seta emplumada, silvam os ares
à passagem das flechas, aturdindo os ouvidos dos bravos.
Ora a este, ora àquele procura alvejar com golpe certeiro
a turba furiosa: com a seta veloz semeia feridas.
Fremindo de raiva luta por afastar aos invasores.
Estes porfiam em contrário e avançam cortando
a corrente adversa do rio: com incessantes descargas,
que a pólvora arroja entre nuvens de negra fumaça
e estrondo soturno das parias, castigam o arraial inimigo.
      Arrebatado de ardor, com a voz, com o braço
o terrível Fernão, seguido dos seus bravos, acossa,
dobra e afugenta das águas a chusma dos bárbaros.
Como quando das regiões polares o Norte impetuoso
se arremessa ao encalço das nuvens pelos espaços;
vencidas, elas debandam em rápida fuga,
varrendo os nimbos da altura, o azul imenso floresce
no firmamento; estira o vento das fúlgidas asas
e vencedor, aspira livre as auras celestes:
assim o jovem, seguido de seus valentes, expulsa
da superfície do rio as hordas todas dos inimigos.
      Estes, apenas alcançam a terra, buscam velozes
os arraiais, precipitam-se desordenados qual no mar alto
o desencadear do Sul. O temor dá-lhes asas às pernas.
Mal se emboscaram nas elevadas trincheiras
obstruíram as entradas com troncos gigantes:
urram dentro, atroando os ares com bárbara grita.
Parecia que do céu os astros se despenhavam
fragorosamente ou que terrível tufão abatia
a floresta, rachando os robles estrondosamente.
Uns, da cabaça curva espetada de longos
e reboantes canudos, tiram sons cavernosos.
Outros sopram horrendamente em búzios recurvos
ecoando um som medonho: são os clarins dos selvagens.
Preparam as armas e nesse ínterim, quando um misto
de terror e de raiva os agita, eis que o herói
aborda a margem do rio e calca firme a areia.
Fixa a cada soldado seu posto, vibram os peitos de todos,
a passo acelerado avançam pelo longo da praia,
de armas em punho. Reluz o ferro das lanças,
a espada de dois gumes e o fuzil que as balas vomita
com horrível estrondo, quando sobre a pólvora salta
a faísca sedenta, levando ao inimigo rápida morte.
      Lá avança pelo seco areal, a passo firme, Fernão,
esbelto mais que todos os outros , trazendo
como um sol prateado nas armas fulgentes.
Enérgico, ateia nos companheiros a chama da guerra,
e todos já próximos dos arraiais se atiram a um tempo,
a alma em fogo, decididos a romper a trincheira
à força de golpes, e acabar com essa gente odienta.
Postam-se em linhas de ataque, do peito indignado
rompem brados medonhos: não se atrevem os bárbaros
a sair em campo e terçar armas com os sitiantes.
Contentam-se com defender nos fortins e nas cercas
esperanças fagueiras. Pelas frestas, deixadas adrede,
arroja, uma chuva de flechas, no intuito
de impedir aos invasores o assalto dos muros.
       Com não menor afinco os nossos atacam e tentam
entrar ora aqui, ora ali, lançando, furiosos, inúmeras balas
que a pólvora expele com fragor horripilante.
Voam os projéteis zunindo e abrem rombos nos troncos
e dizimam hordas selvagens. Em fileira cerrada
o general e seus jovens guerreiros investem, expondo
os corações valentes à morte. O braço esquerdo no escudo
resguarda-os das flechadas, enquanto o direito maneja
as armas ruidosas e rompe com o machado impiedoso
o muro de robles. A força força as entradas; o ferro
rasga as trincheiras, arromba as seis voltas de lenhos,
arrancando os madeiros gigantes. Lá se escancaram
enormes abertas: atiram-se por elas com estrondo
os jovens todos, qual rio raivoso, depois que rompeu
com esforço aturado os diques, se espraia nos campos
rolando troncos, bosques inteiros, no turbilhão horroroso.
Repentinamente, eis que novo terror se apossa dos inimigos
ao verem que os heróis com mão de ferro romperam as cercas
e com machadinhas ferozes tudo abatem por dentro.
Ainda não se esgota a fúria selvagem: nos peitos magoados
estuam juntos medo e cólera. Correm todos a um ponto
e opondo troncos sustam os invasores e sem perda de tempo
cravam-no de mil flechas velozes e os cobrem de chagas.
Aos índios desesperados, acirra-os a certeza da morte.
      Eis senão quando, desgarrando-se uma seta emplumada
corta o espaço silvando horrendamente, vindo cravar-se
pouco abaixo do peito de um soldado e lhe rasga
fundo as entranhas. Tomba ele mortalmente ferido
e exala para logo o derradeiro suspiro.
Rápido, o selvagem rearma o arco para nova flechada,
firma atrás o pé direito e os dois braços robustos distende
em sentido oposto: parte a seta ligeira a fincar-se
no corpo de um segundo e o prostra estendido por terra
em agonia. Ergue a horda selvagem um clamor de vitória,
vibram os peitos feros e de furor se avolumam.
       Ao contemplar a morte cruel dos amigos valentes,
o coração magoado do herói e de seus companheiros
referve de dor e o fogo da vingança os abrasa
até os ossos. Atiram-se como essas feras da Índia
que, acostumadas a transportar no dorso gigante
fortins de madeira e homens armados para a batalha,
se enfurecem à vista do sangue, desordenam co’as patas
as fileiras inimigas e arrastam em medonha ruína
robustos soldados, escudos e capacetes empenachados.
Assim se inflamaram os guerreiros e a raivar se lançaram
contra os ferozes contrários, e atracando-os de perto
rasgam chagas mortais com as adagas em punho.
     É tudo pressa, tudo azáfama: a este fende-lhe o peito
um golpe de espada e a ferida fatal lhe devassa
o abismo profundo; raivosamente o selvagem se vira
de borco para o chão natal, e morde a terra morrendo.
A outro atravessam as ilhargas com a ponta da lança.
A terra geme ao baque do peso; um soluço lhe arranca
golfadas de sangue e sacode os membros agonizantes.
A inúmeros outros, as finas espadas lhes varam
lados e intestinos; aparecem à luz as entranhas
e escapam as vísceras, conspurcando-se a terra.
      Acende-se mais e mais a coragem do chefe
e seus bravos: derrubam a golpes mortais, muitos selvagens.
Ora decepam braços enfeitados com penas de pássaros,
ora abatem com a lâmina reluzente cabeças altivas,
faces e bocas pintadas de vermelho urucum,
ora partem as frontes salientes entre as covas das têmporas
e enchem o Tártaro triste dessas vidas sem rumo.
      Soam armas e golpes e gemidos e baques de corpos.
Aqui e ali jazem cadáveres de inimigos crivados
de chagas profundas, empastados de pó: a sangueira
cobre os arraiais e espumante se embebe na areia.
Não sustenta mais o embate assim dizimada,
a horda selvagem. Volta as costas e em fuga apressada
abandona as cercas e escapa por portas bem conhecidas.
Mal puderam os inimigos fugir às lanças e temidas espadas
e salvar a vida acolhendo-se à segunda trincheira,
inútil refúgio do desespero; atrás do muro de troncos
se escondem e tapam as entradas com grandes barreiras.
Eis que , não sofrendo demoras, com as armas tingidas
no sangue inimigo, Fernão com seus jovens briosos
acorre, e olhos na glória, se precipita ao assalto
do arraial medroso, e à força de golpes arrombam
os robles enormes, abrindo numerosas e largas entradas.
Uma vez dentro estraçalham a fortaleza e trucidam
a turba inimiga, ceifando com a espada afiada
esses corpos brutais. Junto ao mar o estrondo ecoa medonho
enfurece horrendo na praia o soldado matando
e enterrando vitorioso na areia corpos aos montes,
no inferno vidas que cevavam as carnes em carnes humanas
e impinguavam os ventres com o sangue dos homens.
        Já não se alonga o combate, já não pensa o inimigo
em entesar o arco, e defender a vida com brio.
Tudo é pressa em fugir, não lhes valem de nada os redutos,
só resta galgar ligeiro as muralhas do último forte.
Nossas armas gloriosas prostraram o feroz inimigo,
rompendo à força as trincheiras com vasta matança.
O general e seu bravo esquadrão, cansados embora
do duplo esforço e com os corpos crivados de flechas,
conservaram ainda frescas a conhecida energia
das almas nobres: vibram de entusiasmo: uma de duas,
ou acabar com as hordas bárbaras ou deixar no combate
a vida, comprando com o sangue a vitória da pátria.
      “Triunfadores meus, diz o chefe, vossa espada valente,
armas e destras estão tintas ainda do sangue maldito;
sem tardar, lancemo-nos contra o inimigo vencido,
enquanto o abate o terror das últimas duas batalhas.
Vedes quantos aí estão prostrados a gemer moribundos,
quantos outros na fuga receberam mortais ferimentos.
Ou exterminar de vez esta raça felina
com a ajuda de Deus, ou sepultar-nos na areia
gloriosamente”. A estas palavras, parte. A todos devora
o mesmo fogo. Arrojam-se como impetuosa corrente
ou como a tempestade negra que revolve o oceano,
encapela as ondas, rasga o linho branco das velas,
quebra os altos mastros, e, girando três ou quatro vezes as popas
as submerge voraz em rápido redemoinho.
Quantos estragos não causou então o braço valente
do jovem chefe! quantos corpos de guerreiros ferozes
arremessou à morte, tomando vingança no sangue inimigo.
      Fossem mais crentes os colegas, mais viris os seus braços,
fervesse-lhes no peito um sangue mais quente,
acompanhassem sempre, lado a lado, o seu chefe,
e esse dia marcaria a ruína desses feros selvagens,
atirando-os para as sombras eternas do inferno.
Mas, ai! que imensa é a humana inconstância!
Estes, mais aqueles começam de vacilar, vai-os prendendo
pavor covarde, cada vez maior, ao verem que a onda
dos índios cresce, já recuam e se furtam à luta,
esgueirando-se insensivelmente, esses covardes sem nome.
Tornam às naus, desligando da margem as barcas.
Abandonam o chefe, que ignora esse ato de infâmia,
entre poucos companheiros, o furor da pele renhida.
       “Para onde fugis, desgraçados? que medo vil vos assalta
o coração sem brio? que inimigo estais perseguindo
tão à pressa? Já não vos movem os louros das duas vitórias
e as fortalezas que tomastes com a morte de seus defensores?
Apavorados de terror indigno, não vos envergonha
abandonar assim vosso chefe à fúria dos bárbaros
entre tantos perigos, ao peso de tantos trabalhos.
Para onde fugis? Sustai o passo! A maior parte dos vossos
sucumbe: voltai pois ligeiros e, ao lado do chefe, valentes
destruí o arraial. Para que tanto amor pela vida?”
Enquanto, ardendo em fúrias, o jovem vai fulminante
espalhando nos acampamentos os horrores da morte,
certo que os seus lutam a seu lado, e em esforço supremo
esmagam as hordas bárbaras finalizando a peleja,
eis que pouco a pouco em magotes os selvagens acorrem
à batalha. Mandam-nos das florestas vizinhas às cercas,
para auxílio dos seus e reforço aos que iam cedendo.
Por atalhos desconhecidos afluem de todos os lados
em grande número. Depois que enxameou essa turba
imensa, vai confuso rumor pelas trincheiras
e grita desacostumada até às nuvens se ergue.
Tal o arroio sombreado que desce das altas montanhas
entre seixos roliços num rolar gorgolhante,
depois que a tempestade repentina despejou suas iras,
chuvas vergastando montes e bosques e rasgando caminhos
às águas que correm a se ajuntar: então ele, soberbo
de tanta riqueza, se arroja e arranca à terra das margens
troncos gigantes, rola em redemoinho pedras enormes,
imitando ora o rumor soturno das ondas
ora o rolar do trovão nas alturas celestes.
      Assim a turba imensa enchia já a cidadela
e reanimadas pelo socorro, em luta desigual, apertava
uns poucos de heróis, com o furor de vingança
que lhes incutia a derrota e a morte dos seus.
O alvo principal de seus golpes, incessantes e rijos,
é o jovem chefe, que mais e mais se enfurece, admirado
de que o inimigo cobre de repente tanta coragem e força:
não havia, há pouco, nesses peitos tanto denodo
nesses braços tanto vigor... A custo percebeu finalmente
que os seus deserdaram, enquanto ele mergulhava na turba,
inebriado de sangue, olhos na derradeira vitória.
      Ao ver-se abandonado, entre os inimigos, com poucos
companheiros, entendendo ser inútil lutar contra tantos,
retira-se dos arraiais e pouco a pouco recua
na direção do rio, para entrar com seus bravos
nas barcas que aí estariam presas. Mas ai! os cobardes
menosprezaram as ordens e a vida do chefe e largaram
para longe da margem a armada, cederam
a um temor vergonhoso: eis o chefe desses cobardes.
      O herói, em vão magnânimo, ao ver que os companheiros
levaram para longe os barcos e que a turba inimiga,
em linha de batalha e entre gritos de guerra, começa
a apertá-los, brada: “Para onde corremos, colegas?
Já não nos resta esperança alguma! O inimigo
nos cerca de toda a parte, de toda a parte o oceano!
A terra nos falta! buscaremos a armada, cortando
com o peito as ondas? para onde nos dirigir-nos no aperto
presente? Pois, rompamos à ponta de espada essas hordas!
Paira sobre a nós a morte? — que paire! Oh! que belo
deixar por Deus as vidas caras na arena sangrenta
e comprar com esse sangue a vida de muitos!”
Disse, e logo (pois já o ataque dos índios não dava
lugar a demora), à invocação do nome de Cristo.
com os colegas se arroja contra os selvagens, postado
a arrastar na própria morte os corpos de mil inimigos
e a rasgar com o punhal reluzente mil feridas sangrentas.
      Os inimigos se apinham ao redor e o carregam com gritos
de terror e com flechas: não lhes dá a horda descanso,
como caçadores à volta do leão que freme asseteado:
ele a raivar ruge horrendamente e feroz ameaça
com o olhar torvo, ora este, ora aquele, impertérrito
rasga com a boca em sangue os corpos que alcança:
Eles o apertam, fincam-lhe lanças nas costas, nos flancos
à porfia, até que todo roto de feridas sucumbe
e a terra treme ao baque dos membros robustos.
Assim o enxame dos inimigos em cerco cerrado
estreitou o jovem: esse o fere com a clava, aquele com setas
e em vão ele multiplica esforços. Em algazarra se arrojam
sobre ele. Sem tréguas, apertam-no daqui e dali, insaciáveis.
Redobram os golpes: as flechas lançadas de todos os lados
já o cobrem todo, as armas tinem, rompe-se a malha
da couraça, já não resiste a tantos golpes o escudo.
Copioso lhe inunda o corpo e por completo
o abandonaram as forças; a sede lhe queima a garganta
e o pobre exala pelos pulmões a alma ofegante.
      Já tem o herói o rijo peito crivado de inúmeras setas,
o sangue o cobre todo e lhe empana a beleza
dos membros. A praia tremeu à sua queda. Tombando
os olhos moribundos se cravaram na altura.
As próprias selvas e rochas e montes vizinhos e rios,
chorando ao som das águas cristalinas, o viram
cair ao peso das chagas, e arrancaram dolorosos gemidos.
     Ó venturoso moço, prostrado na arena sangrenta
depois de devastar valente as hordas selvagens,
bela morte juncou teu sepulcro de mil setas e corpos.
Não te assediou o peito a fome do ouro nem da vaidade;
mas a paixão imensa da glória divina
e a honra imaculada de Cristo te imola
nesse altar, para que sejam tuas feridas a vida de muitos.
Vencido pelo amor da pátria e liberdade dos teus,
vergaste a cabeça ante a morte, sob a espada inimiga
tombando na juventude em flor, primavera da vida.
Sem tremer, desprezaste a terra pelo bem dos amigos,
deixaste escapar, pelas chagas abertas, a vida.
Grande jovem, eis tua glória! os séculos todos
saberão que preferiste morte cruel à desonra
de Deus, da pátria e do pai, e que, desconhecendo
o temor cobarde, expuseste a vida aos maiores perigos
e apagaste, com teu sangue o incêndio da guerra
que surgia ameaçador. Lembrar-se-ão os teus Lusos
e confessarão agradecidos dever-te tal benefício:
graças a tua morte, eles vivem e desfrutam da paz.
Venturoso Jovem, entre os felizes, nas alturas celestes
brilha a tua glória irmanada à glória divina.
Privado embora do sepulcro teu corpo, escondido
embora no seio da terra ou no ventre dos índios,
nada se te dá. Fica-lhes esta glória mesquinha,
depois que as hordas ferozes com sua imensa ruína
juncaram as fortalezas, e com o sangue selvagem
encheram o leito do rio, e dobraram as cervizes altivas
à força de golpes, e se lhes abrandaram as iras.
Mandam o chefe das armadas lançar mão dos remos velozes
a toda pressa, e abrir vela aos ventos propícios
sem demora. Deixam a um tempo a praia e na praia
o chefe estendido. As naus deslizam do rio
para o mar, varrem com a popa a superfície do pego,
e dirigem-se ao porto dos cristãos, que em perigo de morte
o governador geral mandara auxiliar da cidade
não acabasse com eles o feroz inimigo dos brancos.
Eles, depois dos longos trabalhos da guerra e da fome,
depois de mil ameaças do inimigo e perigos de morte,
reconhecem enfim, na curva do mar, os navios amigos.
Revigorados de nova esperança, erguem as armas ao alto,
os peitos acabrunhados alijam cuidados que pesam.
      Mal puderam ouvir de perto a voz querida de amigos,
e a notícia dos combates horrendos e das morte sangrenta
do chefe, os corações soçobram de dor repentina,
transbordam as lágrimas pelas faces a mães e esposos,
e deixam escapar do peito entre fundos soluços
estas queixas desoladoras: “E nós, jovem ilustre,
nós, entre mortes tão cruéis, escapamos incólumes!...
Não eras tu o repouso suave que teu pai preparava
para a sua velhice? Tu, para nos proteger a cabeça,
entregaste a tua à morte sangrenta, aceitaste
pelo nosso descanso os duros trabalhos da guerra.
Valia tanto, ilustre chefe, nosso bem comprá-lo
com tão duras feridas tuas e tanta amargura
de teu amado pai? que sofras tu morte horrorosa,
por nossa vida? que sejas pasto do cruel inimigo,
e não nos confranjam a nós tuas chagas doridas,
nem esse sangue que te escorre pela fronte robusta?
Nós, esquecidos de tanto sacrifício? Tanto nos acobarda
o amor desta luz transitória e a paixão egoísta
de viver, que não nos deixa vingar tua morte
em merecida desforra? Ah! vingar-nos-emos!”
      Abalados por tais pensamentos, sinais de funda tristeza
deram todos . Prestam as últimas honras ao chefe
e aos companheiros mortos, e as exéquias preparam.
Mães piedosas, virgens inocentes, meninos e adultos,
velhos vergados ao peso dos anos, dirigem-se à igreja.
      Junto do altar, coberto e velado por pano de luto,
está uma essa: bela faixa branca em forma de cruz
abraça o ataúde em todo o seu comprimento.
Cobrem-se de panos pretos também os altares sagrados.
Círios em profusão enchem as luzes dos templos.
Segundo o costume dos cristãos recitam o símbolo
dos Apóstolos e os mandamentos: então o ministro sagrado
envergando paramentos negros oferece preces e súplicas
ao Pai celeste e imola qual cordeiro inocente,
o corpo de Jesus, vítima das culpas dos homens,
que de mãos e de pés os cravos cruéis trespassaram
e a morte abateu sanguinolentemente.
Daqui e dali, gemidos e soluços ressoam, e prantos
entrecortados por gritos de mulheres; lágrimas correm
em rios pelas faces, em altas vozes invocam a bondade
do Pai onipotente. Justamente sentidos , abalam
com súplicas os excelsos palácios celestes.
Os próprios homens deixam correr pelas faces esquálidas
grossas bagas. Arrancam suspiros do fundo do peito
e com merecidas honras, os tristes funerais acompanham.
Cumpre o sacerdote quanto exige o rito piedoso:
oferece pelas almas do chefe e colegas os supremos sufrágios
e ajudando-os com uma última prece, faz o giro da essa,
asperge-a com a água santa e pronuncia as derradeiras
palavras, pedindo o descanso deles na eternidade serena.
      A lua resplendente erguera por detrás do oceano
seu rosto e completara uma só vez o disco brilhante.
Os guerreiros que tão duros combates e riscos tinham corrido
por terra e por mar, retemperam exaustos os membros
e refazem as forças. Cicatrizam as feridas abertas
pelas setas velozes, essas feridas inumeráveis
recebidas ao lado do chefe, enquanto com as espadas
dizimavam o inimigo. Todos os cidadãos e tropas amigas,
num só coração e num só grito, arrojam-se à guerra
jurando vingar a morte cruel de Fernão, o valente,
e aniquilar as hordas selvagens que cercavam a cidade.
O inimigo erguera junto aos muros vastas trincheiras,
e outras fortificações. Reunira inumerável exército,
para desafogar sua raiva louca e ódio descomedido,
exterminar o povo cristão em sangrenta matança
e saciar as negras fauces e os ventres sedentos de sangue.
       Sem perda de tempo dirigem à força de remos
as rápidas canoas contra a corrente. Distendem-se
os duros braços e os músculos saltam. Sulcando
as ondas contrárias, voam e em porfiada corrida
atracam no local inimigo, e de um salto ágil
os pelotões fogosos pulam das barcas, palmilham
os litorais adversos, com altos brados invocam
o poder onipotente e arrojam-se contra o inimigo.
      Nem valas, nem homens sustêm o assalto dos nossos
ainda que os embarque e fira a chuva das flechas .
Encarniçam-se, e rompendo por sendas impraticáveis,
abatem quanto se lhes ergue diante e acossam os bárbaros,
crivando-os de feridas e juncando de mortos o campo.
Também os nossos levam o peito varado de setas.
Seria longo repetir os golpes de cada um dos guerreiros,
as vidas que despenharam nos abismos da terra.
As armas lançaram no inimigo extermínios medonho.
O sangue correu em riachos que espumejavam:
muitos tombaram passados ao fio da espada,
muitos, de mãos e pescoço presos, carregaram cadeias.
Domado ficou assim seu furor indomável.
Cessou finalmente o terror, a altivez e ameaças
dos bárbaros; e voltou aos lusos a paz suspirada.
Só depois que as guerras findaram de todo, deixaram
os guerreiros as aldeias dos cristãos, bem seguras,
com pleno sucesso. Largam as velas ao vento propício.
A terra se afasta e as popas no oceano se engolfam.
      Chegam finalmente à presença do ínclito governador.
Como é fácil de imaginar, estava ele ansioso
pela sorte do filho e pela dos companheiros.
Ao Pai onipotente orava com fervor dia e noite
livrasse os povos cristãos das fauces da morte
e exterminasse o furor do feroz inimigo.
Logo que soube da morte cruel do filho extremoso,
ainda que o amor sublime de pai lhe estremecia no peito
e lhe rasgava a alma com golpe profundo,
escondeu no nobre coração a imensa desgraça.
A virtude invencível dominou o sofrimento
ainda que atroz e consolou o amor dolorido,
porque a morte do filho salvou a vida de muitos.
Tão digno foi do filho esse pai e do pai esse filho!


LIVRO II


Mas já as obras que pela honra divina empreendeste
e teu entusiasmo operoso estão de mim exigindo
os louvores justamente merecidos, ó grande
governador lusitano! O Senhor tos dará generoso
e coroará teus trabalhos com honras celestes,
fiquem embora nossos cantos aquém de tua grandeza.
Pois quem lembrará o tempo das tribos ferozes
quando ainda os selvagens não te viam, chefe valente,
impor santas normas aos povos e lançar justo freio
a uma raça indomável? Que terror então invadia
o peito de todos! A quantos , boatos vãos incutiam
vergonhoso medo! O bárbaro expandindo sua ira
quebrantava as leis santas da mãe natureza
e os divinos preceitos do Pai onipotente
cevando as queixadas bestiais em corpos humanos!
Essa raça selvagem, sem a menor lei, perpetrava
crimes horrendos contra os mandados divinos,
proferindo impunemente ameaças contínuas e altivos
discursos. Então com arrogância o índio sanhudo
olhava para os cristãos, e estes, entrincheirados
detrás de seus muros, tremiam de pavor vergonhosos:
como quando lobos vorazes, que a fome impiedosa
açula e avassala, rangendo os dentes, cobiçam,
à ronda do aprisco, espostejar os tenros cordeiros
e extinguir a sede ardente no sangue que sugam;
lá dentro as ovelhas estremecem e fremem com medo
das feras que rondam fora, mal confiadas no aprisco.
Mal pisa o enérgico chefe os litorais brasileiros
com os poderes de governador geral que trazia,
para logo começa a desterrar de todos os peitos
os vãos temores, e a sacudi-los do torpor em que jazem,
incendiando-os no amor da verdadeira e única glória.
Determina não sofrer por mais tempo o orgulho dos índios
mas castigar com penas graves e justas os públicos crimes.
Um certo bárbaro então, de boca insolente,
lançou feroz aos cristãos mil desafios,
exprobando-lhes o braço inerte e o peito cobarde,
bravateando contra eles terríveis matanças.
Chamava-se Cururupeba em sua língua materna,
nome que na nossa significa Sapo Espalmado.
Ao seu insensato orgulho e audaz arrogância
infligiu Mem de Sá digna paga, e assim começaram
a ter-lhe os brasis grande temor e respeito.
Já não ficarão impunes os crimes que há pouco
cometeste, ó Cururupeba, nem tua imensa soberba.
O braço valente dos cristãos lançou-te por terra
embora grande multidão dos teus te cercasse,
bem armados de flechas ligeiras, dispostos
a expor por teu amor a vida a todos os transes.
Mas a alma do grande herói firmada na força divina,
não obstante o receio da maior parte do vulgo,
resolve impor justo freio ao furor dos selvagens,
acalmar os vagalhões desse mar furioso.
Aos trinta homens que de cada aldeia escolhera
assim diz: “Ide e trazei-me preso esse louco
que tantas ameaças está contra nós vomitando.
Saiba ele enfim que não nos falta braço nem peito!”
Assim falou e eles partem em demanda das choças
enfumaçadas onde Cururupeba com a chusma dos índios
se aninha disposto a medir armas com armas.
Mas quem tudo pode abater com um aceno somente,
quem amansa as ondas do mar encapelado
e os ventos que as revolvem com sopros furiosos,
refreou-lhe a raiva e a inchada soberba
apertando-lhe o coração com gélido medo.
Firmes, os nossos não desistem, vão ter às cabanas,
cercam-nas, entram-nas e prendem a Cururupeba
no próprio esconderijo, e trazem-no preso p’ra fora;
tal o sapo escondido na cova, enchendo a pele e a bocarra,
parece ameaçar morte cruel com a baba empestada,
e mal do buraco o tiram com a mão, desaparecem
os sinais da raiva e deixa-se arrastar impotente.
Assim o prenderam indefeso, assim lhe amarraram
os punhos e lhe ataram os braços às costas,
e o conduziram vitoriosos ao governador em palácio.
E ele que há pouco lançava valentias aos ventos
e ameaçava feroz guerras, matanças e orgias,
vê-se agrilhoado duramente e jogado
na imundície horrível de um cárcere escuro,
pagando o merecido castigo de seus crimes antigos.
Não lhe desataram os grilhões, nem daí saiu livre
senão depois que a zona oblíqua dos signos
viu o sol percorrer a todos em seu rápido carro
e passada a do Peixe reviu a constelação do Carneiro,
transpondo os altos pórticos do firmamento estrelado.
Entretanto divulgou-se pelas aldeias a nova
de que esteva em ferros Cururupeba: terror indizível
se apodera dos índios. Pasmam todos e temem
cada qual pela própria sorte: como num bando de pombas,
quando cruel gavião arrebata uma nas garras aduncas,
as outras em debandada se escondem nos ninhos:
a imagem da companheira no desastre recente
continua a assustá-las e a entristecê-las ainda.
O piedoso Mem de Sá, desejou depois disto
ver adorado o Senhor do céu, do mar e da terra
e venerado nas plagas do Sul o nome de Cristo.
Resolve impor leis aos índios que vivem quais feras
e refrear seus bárbaros costumes. Logo desterra
a antropofagia cruel: não permite mais que movidos
de gula infrene bebam o sangue fraterno,
nem mais se violem os santos direitos da mãe natureza
e as leis do Criador. Para logo o ignóbil vulgacho
a quem movia ora ambição mal inspirada
ora verdadeiro terror, pôs-se a espalhar estes rumores:
“que novo governador é este? com que direito posterga
as leis antigas e tenta impor novos costumes
novas normas de vida a indômitas gentes?
Poderá ele agora persuadir a povos selvagens
tratados de aliança? deixará a raça brasílica
de comer carne humana, banindo do seio
de seus filhos ódios cruéis e guerras antigas?
Pois se o prazer destes bárbaros, justamente nisso consiste,
atirar-se sempre em novas e ferozes batalhas,
provocar os outros à guerra em que sempre viveram,
rasgar-lhes com as unhas a carne, e piores que tigres,
fincar os dentes em lanhos palpitantes de vida:
devem agora aprender a esquecer seus furores,
criar almas meigas e corações de cordeiro?
Acaso não voltará sobre nós o feroz inimigo
todas as iras e todos os braços devastando a cidade,
se faltarem outros em que saciem a sede de sangue?
Como é possível julgar que mudem agora
costumes que se embeberam na torrente dos séculos?
Poderão os beberrões deixar de encher-se de vinhos,
de vomitar o que beberam e de beber novamente
o que vomitarão? Não celebrar novas bodas esses devassos
e renunciando às antigas não se sujar em novas torpezas?
Estes e outros costumes, herdados dos seus antepassados,
e transmitidos como direito racial, de há longo tempo,
sofrerão impunemente que lhos arranquem agora?
Quão pouco conhece o índio altivo quem assim pensa!
Quanto se engana quem tenta realizar tais projetos!
Não está longe de permitir a ruína do povo!”
Tais rumores que corriam, tais as críticas duras
que publicamente se lançavam: um só temor o de todos,
uma só preocupação, desviar o governador
dos seus intentos, dobrá-lo com rogos e súplicas,
força-lo a deixar as determinações que tomara
tão resolutamente. Vão ter com ele bem premunidos,
reunindo nesta fala o argumento de todos:
“Grande governador, a quem Dom João o terceiro
nosso felicíssimo rei entregou o governo brasílico;
por desígnio da Providência, foi-te confiado
o nosso bem, para que em boa paz a todos dirijas
e olhes pelo bem estar de todos os súditos.
Agora que abonançou a tempestade da guerra,
que leis tencionas impor a esses povos selvagens?
Proíbes aos índios as guerras? de que paz fruir poderemos
senão se guerrearem entre si, saciando a sede de sangue
com que nasceram? De que maneira julgas possível
realizar teus desejos? que deixe de comer carne humana
o bárbaro que dela gosta? Podem os tigres viver sem a presa
e os leões ferozes deixar de despedaçar os novilhos
e os lobos perdoar às mansas ovelhas ? Antes deixará a baleia
de encher de peixes o bojo, no vasto oceano,
antes deixará o gavião, em vôo audacioso librado no espaço,
de raptar tímidas aves, e a águia real de garras aduncas
de levantar às alturas em revoada a lebre cativa:
do que deixarem os brasis de devorar carnes humanas.
Eia pois! pondera teus intentos com reflexões cautelosas.
Não impeça que mutuamente se provoquem à guerra
e se matem horrendamente, e, despedaçando seus inimigos,
lhes assem a carne no rito paterno e lhe roam os ossos
à maneira de cães, celebram as festas dos seus antepassados
e não pensem em lançar contra nós os braços ferozes,
nem desafoguem em nós suas iras de brutos
e sedentos de sangue nos passem ao fio da espada
a nós, nossas esposas e filhos, conspurcando de morte
toda a cidade. Tu serás a causa de tão grandes desgraças,
tu o responsável único da irreparável ruína
e do sangue derramado. Eis que te avisamos com tempo
nós que conhecemos, de há muito, os costumes dos índios,
e lhes experimentamos de perto a índole fera.”
Assim falando, eles com acrimônia insistiam
erguendo a voz diante do governador: este porém, cujo peito
era sacrário de Deus, confiado no poder de Jesus,
cujo nome ansiava por tornar conhecido naquelas
bárbaras plagas, com ânimo tranqüilo e semblante sereno
responde: “Vive o Deus que criou céus, terras e mares
ante o qual tremem as abóbadas do firmamento
e as colossais muralhas do imenso universo.
Sua destra trar-nos-há auxílio a seu tempo
e livrará os cristãos de tantas desgraças.”
Assim disse e destemido põe-se a realizar seus projetos.
Vós, irmãos nossos, habitantes das etéreas moradas,
que pisais docemente o pavimento estrelado,
e dessas alturas vos interessais pelos nossos destinos,
a fim de ocuparmos um dia um trono convosco:
dizei-me, eu vos conjuro, as alegrias que desfrutastes
por todo o céu! as sinfonias de júbilos que decantastes!
as alegres melodias que desentranharam os órgãos celestes!
as notas que desferiram trombetas e clarins de vitória!
os sons maviosos que jorrou a flauta sonora!
que harmonia nas cordas da cítara! que hinos contentes
cantastes ao Pai celeste! com que salmos sentidos
exaltastes ao som da harpa as glórias de Cristo:
quando o índio começou a trocar sua ferocidade
por modos mais humanos e a conhecer o nome do Eterno!
Vós, que por um pecador que lava seus crimes
nas lágrimas do arrependimento, dais as maiores
manifestações de alegria por todo o templo celeste,
como deveis exaltar com nova harmonia
este triunfo de Deus! Começa a bárbara terra
a sacudir dos ombros o tirânico jugo do inferno.
Arrancada às trevas do escuro e lúgubre abismo,
vai receber a luz divina do Sol sem ocaso,
aprender as leis santas do Senhor Jesus Cristo,
abraçar-lhe a fé e salutares doutrinas.
Foi por vosso ministério que tão grandes milagres
se realizaram. Vós, mais velozes que os ventos,
a nossas plagas trazeis em revoadas contínuas
as paternas disposições da Providência divina.
Dizei vós as leis e a ordem que o ilustre e piedoso
governador implantou entre povos tão feros,
para afinal ser honrado nestas paragens incultas
o nome vitorioso, forte e imortal de Jesus!
De início para poder jungir esses rudes selvagens
ao jugo da lei e moldá-los pela doutrina de Cristo,
ordena que deixados recôncavos, campos, florestas,
acorram de todas as partes a um mesmo local
e aí construam novas casas, ergam novas aldeias
e comecem a deixar os antigos costumes de feras;
não vagueiem daqui e dali, como tigres, pelos cerrados,
sem moradia certa, sempre duma terra p’ra outra,
sem nunca fixar-se em aldeias estáveis.
Era de ver como logo deixaram as enfumaçadas malocas,
suas cabanas cobertas de palha e suas roças agrestes.
Acorriam de todas as partes, movido da fama
e do muito medo que do governador se espalhara;
todos se submetiam a si, suas esposas e filhos
sem ousar opor-se ou confiar em seus braços e armas.
Decidido assim a impor nova ordem, novos costumes,
o magnânimo chefe manda construir quatro aldeias
de amplo circuito, nas quais se reunam todos os índios
das tabas em derredor e onde aprendam aos poucos,
de coração já manso, as leis santas de Cristo.
E porque o ano em quatro estações se divide,
que o áureo sol percorre com sua luz fulgurante,
fecundando-o com seus raios para que férteis ressurjam
as searas e reverdeçam as veigas contentes e fartas,
e a um tempo os frutos desejados madurem:
assim Jesus, filho unigênito de Deus, com o lume
de sua divindade, aclare estes brasis, repartidos
em quatro aldeias. Roçados os tojais, revolvidos
os campos ao labutar auspicioso do arado,
fecunde ele esta gleba e enfim a esplêndida messe
pague aos lavradores os gemidos e as lágrimas
que com as sementes lançara, por anos a fio
e com o coração aos pulos, encham os celeiros vazios.
Brotam as novas moradias; o índio, nômade há pouco,
ergue seu teto que o abrigará muitos anos,
e canta, em igrejas novas, o nome de Jesus, reverente.
O pio governador impõe santas leis aos selvagens,
e, desterrando costumes e ritos dos antepassados,
vínculos que os ligavam ao tirano do inferno
e lhes enlodavam as almas de culpas horrendas,
substitui-lhes preceitos divinos que cortem abusos,
lavem os corações afeiados e os rendam ao jugo
de Cristo que, com um único aceno, rege o universo
Reconheçam primeiramente o Deus do céu e da terra,
a quem os esquadrões dos anjos e os astros celestes,
os abismos do inferno e a mole terrestre obedecem:
que o reconheçam e lhe cumpram as ordens divinas.
Cessem já as cruas guerras e as sangrentas matanças,
o bárbaro costume de espedaçar o inimigo,
dessedentar com seu sangue as fauces sequiosas,
e devorar carne humana: é só com a morte
que se pagará tal crime, sangue por sangue.
Dá força de lei civil a tudo quanto nos manda
o Criador e aos renitentes com indignação ameaça.
O terror se apossa de todos, curvam-se as frontes,
por tanto tempo rebeldes, ao jugo de Cristo.
Parecia que o próprio Deus lá das alturas celestes,
falando ao Chefe, repetia essas mesmas palavras
que a ti, ó Patriarca cultivador da parreira,
dirigira outrora, quando, refluindo da terra,
as ondas do mar tornaram ao seio do abismo,
e o solo do colono reapareceu à vazante das águas:
“Sujeitas as plagas brasílicas! que o terror e o tremor
que inspiras, invada os povos cruéis, que rompendo alianças
contra a lei natural, matam e espedaçam os homens,
à maneira de feras.” Também a seus ouvidos soava
a voz de Cristo: “Força-os a entrar em meu santuário!
que de povos diversos a minha casa transborde!”
Assim se expulsou a paixão de comer carne humana,
a sede de sangue abandonou as fauces sedentas;
e a raiz primeira e causa de todos os males,
a obsessão de matar inimigos e tomar-lhes os nomes,
para glória e triunfo do vencedor, foi desterrada.
Aprendem agora a ser mansos e da mancha do crime
afastam as mãos os que há pouco no sangue inimigo
tripudiavam, esmagando nos dentes membros humanos.
Há pouco a febre do impuro lhes devora as entranhas:
imersos no lodaçal, aí rebolavam o fétido corpo,
preso à torpeza de muitas, à maneira dos porcos.
Agora escolhem uma, companheira fiel e eterna,
vinculada pelo laço do matrimônio sagrado
que lhe guarda sem mancha o pudor prometido.
Para que lembrar os cantos que outrora entoavam
em suas bebedeiras? os gritos com que atroavam os ares
medonhamente? as cores com que pintavam os membros?
as penas variegadas com que enfeitavam os corpos?
A beber, vira-os a aurora do seu róseo carro,
e a tarde ao cerrar o dia nos umbrais do horizonte!
e a noite negra ao rolar dos altos cumes celestes
e a nova amanhã ao despertar sob a força dos raios:
já o belo sol, nascido neste segundo dia, engolfara
nas ondas azuis seus corcéis, e eles ainda
a atufar de vinho os abismos do ventre.
Que espetáculo de sujidões, que visão de torpezas!
Que obsceno os gestos dos homens, que impudicos meneios
os das mulheres que oferecem as lascivas bebidas!
Fartam de vinho o ventre e, cheio, tudo vomitam,
e bebem de novo e cheios aos vômito tornam..
Um vomita, outro apanha na cuia o vômito e o bebe.
Espetáculo horrível! aí se cantavam os feitos antigos
e as maldades criminosas dos seus antepassados,
e feroz se erguia o ardor da guerra e do sangue,
e fervia a paixão de despedaçar corpos humanos,
e lançar em vasos novos os membros feitos em postas,
pô-los a assar ao braseiro e espetar em caniços
os pedaços cortados em pequeninos. O desejo malvado
de todos os crimes, sopitado e pouco a pouco envelhado,
despertava e rejuvenescia ao ardor desses vinhos.
Agora, tudo é silêncio! nenhum rumor se levanta
das casas em confusão; cessou a loucura, e o descanso
tudo cobre delicioso. Tal qual sob o céu agitado
por tenebrosos trovões e varrido de ventos furiosos,
Incha o mar, erguem-se as ondas, e os rolos das vagas
atirando-se contra os rochedos rouquejam de espuma;
e, quando os ventos pousam, calam-se e na lisura dos mares
ao sopro do zéfiro, as ondas de repente se amansam.
Já não ousas agora servir-te de teus artifícios,
perverso feiticeiro, entre povos que seguem
a doutrina de Cristo: já não podes com mãos mentirosas
esfregar membros doentes , nem, com lábios imundos
chupar as partes do corpo que os frios terríveis
enregelaram, nem as vísceras que ardem de febre,
nem as lentas podagras nem os braços inchados.
Já não enganarás com tuas artes os pobres enfermos ,
que muito creram, coitados! nas mentiras do inferno.
Não mais mostrarás ao doente palhas e fios compridos
astuciosamente enrolados, nem tua boca enganosa
lhe dirá: “vês que doença te tirei com meus lábios
do corpo enfraquecido? confia! gozarás já em breve
da desejada saúde que te deu minha destra”.
Jaz por terra o velho engano; guarda ao rebanho
agora a matilha de Deus, cujos latidos afastam
lobos raivosos e traiçoeiros . Se te prender algum dia
a mão dos guardas, gemerás em vingadora fogueira
ou pagarás em sujo cárcere o merecido castigo.
Quem cantará a glória que agora se dá ao seu nome,
ó Cristo? Que desbarato sofreram as negras fileiras
do inferno! Que uivos horrendos ecoaram nos antros
da habitação sombria. Em estertores insanos tremeram
o caos da morte e o Flegetonte que arrota
chamas devoradoras, e as águas estagnadas da Estige,
as ondas do Aqueronte e Cérbero enorme que aterra,
com o latir das três fauces, os reinos da treva.
Choraram nas sombras eternas os monstros informes
e o bando das fúrias: todo o antro de Satanás aterrado
reboou pelas escuras cavernas em mugidos horrendos.
Gemeu o monstro infeliz, chorou a fera cruel,
Lúcifer, de lhe terem arrancado dos dentes a presa.
Foge de tua face, ó Cristo Rei, a escamosa serpente
e sepulta-se na treva justiceira da eterna geena.
Mal começaram a brilhar as vitoriosas bandeiras
do teu triunfo, as vitoriosas bandeiras da cruz,
por entre os povos brasílicos que outrora envolvera
em espirais mortíferas e envenenara diabolicamente
e arrastava à força ao profundo do inferno:
estarreceu de horror o desgraçado e uivando atirou-se
no abismo, e deixou-te, os reinos que a ti pertenciam
e que ele há tanto usurpara. Teus são os brasílicos reinos ,
onipotente Jesus, que com o próprio sangue os compraste
e com morte horrenda e sofrimento indizível
os arrancaste das garras do malvado tirano.
Canta-te por isso a gente inculta merecidos louvores,
conhece teu nome, ante o qual estremece a beleza dos anjos,
os antros do inferno e a imensidade da terra:
só dele depende a felicidade dos míseros homens.
Mas, porque narrar por miúdo quanto, inspirado por Cristo,
realizou o piedoso chefe? Proclama-nos os fatos.
Erguem-se templos; não se firmam em marmóreas colunas
nem se talham de blocos brilhantes de Paros ou nítido jaspe
não brilham de pratas novas, e lustrosos marfins,
nem de áureas palhetas, ou alfaias preciosas do Ganges:
firmam-se na fé de Cristo e adornam-se dos santos preceitos
do Onipotente; é aí que a chama celeste incendeia
de amor divino os simples corações dos Brasis,
e lhes cobre as pobres almas de verdadeiras riquezas.
O chefe piedoso os ergueu e quis dedicá-los
a celestes patronos: a Paulo foi consagrado o primeiro,
àquele que ensinou aos gentios a doutrina de Cristo,
e pelo nome do Senhor Jesus sofreu dissabores,
muitos e enormes enganos e grandes trabalhos,
duros naufrágios no mar e mil perigos na terra,
e dando a cabeça ao ferro alcançou brilhante triunfo.
Foi a segunda igreja dedicada ao apóstolo Tiago,
primeiro dos doze a oferecer o pescoço à espada,
e derramar seu precioso sangue em morte afrontosa,
enquanto exalta com voz corajosa o nome do Mestre.
Coube a terceira a João, o amigo predileto de Cristo:
distinguiu-o entre os demais a fúlgida glória
de sua nívea candura. Tão forte amor lhe abrasava
o peito fiel, que entre espadas furiosas teve a coragem
de seguir o Mestre até os tormentos terríveis da cruz.
Aí mereceu receber a maior honra da terra,
ouvir do Senhor moribundo as derradeiras palavras:
“Eis aquela que em seu seio de imaculada pureza
me concebeu e a seus níveos peitos me nutriu pequenino!
será ela a tua mãe e serás tu seu filho!”
As últimas torres erguidas, foram a ti consagradas.
ó Divino Espirito Santo: é teu sopro que enche
os espaços celestes, as vastidões do mar e da terra.
Tu inspiras alma aos viventes, purificas o imundo,
iluminas as trevas e de luz inundas as mentes
e vais morar no íntimo sacrário do peito.
Tu, quando Deus levantava as muralhas do mundo
as do céu e da terra, e os mares azuis, só com seu Verbo,
pairavas sobre as águas e abrindo as asas divinas
acalentava o abismo. Tu, com teu sopro suave,
fecundas os rios, as torrentes e as fontes perenes,
para dar vida às almas, e com teu fogo divino
lhes abrasa o seio: a Ti, ao Padre e ao Filho,
uma só e mesma divindade, um só poder e grandeza,
pelos séculos sem fim glória igual seja dada!
Ressoam sem cessar nesses templos os mistérios sagrados:
aí aprendem os Brasis os hábitos santos de Cristo.
Lá os ajuntou de toda a parte a mão firme do chefe.
Agora se podem admirar as multidões numerosas,
que acorrem aos templos de Deus, quando a face de aurora
se envolve pouco a pouco em seu véu cor de rosa,
e quando o sol se precipita no abismo dos mares.
Cada qual exalta a seu Pai com os termos que sabe:
aqui brada a fé sincera, aqui a mulher mais o homem
aprendem o amor de Deus, guardam seus mandamento
e bebem sequiosos a linfa da doutrina celeste.
Aqui os meninos inocentes que não mancharam a vida
de crime algum, aqui as virgens de intata pureza
aprendem a cantar em coro alternado hinos sagrados
e a modular teu nome, ó amável Jesus!
Que alvoroço alegre vai entre os habitantes celestes,
entre os coros angélicos! e, que doçura de cantos!
Como se lançam à terra, à maneira de fúlgido raio,
modulando teu nome, ó amável Jesus!
Que alegrias imensas invadem o coração delicado
da Virgem Mãe, que pode encerrar em seu seio
ao Onipotente que o palácio do céu e a grandeza do mundo
não podem abarcar! Quanto a boa mãe rejubila
ao ouvir nas plagas brasílicas o nome de Cristo,
o nome santo de seu Filho e Senhor exaltado!
Nesses templos imensa multidão de inocentes,
manchados não por crimes próprios, mas só pela culpa
do primeiro Pai e por isso sujeitos ao império da morte,
se orvalham e renascem nas linfas sagradas,
e, livres já da mancha, no limiar primeiro da vida,
arrebatados em massa, voam para os templos eternos,
para gozar perenemente da face de quem os criara.
Aí também, os que, sob o peso das próprias maldades
se vergaram ao jugo satânico, à força de prantos e dores,
lavam as manchas contraídas e, confessando seus crimes,
esperam do Senhor o perdão dos seus erros.
Aí, os raios ardentes do sol a estiolar sem piedade,
as chuvas, as sedes, as fomes a atormentar de contínuo
esses heróis, irmãos unidos num só coração,
ufanos do nome de “companheiros de Cristo Jesus”.
Dobra-os o trabalho assíduo e o cuidado incessante
de arrancar os Brasis às trevosas fauces do abismo,
de conduzi-los para a luz serena dos céus,
a curar-lhes almas e corpos, dias e noites a fio.
O nome, que a região etérea de joelhos adora,
que a caterva infernal reverencia prostrada,
que a terra inteira, curvada ao chão, humilde venera,
o nome augusto de Cristo, foram eles quem por primeiros
em altos brados o proclamaram em plagas brasílicas.
Eles lançaram as sementes do Verbo divino
em campos bravios, e arado em mão revolveram,
longos anos, uma terra dolorosamente infecunda.
Foram os primeiros a cantar o sublime triunfo da cruz,
o martírio do Cordeiro inocente e sua morte nefanda,
a vitória de Cristo morto sobre o tirano do inferno,
o sangue de Deus, verdadeiro manancial salvador.
Só agora, ó Cristo amoroso, depois que os Brasis
dobraram a cerviz altiva ao teu jugo e abraçaram
a fé verdadeira, depois de tantos suores,
começam de ser consolados. Alegrias novas despontam
Começa a soprar do céu um prazer todo novo
que afaga qual brisa suave os membros cansados,
e penetra docemente as almas e aos corações doloridos
soergue: então o descanso alastra pela quadra tranqüila,
e refaz aos lavradores peitos e braços caídos
da faina incessante, e à mente infunde nova alegria,
esperanças novas, não a prostre vencida o trabalho.
Já agora os campos do Brasil se cobrem de flores
formosas, nem mais se confiam a areal as sementes,
mas a terra vencida pelo trabalho do arado,
regada por chuvas generosas, aquecida por raios
do Sol divino, em profusão dá-lhes seus frutos.
Fugiu o áspero inverno, fugiram as frias geadas
aos ardores do sol, e os peitos de pedra em seu gelo
já se não obstinam: almas de feias culpas manchadas
limpam-se e inflama-se. Friezas de outrora são chamas
de amor de Deus. Tal qual o inverno se afasta embuçado
em seu manto de brumas, quando começa na terra
a soprar com seu murmúrio amigo a brisa mimosa,
e o sol com seu brando calor a superfície lhe afaga:
então, madre fecunda, ela se abre em tesouros e os campos,
seu regaço verde, são todos renovação, e beleza,
e a alegria do rosto se expande em prados ridentes.
Então riem as searas, engalana-se a quadra formosa,
flores voltam a pintar os ramos em que as florestas se abraçam
copas são tetos de verdura, a ave desafoga em trinados
a garrulice. Então a vide, farta de seiva, rebenta
em tenros frutos e frondes, contente, e estende rasteiros
os braços, e por toda a parte a cabeleira dos ramos.
Fértil de tufos novos; então com seus anéis a gavinha
sai da cepa materna; folhas seivosas se espalma
e em breve o pâmpano está vergando ao peso dos cachos.
Já a noite negra foge, fecha-se a porta ao inferno trevoso,
já não vomita suas labaredas a horrenda fornalha.
O príncipe do mundo, escorraçado do austral hemisfério,
atroa as cavernas escuras com mugidos de raiva.
Só a Cristo Jesus, eterna vida, se cantam louvores:
as bandeiras fulgurantes do augusto Rei se desfraldam
e a obra da cruz rebrilha imortal. Rei é Cristo
e seu império se estende na terra, nas ondas do espaço,
e de direito inalienável reclama para si as plagas brasílicas.
Que teu nome e teu preço e tua glória inefável
se espalhe pelo mundo inteiro, ó Cristo, honra dos céus,
e a plaga austral ecoe eternamente, Jesus, o teu nome!
Com que alegria, por tantos bens, o Chefe piedoso
rende graças ao Pai Celeste do intimo d’alma,
como estua de amor! como cuida que a fé e a piedade
sinceramente se cultivem! Redobra cuidados ingentes,
que não lhe concedem sossego aos membros cansados.
Se quisesse estreitar em versos tantos feitos ilustres
de um coração abrasado no amor ardente de Cristo,
seria sobre humana tarefa, e ao profundo dos mares
o peso imenso arrastaria minha frágil barquinha
antes de poder lançar âncora em porto seguro.
Faltar-me-iam para logo as parcas harmonias do verso
perante a abundância das glórias a ser celebradas.
Mas a paixão fremente de cantar o nome divino
me arrebata: é doce subir às montanhas celestes
e beber nas fontes de Deus, e, expulsas as trevas da mente
e firmado o passo por entre as incertezas da vida,
haurir das regiões etéreas a luz da beleza.
A recente cidade do Salvador florescia em doce sossego,
e a nova assembléia dos cristãos, com plácido aspecto,
cantava os louvores de Deus: nenhum temor inquietante
os oprimia: nem boatos de guerra futura
vinham sequer turbar a bela paz renascente.
Depois que deixaram a terra os ímpios bandos do inferno,
cessara por toda a parte a fúria louca da guerra.
Fulgiam dias serenos, e o céu com luzes mais vivas
acossavam para longe as nuvens sombrias das almas.
Jorravam dos lábios carmes celestes a Cristo,
e os peitos tranqüilos respiravam as doçuras da paz,
enquanto de bocas bárbaras ressoavam louvores divinos.
Eis que de súbito triste notícia alarma a cidade
e crava nos corações de todos o punhal do desgosto,
e gemem os homens e gemem inocentes crianças.
O mar azul, no meio das águas distingue uma terra,
não longe daqui, na direção do sul borrascoso.
Solo fértil, ornado de bela e eterna verdura:
promissoras sementes lhe enchem os sulcos fecundos,
e os campos alegres se esmaltam de canas de açúcar.
Habitavam-na tranqüilos os Lusos, muitos anos havia,
e nunca o peito lhes arfara ao sobressalto da guerra,
mas comerciando com as vizinhas gentes selvagens,
desfrutavam o dom da tranqüilidade amorosa.
Mas agora os índios tudo abateram em súbito ataque,
rompendo as doces cadeias da antiga amizade.
Começaram a encher-se de altivez e fereza,
a arrasar os campos ricos e pingues searas,
a incendiar com fachos cruéis as casas vizinhas,
a trespassar os próprios homens com setas farpadas
e, inesperadamente, a prostrá-los mortos por terra.
É assim que o borrascoso sul de repente se arroja
às naus que sulcam tranqüilas a vastidão do oceano,
e os altos céus ribombam e em incessantes coriscos
se iluminam, enquanto o vento sopra em turbilhão furioso
e as ondas se incham e engolem os navios incautos.
Os índios os cercam e tentam rendê-los à míngua,
homens e mulheres, meninos e tenras donzelas.
Começa a atormentá-los a fome: e o feroz inimigo
junto aos muros os ameaça altivo, destrói às flechadas
criações e rebanhos. Invade os sitiados terror doloroso.
Quando o ilustre Chefe ouviu a triste notícia,
gemeu e do fundo da alma soltou este suspiro:
“Terão a sua paga!” Chama os principais da cidade.
Acorreram todos e ansiosos esperavam atentos
a resolução do Chefe. Começa então por estas palavras:
“Um crime horrível perpetrou o feroz inimigo:
incendiou campos e casas aos cristãos e açulado
de furor selvagem deu morte cruel a inocentes.
Como creio, cidadãos, chegou até vós esta fama.
Cercados na vila, sob o fraco amparo dos muros,
sofrem os nossos o furor e as iras sem freio
dos selvagens: e trazem as vidas pendentes de um fio.
Nestas aflições, é forçoso levar-lhes socorros,
e a causa pede que eu próprio vá auxiliá-los”.
Eles objetaram: “ Não é seguro deixar nossos lares,
ilustre chefe, e abandonar os índios há pouco sujeitos:
se daqui te afastares, todos eles de um salto
criarão novos brios e, fora de si pelo exemplo
do fato recente, atacarão a cidade e os templos
com fúria desumana, derrocando-os a ferro e a fogo”.
Isto diziam. Mas o herói nutria uma grande esperança
no íntimo d’alma: postos os olhos nas alturas celestes,
donde sabia vir-lhe o auxílio, roga socorro
ao Criador e Senhor dos Céus, da terra e dos mares,
pedindo reverente que os passos lhe firme.
Assim estribado na força do braço divino,
prepara-se a arrancar os sitiados da angústia suprema.
Sem paciência para demoras, manda tocas as trombetas
chamando à guerra: latejam brios nos peitos dos moços
e na rude mão do soldado brilham as armas terríveis.
O índio moço sobraça o arco em forma de lua,
pronto a seguir o Chefe, com ardor, para a guerra.
Assim alegres todos subiram às naus equipadas
a arrostar as fúrias do mar. Foi em Junho,
tempo em que o Sul com chuvas e fúrias horrendas
domina a vastidão do oceano, corre espaços
que turbilhonam por entre os nimbos que os cingem.
Tudo fervia então sob a carga das águias celestes
e o Sul encapelava a vasta planície cerúlea
e tão alto a erguia que aos nautas barrava o caminho.
Mas, apenas embarcaram e se soltaram os cabos
e a âncora alçada desprendeu o dente recurvo,
Deus onipotente, que com um aceno dirige as estrelas
e tira dos seus tesouros os indômitos ventos,
limpou os espaços e reprimiu as furiosas lufadas.
Amaina as ondas e afaga o mundo com o sopro do Norte,
e ao amplexo dos ventos favoráveis entumecem as velas.
E já as naus sulcam as águas azuis do oceano
que se rasgam em salto, e avança a quilha embreada.
Vencido o primeiro dia segue-se noite tranqüila
de céu sereno, todo rutilante de estrelas;
esta cedeu lugar a um sol esplendente que veio
erguer o escuro véu da noite ao mundo desperto.
Mal atingira os cumes do firmamento sereno
quando a armada ferrou o litoral desejado
e os nautas calcaram jubilosos a praia querida.
Apenas pisou em terra, dignas graças o Chefe
rendeu a Deus: imitaram-no os fiéis companheiros.
Guias à frente, decidido sai à procura
do inimigo atroz que se acolhera a fundas florestas.
Ia todo o exército pisando as calcinadas areias
dos curvos litorais até chegarem às altas montanhas
que separam da praia as habitações dos selvagens.
Lançam-se à escalada, e a pé atingem o cume do monte
e no negror da noite, penetram nas escuras florestas,
por trilhos estreitos por onde os conduz o caminho.
Já densa treva envolvera a imensidade da terra
e os carros da noite rolavam no mais alto dos céus,
quando chegaram a um posto, no meio do bosque,
coberto de impressionante negror. Águas o cercam,
recolhidas de todas as partes, que tudo cobrem de lodo
e fazem desse lodaçal um pântano imenso.
Há aí estreitíssima ponte, lanço de longo trajeto:
astucioso o selvagem fabricou-a de fino madeiro,
para tornar suas casas inacessíveis aos inimigos
e afastar para longe todo o perigo de ataque:
julgava assim inexpugnáveis suas aldeias.
Mas, que há inacessível ao Senhor Deus, que outrora
partiu as águas do Mar Vermelho sob os pés do seu povo
e fê-lo passar, de plantas enxutas, os fundos do abismo?
Também agora ele próprio guiou os seus como chefe
e fez com que sem perigo passassem as pontes estreitas.
Transpôs o chefe a vasta lagoa no escuro da noite,
firmando o pé nos troncos por três milhas ao longo.
Já se aproximavam dos fumegantes tetos selvagens:
o próprio chefe exorta seus homens a serem valentes,
a despedaçar o inimigo de Cristo em renhido combate.
Adiantam-se ligeiros, já quase tocam as tabas,
da qual em seu posto: dirigem preces ardentes
a Cristo Jesus, general da milícia celeste.
Arrojam-se ao inimigo desprevenido de tanto perigo
e lhe pagam com merecida morte a morte de tantos.
Ecoam no silêncio da noite os gritos de guerra:
a este decepa a lâmina a cabeça há pouco indomável,
àquele fere nas costas, vara ao outro o ventre adiposo.
Uns tombam com o peito crivado de setas farpadas,
a muitos a lança trespassa a ilharga e fundo lhes crava
o coração: as armas estão quentes do sangue que bebem.
Os restantes fogem encobertos pelas sombras da noite,
e se embrenham nas florestas. Então o vencedor exultando
entrega as aldeias à voragem das chamas ferozes.
A labareda lambe o céu ao sonido das palhas
e ilumina as matas envoltas nas trevas da noite.
Vencem as chamas e tudo reduzem a um monte de cinzas,
enquanto às nuvens sobem enruivadas centelhas.
Quatro aldeias devorou a vingança do fogo,
até que a aurora veio desdobrar o véu fulgente do dia
e a lâmpada do sol resplendeu no horizonte.
Já o punhado dos bravos se afasta a caminho da praia,
contente de ter infligido ao selvagem merecido castigo.
As ondas do mar agitado referviam na praia,
deixando ao recuo das vagas um rolo de espumas.
Eis que à pressa acode numeroso o feroz inimigo.
Nuvens de setas silva nos ares. Vêm eles tão furiosos
sobre os cristãos cansados dos esforços da noite,
que não percebem as ciladas: pois apenas chegado
à praia, nosso herói manda alguns esconder-se
no recesso do bosque e aí sem rumor ficar à espreita,
enquanto os outros prosseguem em passo apressado.
Crendo que os nossos fugiam, o inimigo se lança
em corrida veloz, afagando vã esperança.
Enquanto correm soltando gritos ferozes,
cai-lhes pelas costas em rijos golpes o troço escondido,
lançando os corpos à cova, e as almas ao lago do inferno.
Assim a matança que preparavam voltou-se contra eles.
Como quando o tigre feroz, subjugado atrozmente
por fome de vários dias, confiado nas sombras da noite,
penetra sob escura grade, que grandes trocos massudos
tornam pesada. Estarrece do outro lado tremendo
o cão preso num cercado e amarrado pela negaça.
O tigre, picado da fome e da imagem da preia presente,
avança para rasgar-lhe as carnes e cevar-se com elas
e desalterar-se no jorro do sangue: mas então de repente
a malha enorme de troncos desaba-lhe em cima
e com o peso imenso o imprensa no chão, enraivado.
Assim caíram os inimigos vencidos pela cilada.
Poucos escaparam à lança e a rútila espada
dos cristãos que os cercavam. Alguns em corrida ligeira
atiravam-se às ondas e através das vagas bravias
deslizavam velozes e a poder de rudes braçadas
venciam enormes espaços do mar agitado:
era a última e fugaz esperança dos infelizes.
Mas Deus que criou os céus e deu ao heroísmo do Chefe
a vitória na terra, deu-lhe também no oceano.
Os brasis que seguiam a bandeira de Cristo
e as armas do Chefe, atiram-se às ondas de um salto
e sem perda de tempo cortam as vagas como golfinhos,
quando pelas sendas do mar vão no encalço dos peixes.
Clava na mão esquerda, com a direita no corte das ondas,
com os pés por remos, sulcam as planícies encapeladas
do vasto abismo, e caem sobre o inimigo que foge.
Voa das ondas fendidas a espuma, ao sopro do vento,
já se aferram aos malparados fugitivos e travam combates
horrendos e entre as ondas bravas vibram golpes ferozes.
Já se erguem nos altos cabelos das ondas
do mar indignado, já desaparecem nos seios profundos
da vaga que se abre, redobrando sem cessar os seus golpes.
Na praia ao longe os soldados contemplam as lutas
e pasmam das rijas batalhas que se travam nas águas.
Como quando as baleias sobem do fundo do abismo
e se acolhem às enseadas do litoral brasileiro
na quadra em que se entregam ao serviço da espécie:
então travam combates ferozes ao soçobro das ondas
e lançam até as nuvens jatos de água espumante:
Atônitos na praia os homens assistem à luta gigante
dos monstros descomunais entre as vagas encapeladas.
Elas desfecham golpes tremendos e horrendas feridas
com as caudas e dentes agudos, até que as ondas vomitem
os cadáveres monstruosos às areias da praia.
Assim nossos índios, em pleno mar, a braços com as ondas
vibram golpes terríveis: a uns despedaçam, a outros
já semimortos puxam-nos, enlaçando-lhes os longos cabelos
com a mão esquerda, enquanto com a direita cortam as vagas
e vitoriosos arrastam até as praias a presa,
indo depor aos pés do Chefe os corpos de seus inimigos,
e despedaçando aos semivivos os crânios com os rijos tacapes.
Acautelai-vos todos quantos não experimentaram a força
destes brasis e os julgais cobardes de alma e moles de corpo,
e desprezais como um brinco suas rústicas armas.
Vede que audácia furiosa pode caber-lhes no peito,
que feixe rijo de músculos os braços e as pernas:
quão temíveis serão os que tão velozes cortam as águas
e tão valentes se arrojam às braçadas com o mar agitado
e tão ferozes desfecham golpes no meio das ondas,
como outros em terra firme, quando ferem de morte!
Logo todos os batalhões, prostrados os inimigos,
seguem pelas praia sinuosos em direção da cidade.
Vêm-lhes ao encontro em bando alegre as mulheres,
as meninas e meninos cantando em coros unidos
os louvores de Deus onipotente que prostrou o inimigo
com as próprias forças e aniquilou as hordas selvagens,
com o poder de seu braço e livrou de todo o perigo
os batalhões fiéis, concedendo-lhes volta feliz,
e arrancando-os ilesos dentre tantos combates.
Então rendem todos justas graças, do íntimo d’alma,
a ti, Sá ilustre, escolhido por Deus dentre muitos milhares,
para domar esta gente rebelde e com justa vingança
esmagar as tropas selvagens e afastar a ameaça
que pesava cruel sobre a cabeça dos sitiados.
Já as mulheres, atroando os céus de alegria, te entoam,
ó vencedor, cânticos de merecidos louvores,
como outrora as donzelas de Judá exaltaram
ao grande filho de Jessé, que com pedra roliça,
apanhada na torrente e atirada por rústica funda,
quebrou a cabeça e prostrou ao soberbo Golias,
terror dos lares pátrios, ameaça do recinto divino.
Todos então transpõem os umbrais do templo sagrado
que a piedade terna dos fiéis a ti dedicara,
ó Mãe do Redentor, Virgem Maria, que em tua beleza
unes a maternidade divina à virgindade perfeita,
Quando há pouco o inimigo devastava as risonhas searas
e em tropel tudo reduzia a escombros e cinzas,
entregara também este templo a sacrílegas chamas.
Porisso agora entoam a Deus dignos louvores e glórias:
ressurge nova a alegria, foge p’ra longe a tristeza
e com ela os gemidos de há pouco, os prantos e dores,
enfim a cidade despe a veste de luto pesado.
Para que relembrar agora o terrível incêndio
com que o nobre Chefe abrasou os segundos redutos?
Redobrou-lhe os brios a glória do triunfo alcançado
e vibrou de novo a espada da vingança e a acha de bronze.
Não cessara, de todo, o mal, ainda a altivez dos selvagens
não se curvara, ainda a alguns o terror não dobrara
as cervizes soberbas. Eis que de toda a parte acorrem
jovens valentes prontos a arrostar a morte na luta
ou a infligi-la de vez ao Chefe. Uns aos outros
se inflamam para o combate com estas palavras:
“Nós, nós que fazemos, jovens de peitos robustos,
que tanto luto nos causam uns pouco guerreiros?
Ah! porque nos consomem chamas cruéis os redutos?
Nós nos ocultamos, medrosos, nas brechas escuras
e nelas buscamos abrigo, como tímidas corças:
eles intrépidos em nossas próprias casas nos queimam
e nos despedaçam, quais feros leões de fauces tremendas,
e com nossas esposas nos levam os filhos cativos.
Oh! porque não preferimos morte gloriosa na guerra
como fizeram nossos pais? Contra o inimigo corramos
acossando-o em batalha feroz e com setas ligeiras
varemos-lhe o peito ou, senão, que o nosso não tema
afrontar a morte bela e cravar-se na ponta da espada.
Assim não morreremos, pelo menos sem alguma desforra!”
Inflamados com tais ditos os índios se enchem de raiva
e de negro furor: dirigem-se para a cidade, apostados
ou a matar o Chefe ou morrer fatalmente.
É a disjuntiva cruel. Já a rápidos passos o bando
se adianta e os corpos nus cobrem a praia.
Todos fortemente armados: leva as setas a esquerda
e sustém os arcos recurvos que pendem dos ombros.
A direita empunha o tacape, trabalhado com arte e polido,
ornado em derredor de penas de aves variadas:
com ele os antropófagos rompem a cabeça dos cativos.
Todos eles vem pintados de variegada plumagem
que em parte se fixa ao penteado de longos cabelos;
parte, a modo de pulseiras, cinge os membros robustos;
parte, em forma de coroa, com grande arte disposta,
lhes circunda a cabeça. Entremeiam-se às brancas
as penas amarelas, às vermelhas as verdes e todo o conjunto
brilha pela variedade. Alvos pedaços de mármore pendem
dos lábios furados ou verdes pedrinhas de vívido brilho.
Como quando, acabadas as chuvas, a quadra formosa
adorna de florinhas multicores as ervas,
e na floração das árvores sorriem as verdes florestas:
Tal o aspecto do bando a serpear pelas curvas da praia.
Já se achegava a multidão bem perto das casas,
quando o Chefe, a quem jamais cilada nenhuma
colheu de improviso, sai ao encontro dos índios
que avançam em tropel. Leva adiante a cruz vencedora
do supremo Rei. Logo travam a luta: gritos horrendos
enchem a vastidão do mar que perto reboa.
Primeiro com dardos de arremesso e rápidas setas
combatem à distância. Começam a cair trespassados
os inimigos, a estorcer-se feridos na areia sequiosa
e em golfadas de sangue exalar o derradeiro suspiro.
Com a proteção de Deus os nossos causam inúmeras chagas
e nenhuma recebem. Com furor atacam o inimigo já fraco,
de perto, e enterram-lhe a lança de lâmina larga
nos corpos e encharcam de sangue as espadas luzentes.
Empapada ficava a praia e cheia de corpos:
sobre montes de cadáveres os soldados avançam:
Alguns dos vencidos recuam, fogem, em altas montanhas
se escondem: em matos cerrados já não se sentem seguros:
vagueiam por aqui, por ali à maneira de ovelhas,
que o leão carniceiro persegue com dentes vorazes
e desgarra medrosas por ínvios desertos,
ou como laboriosas abelhas que a negra fumaça
expulsa da colmeia. Assim por caminhos estreitos
se precipitam e se embrenham pelos matos esconsos.
Sob o rigor do frio, entregue às chuvas e fomes,
sucumbiu a maior parte: a morte lhe domou a altivez!
O temor da guerra cruel invade os destroçados: começam
a abrandar os brios ferozes do coração indomável.
Já desejam reparar os danos da ruptura das pazes.
Vão ter com o ilustre Chefe e imploram sua aliança
e direitos de amigos. Leis que impuser, sejam quais forem,
prontificam-se a cumpri-las. Pedem paz e perdão.
Recebe-os com mansidão o Chefe valente.
Dá-lhes a paz e mais as leis. Em seguida lhes manda
que se abstenham de festas sangrentas, onde dantes soíam
cevar-se em carne humana, como feras vorazes.
Reunam-se em aldeias, onde possam aprender a lei santa
e os mandamentos divinos do Pai celestial.
Comecem finalmente a sacudir dos ombros o jugo
do tirano cruel e voltar à justiça de Cristo.
Submetem-se alegres à invencível bandeira
do Rei supremo e regozijam-se de seguir no futuro
as divinas campanhas de Cristo. O furor e a cólera antiga
desaparecem por completo: das ávidas fauces desterram
o sanguinoso apetite de espedaçar membros humanos.
Também ordena por fim que, pacificados e mansos,
paguem tributo anual ao grande Rei lusitano,
cujo maior anseio é espalhar entre os povos selvagens
a doutrina de quem é o eterno Senhor do universo.
Não foram as pedrarias do Oriente e as grandezas do Ganges,
nem as especiarias perfumosas que a Índia derrama
do seio fecundo, terra donde o sol lança à corrida
seus chamejantes cavalos: foi, sim, o zelo abrasado
de levar teu nome, ó Cristo, a todas as gentes,
em qualquer clima da terra, o que moveu o régio peito
a afrontar sendas desconhecidas, trabalhos na terra,
ameaças no mar, e a rasgar com esquadras inteiras
oceanos enfurecidos e dantes jamais navegados.
Porisso o Pai onipotente, rei do imenso universo,
tornou temido de todos o nome de nosso monarca:
depois da Europa, Ásia e África com seus vastos desertos,
deu-lhe agora o domínio desses povos brasis,
peitos ferozes, gente indomável que no sangue dos homens
dessedenta as fauces sequiosas. Ele os curvou ao Império
e os fez treme diante das lusas quinas gloriosas.
Que alegrias não alvorotam teu peito fiel,
piedoso Chefe, ao veres povos, selvagens há pouco,
dobrar a cerviz, ao jugo, aceitar a amizade
do Pai celeste e abraçar suas leis de bom grado
ansiosos por conhecer o excelso nome de Cristo.
Mas o inimigo ainda não despiu de todo o ódio implacável.
Ficam por domar ainda em justiceira batalha
dragões de cristas erguidas e de colos altivos
que vomitam chamas da dupla boca de ferro.
Avante pois, com o auxílio divino, a debelar pelas armas
os inimigos cruéis e a desterrar costumes de feras!
Dobra-lhes a cervizes e lança-lhes os suaves grilhões
da lei divina: reconheçam o domínio do Pai sempiterno
e recebam a vida celeste com peito sincero,
venerando o nome divino de Jesus soberano.


LIVRO III



Já nossa mente fatigada perfez longas viagens
nas eriçadas planuras do mar, nas densas florestas da terra.
Já percorreu litorais, dantes jamais palmilhados.
Convidam-me feitos maiores, forçam-me a seguir soldados,
lançar-me de novo às ondas revoltas e desbravar os recessos
da floresta sombria. Guerras de maior vulto me restam
por cantar, mais gloriosas empresas do magnânimo Chefe.
Que ruínas e mortes espalhou seu valor triunfante,
de quanto sangue tingiu as ensombradas florestas
sopeando o furor do bárbaro, vós, ó celestes irmãos
inspirai-mo! Alta progênie, vós habitais os templos supernos
e a bondade do Rei celestial vos deu como guias
ao grande Chefe, para ajudá-lo, a seus tempos,
nos múltiplos trabalhos das expedições e da guerra,
e para abalar de pavor os corações inimigos.
Os triunfos obtidos do feroz inimigo, agora domado,
picaram de júbilo o peito de todos, num alvoroço
de paz suave. Mas, eis que, acompanhada de justa tristeza,
chega de repente notícia que desterra a alegria
da cidade do Salvador. Enquanto ao longo da praia
três cristãos lançavam insidiosas redes aos peixes,
foram cruelmente presos e arrastados pelo inimigo
que os trucidou com injusta e bárbara morte.
Mal ouviu a notícia, o Chefe, ferido no íntimo d’alma,
ergueu os olhos ao céu. Não se esqueceu que tudo sucede
por permissão divina; mas disse consigo estas palavras:
“Creio chegado o grande dia em que a bárbara tribo
receberá em morte o cruel castigo que pedem
tantos crimes cometidos, tanto sangue inocente vertido.”
Sobem às naus sem demora, e entre o clamor dos marujos
rangem as amarras retesas: para o Sul voltam as popas.
Desliza a quilha alcatroada e singrando o oceano
aporta no seguro remanso da remansosa baía..
Entra na cidade logo o herói com o séquito grande.
Recebem-no com longas aclamações, música e danças,
como um vencedor em triunfo: mas ele abalado
por dor imensa, prepara-se para vingar as mortes injustas
com a chama e a espada. O incêndio do peito indomável
não sofre demoras. Então envia ao feroz inimigo
embaixadores que exijam se lancem em cordas e entreguem
a ele os assassinos, que sofrerão o merecido castigo
pelo crime cometido, pagando morte por morte.
Hesitam a princípio os bárbaros, tomados de medo.
Ondas de opiniões os arrastam em vários sentidos:
entregarão aos enviados os criminosos, metidos
em apertadas cordas, ou antes os livrarão, apiedados,
das fauces da morte? De um lado o medo do Chefe os aperta
do outro o amor e cuidado fraterno os coíbe.
Assim à onça parida acossam com inúmeros dardos
os caçadores que lhe vão roubar os filhotes:
nem o medo das armas, nem a cruel perspectiva da morte
lhe permitem parar um momento, nem a ânsia materna
lhe consente a fuga do posto e o abandono do ninho.
Mas houve uns loucos, a quem a desenfreada sede de sangue
atiçava mais ativa em labaredas de raiva
os peitos ferozes. Tinham chegado altivos, há pouco,
de suas terras natais, onde há o tempo já tinham sofrido
cruel matança das hostes cristãs, comandadas
pelo ilustre Chefe. Ainda ferozes os corações explodiam:
“Hesitar ainda? Não, não ceder! Esse terror vergonhoso
expulsai-o do peito! Perante esquadrões de mulheres
de que serve tremer? A vosso lado estamos para ensinar-vos
o modo de exterminar completamente o inimigo”!
Animados por tais palavras, desterram do peito os temores,
erguem a cabeça orgulhosos e remetem ao Chefe valente
estes mesmos dizeres. Quem poderia sofrer tal afronta?
Apressa-se o Chefe para devastar em guerra tremenda
o soberbo inimigo. Manda arrolar de todas as partes
batalhões de indígenas já submissos ao jugo de Cristo.
Preparam todos eles seus arcos e flechas farpadas
e esses escudos fabricados com couros de feras
tão duros que são impenetráveis às setas ligeiras.
Arrebatados de ardor, os peitos selvagens suspiram
pelos belos riscos da guerra. Inflama-se além do ordinário
a mocidade lusa. Anseiam partir e domar essas hordas
com o braço carregado de vingança. Rufam tambores
em rouco som. Ajustam-se as armas: ao peito a couraça,
o capacete à fronte. Enverga este uma pele de anta,
aquele se envolve em malha de liso algodão
que frustra o corpo ao golpe das setas velozes.
A maior parte não carrega o corpo com armas algumas
para livre de peias poderem seguir no encalço
aos inimigos em fuga e alcança-los em corrida ligeira.
Cintilam as espadas e os chuços de larga ponta de ferro,
os escudos de couro e de metal luzidio. Irrequieto,
o cavalo morde o freio, aspirando auras de guerra.
Tudo se alvorota: o furioso ardor guerreiro se apossa
da cidade inteira, cada qual se entrega à respectiva tarefa
diligente: tine por toda a parte o ferro das armas.
Tal qual na primavera, quando o céu se lava de nuvens,
saem dos fundos cortiços as abelhas em busca das flores
e por aqui, por ali recolhem contentes o pólen,
zumbem entre as ervas e, felizes com as patas douradas,
voltam para a colmeia, onde distilam o orvalho suave,
o mel para o próximo inverno: tudo é vida e trabalho
na faina alegre do lar. Rouqueja a escura oficina;
todas se aplicam à labuta, cada qual no seu posto:
cuidam estas das crias, aquelas do mel destilado,
Outras afastam os zangãos que indolentes descuram
Todo trabalho, e, para gastar-lhes o mel que devoram,
se metem entre as abelhas procurando esconder-se,
mas elas os detém e fincando-lhes os ferrões os destroçam,
e em linhas cerradas até aos umbrais da porta de entrada
varrem os cadáveres dos infelizes vencidos.
Dispostos todos em ordem, entram já pelas ondas.
Coalhado de naus, o mar espuma debaixo dos cascos.
São naus, são barcas e igaras, nas quais os Brasis
se atrevem à luta com vagas encapeladas.
Ao sopro do Sul macio as velas incharam
e em breve ferraram as praias da terra inimiga.
Situada no poente e erguida em picos de montes,
parece topar com a fronte as grimpas celestes.
Separada por entradas do mar que a invade
olha para a cidade dos Portugueses fundada
ao nascente do sol com inclinação para o norte.
De há muito tempo que brancos não tinham pisado
essa terra. Cercados de toda a parte por densas florestas,
os inimigos habitavam em escarpados rochedos,
como leões ferozes metidos em escuras cavernas.
Ardorosos os nossos põem-se ao caminho de dia e de noite:
ao peso da chuva e de mil outros incômodos , abrem
picada com a foice curva, abatem florestas,
tine o machado, geme o tronco, e ei-los à vista
do primeiro forte, fundado no cume de monte elevado
em ladeira escarpada. A bandeira da cruz na vanguarda,
atacam-no de rijo, abalando os céus com a grita.
Acodem as hordas contrárias e com flechas impedem
a subida aos soldados: horrenda fúria a todos inflama.
O horror cruel da guerra se espalha: já os selvagens
começam a tombar feridas: ao baque dos corpos
a terra estremece e fica toda juncada de mortos.
Caem já aos índios brutais os brutos braços e pernas.
Já se não fiam de suas flechas e ocas: embrenham-se
em vergonhosa fuga pelos matos e no escuro dos bosques
se escondem. O soldado prossegue e vence ardoroso
o píncaro do monte, desfechando golpes tremendos
e semeando a morte nas hordas que fogem.
Ficaram os troncos da selva tintos do sangue inimigo.
Depois que as armas prostraram o inimigo e a batalha
o lançou nas tocas dos bosques, como alcatéia de lobos
que os lebréus aterram e dispersam com latidos ferozes:
alegres acampam todos desfrutando o triunfo.
Descansavam já esquecidos dos trabalhos pesados,
quando de súbito uma voz, de boca em boca voando,
se espalha e cresce e perturba a paz dos guerreiros.
Dizia-se que um braço fora cortado e roubado a um cadáver
dos muitos que aí prostrado s deixara o inimigo.
Furtara-o talvez algum índio dos nossos, vencido
do antigo costume, para devorá-lo em segredo.
Mal chegou o rumor aos ouvidos do Chefe piedoso
manda apregoar em voz alta por todos os bandos
a ameaça de morte para quem se manchou de tal crime,
senão restituir esse braço e o não ajuntar quanto antes
ao corpo do qual o cortara às escondidas de todos.
Tão grande amor de Cristo lhe inflamara o desejo
de abolir os costumes cruéis dessa bárbara gente!
Estremeceram todos, um calafrio lhe correu pelos ossos
ao ladrão; foi-se depressa e repôs às ocultas
o manjar mal havido e em vão cobiçado!
Já Vésper no céu acendera os fogos dos astros
e os soldados a uma descantam os louvores divinos,
enchendo de melodia aquelas solenes alturas.
Os batalhões brasílicos e as lusitanas coortes
juntos louvam a Deus, e ao Pai celeste com preces
inclinam aos seus desejos; e ao Senhor poderoso,
que num sopro liqüefaz os cumes dos montes,
Cristo e a todos os bem aventurados com súplicas pedem
derrotem os inimigos. Com o coração ardoroso
esperam as futuras pelejas e refazem as forças.
Já a aurora afastara do céu as sombras da noite
despojando as terras do negro manto de trevas;
erguem-se lestos, decididos a exterminar o inimigo
e devastar-lhe com a vingança do fogo todas as casas.
Avançam em ordenadas fileiras pela selva, coberta
de verde ramagem, e a quantos inimigos encontram
dão morte cruel; devastam os campos e lançam nas ocas
o incêndio. Infatigável o soldado ora arroja seus passos
a montes altos, ora desce ao fundo dos vales,
ora se arrasta por sendas difíceis, até que altíssimo cume
de monte escarpado põe termo ao longo caminho.
Aí fundo vale parece descer ao abismo do inferno,
sombreiam-no impressionantes matos de densa folhagem,
divide-o em duas partes uma torrente em cascatas,
que enche toda a floresta do seu rouco murmúrio.
O monte, que ao lado se ergue, se vai às nuvens, de altura,
áspero de escalar; só existe caminho, e difícil,
por estreito trilho. Assombram à direita e à esquerda
precipícios medonhos e rochedos inacessíveis.
No cume do monte se alinham as defesas, formadas
de grandes troncos de árvores e de pedras enormes.
Aí se aglomera a flor da juventude inimiga.
Estremecem a princípio os nossos e desfalecem à vista
do cabeço que julgam inexpugnável: incute-lhe forças
Aquele que abala o mundo com um aceno de fronte.
Exortam aos companheiros os chefes do exército: “Vamos!
confiança no Pai dos céus: confiança em Deus poderoso
que move os astros! Ele próprio com sua força divina
esmagará o feroz inimigo. Jovens, à cidadela!
passo firme e avante!” Então precipitam-se os jovens
tentando a escalada. Ribomba o céu aos clamores,
ecoam as escarpas, respondem os vales profundos.
As hordas selvagens contratacam de cima do monte,
levantam o grito de guerra que reboa na altura,
e vibram fremindo os arcos; furor guerreiro os sacode,
e logo despejam do alto uma chuva de flechas,
cobrindo os cumes verdejantes como uma nuvem.
Assim, quando o vento Sul flagela às vezes os campos,
o granizo despoja dos seus belos cachos as vides
e denso saltita sobre os tetos tragicamente soando.
Há um frêmito de horror nas matas. Os inimigos resistem
com denodo aos assaltantes, rolando pedras enormes.
Mas aos esquadrões de Cristo nem flechas nem pedras
conseguem parar; o soldado, em fileiras cerradas
se arroja teimoso, vence as escarpas, despede certeiro
dardos de arremesso. Chegam às mãos: foge o selvagem.
Persegue-o, alcança-o, mete-lhe a espada, vara-lhe o peito.
A uns a lança de ponta aguda atravessa a ilharga,
abrindo à luz do sol as profundas cavernas da vida
e levando a morte aos membros pela larga ferida.
Outros tombam, fendida a fronte a golpes de espada,
a outros trespassa o coração a seta ligeira.
Pelo solo escorre negro sangue, as matas se encharcam
da muita sangueira. Aqui e ali corpos nus e sem vida
jazem nos caminhos e fundos recessos dos bosques.
Quem poderá contar os gestos heróicos do Chefe
à frente dos soldados, na imensa mata! Cento e sessenta
as aldeias incendiadas, mil casas arruinadas
pela chama devoradora, assolados os campos,
com suas riquezas, passado tudo a fio da espada!
Choraram a perda dos pais os filhos queridos,
carpiram as mães inconsoláveis a perda dos filhos,
a esposa, agora viúva, chora a morte do esposo.
Morreram muito à míngua perdidos na selva,
e, fato horroroso! com as próprias mãos, pais desumanos
mataram os filhos que pelos bosques os seguiam chorando,
para que o choro deles não atraísse o inimigo.
O terror se estendeu, estendeu-se o luto profundo:
tudo eram lágrimas, prantos e espectros de morte.
Já há quinze dias, a estrela da manhã, ressurgindo
do fundo oceano à frente do carro do sol resplendente,
contemplava nosso exército a percorrer densas matas,
incendiar casas, talar campos, matar inimigos.
Era tempo de voltar aos lares, rever as igrejas,
casas de Deus, levando em triunfo o pendão da vitória.
Mas o feroz inimigo ardia em ira indomável,
como a ursa terrível, a que há pouco roubaram as crias.
Desgostoso da vida e de uma tranqüilidade forçada,
resolve atacar os batalhões que voltam sem ordem.
Já estes chegam às barcas, quando os assalta o selvagem
sem medo à lâmina da espada e aos mortíferos tiros.
Em seu peito valente, o Chefe não sofreu tal descaro:
manda retroceder aos soldados e ele próprio se atira
aos inimigos que atacam, sobraça a lança medonho,
esporeia o cavalo e lhe solta as rédeas inteiras.
O animal fogoso se lança ferindo a terra e atropela
com as patas ferradas e esmaga esse bando de loucos.
O herói, com o braço fulminante, vai vibrando seus dardos;
com o peito varado lado a lado, vão tombando os selvagens.
Os soldados, atrás do Chefe, juncam de mortos a praia.
O resto do bando foge para o esconso abrigo das matas.
Embarcam pois os nossos em demanda das praias amigas,
e ferram finalmente o porto as quilhas cansadas.
Logo que o herói, cercado de seus batalhões triunfantes,
pisou terra, ressoaram de toda a parte louvores
ao Deus eterno. “É ele que estende as trevas da noite,
qual negro manto, por toda a vastidão do universo;
e ilumina o mundo com a luz suave da aurora.
É ele quem prova os mortais com a pobreza penosa
e cumula de dádivas largas e abundante fartura.
Ele quem deprime as alturas até o fundo dos vales
e ergue as terra chãs até a altura dos astros.
Ele mostrou as forças divinas da destra potente
e os milagres de seu braço; expulsou os soberbos
dos desígnios de seu coração, e de seus tronos sublimes
aos poderosos: aos pequeninos ergueu às alturas,
e dadivoso cumulou de muitos bens e riquezas
aos que a negra fome oprimia, deixando famintos os ricos;
aos débeis encheu de força e aos cheios de força
despojou, quebrou-lhes os escudos, partiu-lhes os arcos.
Ei-los prostrados, os fortes! e com eles armas e dardos:
o medo e o pavor invadiu os bandos selvagens.
Estupefatos estarreceram, como mármores rijos.
Como o pó se desfaz e dispersa ao sopro do Norte furioso,
assim se desfizeram os bárbaros à vista de Cristo
e foram despenhados nos escuros abismos da morte”
Assim descantavam todos, as mães e as esposas,
os meninos e os velhos trêmulos. Eles todo o tempo ansiosos,
enquanto os soldados cristãos devastavam o solo inimigo,
erguiam preces e mais preces ao Deus das batalhas,
para que refreasse a cólera e o furor dos selvagens,
e o exército fiel alcançasse completo triunfo.
Já agora exultam de gozo, já tudo revibra
de ruidosa alegria, entregam-se a danças e cantam
à volta do grande Chefe, desfraldando a bandeira
da cruz vencedora e das cinco chagas que tu, ó Cristo,
sofreste em teu corpo exangue pelo gênero humano,
e que domaram para sempre o feroz tirano do inferno.
Os canhões em salva vomitaram tiros horrendos
com ribombo medonho, enchendo o céu de fumaça.
Tudo dá sinais de desusada alegria: ressoam
as casas em festa, as ruas se apinham
de gente, que aclama o Chefe e o precede ao templo sagrado.
Aí o exército, que tornara são e salvo, entre louvores
e justas ofertas, rende a Deus graças do íntimo d’alma.
Depois acompanham o Chefe ilustre até ao seu paço.
Três vezes a aurora afugentara dos céus os astros noturnos
e a fronte orvalhada lhe brilhara aos raios solares,
quando apareceram, singrando o mar, com muitos remeiros,
algumas canoas: vinham em direção da cidade e traziam
os inimigos que tantas guerras e derrotas prostraram.
A que vêm? porque agora visitam os litorais inimigos
de boa mente? que trazem? Armados os guerreiros esperam.
Eis que pisam a praia e vêm arrastando dois índios
de braços nus amarados, de cerviz e fronte caídas,
outrora tão altivos. Suas mãos estão úmidas ainda
do sangue cristão que derramaram há pouco.
Colocam-nos aos pés do Governador e suplicam,
já tímidos, que deponha ira e expulse do peito
o justo rancor: “De nosso sangue sorveu a terra bastante,
dizem eles, tingimos de rubro as nossas florestas
com o sangue dos pais, dos irmãos e dos filhos queridos.
Choram a morte de suas esperanças as mães desgraçadas,
os filhos procuram, ainda em vão os pais que o sepulcro
escondeu. No fundo das matas a fome impiedosa
corta com morte horrenda a vida dos errantes.
Derrocou as aldeias todas a fúria do incêndio;
os campos talados pela guerra não nos dão o sustento.
Os dois principais e cruéis assassinos dos homens.
que junto da praia lançavam as redes de pesca,
conseguiram, fugindo, escapar à terrível vingança
de teu braço. Ei-los aqui: nós tos entregamos agora:
lavem com o sangue sua culpa, paguem vida por vida!
Vencidos, pedimos paz: já não recusam os ombros
o peso da sujeição. Dá-nos a paz, nós to pedimos, ó Chefe!
Impõe-nos as leis que quiseres, que nós as cumprimos.”
O Governador ouviu com bondade essas palavras
e respondeu: “Se vos fiz guerra cruel de extermínio,
devastando os campos e lançando em vossas moradas
o incêndio voraz, levou-me a isso vossa audácia somente.
Já agora, esquecidos os ódios, vos concedemos contentes
a aliança e a paz que quereis e sentimos vossa desgraça.
Porém, deveis vós observar as leis que vos dito.”
Manda então que refreiem suas rixas contínuas
que expulsem do peito a crueldade e o hábito horrendo
de saciarem o ventre, à maneira de feras raivosas,
com carnes humanas. Também lhes ordena que guardem
os mandamentos do Pai celeste e a lei natural
e ergam igrejas ao eterno Senhor das alturas
em seu torrão natal; aí serão instruídos
na lei divina e de vontade abraçarão com os filhos
a fé de Cristo, porta única do caminho do céu,
Além disso, tudo quanto roubaram dos Cristãos às ocultas
ou por assalto, em tantos anos, os próprios escravos
mortos ou devorados, tudo pagarão e mais os tributos.
Para logo, submissos executam os preceitos divinos,
desejosos de abraçar a fé e ouvir a palavra
da salvação e conhecer o nome de Cristo Jesus.
Finalmente, ó Bárbaro, se abriram as portas de ferro
de teu coração, por tantos anos fechadas!
Enfim, o teu peito mais duro que o bronze fundido
já se abranda e tua alma despe a dureza de pedra!
Essa raça altiva, apaixonada por guerras sangrentas,
acostumadas, de há tanto, a devorar, como tigres,
carnes humanas e a viver impune em altos rochedos,
sem jamais acertar o aperto de mão dos Cristãos,
eis que jaz vencida e submete a cerviz alterosa
ao jugo da lei. A que lançava ameaças terríveis,
há pouco, livra-se agora das cadeias do inferno,
escapa das fauces do leão que rugia à sai volta
e entra para o teu rebanho, ó Jesus, bom pastos!
Tu lhes embebe os seios áridos com o orvalho divino,
como chuva abundante que nuvens prenhes derramam,
e lhes abrandas as almas, duras como blocos de mármore.
Como outrora, às tuas ordens , a natureza aterrada
arrojou um rio de água do penhasco sequioso:
assim agora corações-rochedos se abrandam.
Regadas pelas tuas águas, fecundadas pela torrente
da palavra divina, suas almas serão novas fontes.
Depois que tais feitos realizara o Chefe piedoso
por amor da fé, e, firmado na força divina
de Cristo potente, destroçara o feroz habitante
dos montes inacessíveis, terror dos cristãos tantos anos:
prepara-se para ir às praias, onde bárbara gente
espostejara a muitos cristãos juntamente com o Bispo,
conspurcando as mãos ferozes com sangue inocente.
Talvez agrade conhecer os derradeiros sucessos
do Bispo. Serei breve: mais uma vez renovo forçado
a dor passada às almas, provoco o pranto dos olhos
e reabro com o verso cicatrizadas feridas.
Era o tempo, em que ao sopro do Sul o nauta abandona
as praias brasílicas em direção dos reinos que jazem
sob o Boieiro que guia seu carro de estrelas. O Bispo,
com inúmeros cidadãos, embarcou mar em fora
da cidade do Salvador, rumo ao litoral das Espanhas.
Os ventos propícios enchiam o bojo das velas
e alisavam o oceano, como um afago celeste
às naus que sulcavam as ondas do mar espumoso.
De repente trovões começam de ouvir-se rolando
na amplidão do céu, medonhos relâmpagos chispam
do embate das nuvens e as alturas se desfazem em raios.
O vento Sul se atira torcendo em vórtices as ondas
e sacode em turbilhões horrendos o mar tenebroso,
que se enfurece ao peso da borrasca, ergue em montanha
as águas turvadas e as lança raivoso às alturas.
Tudo é confusão: range ao embate das ondas inchadas
a nau que os ventos fustigam com as cordas da chuva.
O piloto já brada do alto da popa: “Marujos,
recolher velas, depressa! soltar as enxárcias...”
“sopra o Sul, depressa!” ergue-se a grita da gente,
precipitam-se todos a uma a soltar as amarras,
e sobem velozes aos mastros e recolhem as velas
e abatem as vergas. Tudo ferve em tumulto feroz!
o terror invade a todos e a todos agita.
Entra o medo, já tremem de horror e o espectro da morte
se agarra teimoso aos olhos espavoridos da gente.
Do alto da popa lança-se então a âncora , para
firmar com o dente férreo a nau: última luz de esperança!
Mas uma onda em montanha se quebra contra o costado,
arranca das mãos a corda e arroja a nau às alturas.
A tempestade horrenda em rugidos imenso se assanha
cada vez mais contra o mar e, prostrando-o às rajadas
revolve e arroja montanhas de água espumosa.
Próximas já estão as praias da bárbara terra
onde o índio feroz habita, em inacessíveis florestas,
ocas escuras que ressumam densa fumaça:
Entre cantos contínuo o bárbaro coze seus vinhos
sobre grandes fogueiras e enche de uivos o espaço.
Aí a terra está sempre empapada no sangue
dos pobres prisioneiros, a quem os malvados esmagam
as cabeças com crueldade. Pendem dos tetos escuros
carnes humanas, assadas ao fumo das brasas,
enquanto os crânios desnudados dos cabelos e os ossos
despojados das carnes se colocam à entrada das portas.
As ondas ameaçavam os nautas de morte iminente:
todos com o Bispo procuravam abalar com as preces
os céus: um rio de lágrimas lhes banhava o semblante
e gemiam: “Pai bondoso dos céus e tu, Cristo benigno,
que nos preparas? dizei-nos : permitirás que morramos
no meio das ondas, ó Pai? que sejamos vil pasto
dos peixes vorazes? A morte que nossas culpas merecem
será esta? Socorre compassivo estes teus infelizes,
pelos quais suportaste as ondas do mar agitado
de tuas Paixão e te submergiste na tempestade da morte.
Se nossos pecados movem o furor da tua justiça
que te aplaque a inocência: porque morrer as crianças?
que crime fizeram elas?... Vem auxiliar teus remidos,
Redentor nosso, não nos trague o negro abismo dos mares.
Desgraçado que somos! ao naufrágio das almas pelo pecado
segue-se o naufrágio dos corpos no mar... e tu não nos ouves.
Não nos castigues logo, dá ao arrependimento seu tempo,
Cristo bondoso, para lavarmos nossos crimes com prantos.”
Assim em vão oravam, assim de contínuo gemiam.
O oceano cruel em turbilhão os acomete de flanco
e por desgraça arroja a nau sobre duros rochedos.
Assaltam-na as ondas que esbravejam de escuma,
batem-na contra os escolhos e com roncos furiosos
e despedaçam: soltam-se as tábuas, ameaçam os mastros
medonha ruína. Eis que alguns se atiram às ondas
para salvar-se a nado: mas a onda torva os arrasta,
os envolve e os atira aos rochedos brancos de espuma.
Outros de melhor parecer num escaler se acomodam
e à força de muitos remos se dirigem à praia.
Mal desembaraçados, com os corpos úmidos d’água salgada,
para o logo o gentio malvado lhes sai ao encontro:
traz no peito feroz o ardil preparado,
e dá provas de fingida amizade; acolhe os cansados
e necessitados náufragos e os conduz às ocas traidoras.
Põe-lhes alimento, acende fogueiras para aquentar-lhes
os corpos gelados e os membros que tiritam de frio.
A que excessos não obrigas os corações dos selvagens,
ó execranda fome de carne humana! Apressada,
a turba feroz percorre as aldeias vizinhas,
prepara arcos e flechas, aconselha as foices recurvas
e tacapes pintados, enquanto os outros, com vozes amigas
e mesa posta, enganam aos que nada de mal suspeitavam.
Afinal descobrem as ciladas e gemem: “salvos do abismo
e das tormentas do mar, será possível que agora
sejam espostejados, por dentes selvagens, míseros corpos
que o mar furioso poupou? Só isso faltava à sua desgraça?”
Fogem pois dos antros traiçoeiros e buscam as praias
de novo: pressurosos percorrem areais ignorados
homens alquebrados pelo trabalho, delicadas donzelas
e pacíficos meninos. Oh! se houvesse algum modo
de escapar às fauces cruéis! Mas já o feroz inimigo
lhe corre ao encalço e enche as praias de hórridos brados,
insultando aos desgraçados. Já voam as setas de longe
e trespassam, sem dó nem piedade, ora uns, ora outros.
Os golpes destroçam a pobre multidão indefesa:
como quando lobos dos montes se abatem sobre um rebanho
de mansas ovelhas: lá vão horrendos, pungindo da fome,
ameaçando mortes; os cruéis dentes se fincam
nas goelas das vítimas, rasgam e sugam o sangue
e devastam com muitas mortes a grei inocente.
Chegam por fim a um rio de leito profundo
que lhes barra o caminho. De um lado as águas os cercam,
do outro, em transportes de fúria cruel, o inimigo os ataca.
Começa a matança: a este mil setas varam o peito
todo ensangüentado, àqueles o tacape parte a cabeça,
a outros o ferro da espada rasga as entranhas.
O chão estremece ao baque dos corpos feridos,
e o sangue em borbotões tinge as brancas areias.
Oh! quem conteria as lágrimas, quem do fundo do peito
não arrancaria gemidos, ao ver morrer as donzelas
de morte ignóbil. Cruéis despedaçam com golpes ferozes
os delicados corpos, fincam-lhes paus sem pudor nem respeito,
e assim as arrastam com fúria pelas praias bravias.
Espetáculo infame e indigno de ver-se! Que sentimento
experimentaste, malvado, ao perpetrar tais crueldades?
que ódio penetrou teu coração feroz ao trespassares
tenras carnes com paus agudos, ó sangüinário?
ao arrastares pelas praias do mar que gemia
despedaçados corpos femininos, e ao contemplares
todo o litoral em sangue empoçado?
Entretanto, sobre troncos amarrados com vime flexível
o Bispo atravessa o vasto espaço do rio.
Da parte contrária acodem os cruéis inimigos,
vencem a distância a nado por vaus já bem conhecidos.
Espumam as águas: entre gritos horrendos, preparam-se os índios
à matança impiedosa. Corre o Bispo para a úmida praia
e, caindo, seus joelhos cansados se afundam na areia.
Ergue mil preces ao Pai celeste, e nos termos que pode,
assim fala ao bando furioso: “Sou eu, sou eu mesmo
o grande abaré! porque procurais dar-me a morte?”
mas que suspiros lhes dobrariam os loucos intentos,
que queixumes ou lágrimas? seria mais fácil
comover leões da África ou leopardos ferozes
do que com rios de prantos dobrar esses selvagens
acostumados a fartar o ventre com carnes humanas.
Assim clama ele em vão, ajoelhado na praia.
Rápido, vem-lhe ao encontro, pela parte contrária
o desalmado inimigo, de espada em punho. Cego de raiva,
com a foice recurva lhe fende pelo meio a cabeça,
afeiando a fronte ungida, com ferida de morte:
ele caindo forma na margem vasta mancha de sangue.
Os membros todos lhe desfalecem aos poucos: em breve,
espetáculo lastimável, exala o derradeiro suspiro.
Foi este o fim do grande Prelado, quem por primeiro
regeu as plagas brasílicas, de báculo, mitra e tiara.
Glorioso outrora, ei-lo estendido na margem do rio,
cadáver inundado de sangue, e, ó cena horrível!
todo despido, todo ferido, sem a paz do sepulcro.
Assim o braço impiedoso deu morte infamante
a muitas vidas, juncou a terra de cristãos, imolados
cruelmente, banhando as praias com sangue inocente.
Ei-los que jazem nus os corpos dos portugueses crivados
de enormes feridas, mesa posta à rapina das aves
e à gula não menos feroz dessa bárbara gente.
Muitos poucos escaparam à matança, escondidos
em densas florestas. Passados mil riscos de mar e de terra
chegaram por fim ao refúgio cristão a cidade
e aí deram notícia de tão inesperado desastre.
Quem terá palavras para narrar a dor que pungiu
os corações de todos? os gritos loucos das mães,
aí! pobres mães! que tanto choraram os filhos perdidos!
Soltas as tranças ao colo, arrancam de dor os cabelos,
arranham com unhas crispadas as faces em pranto,
e ferem de contínuo os peitos com os punhos cerrados.
Também os filhos órfãos choram seus pais falecidos,
o irmão lamenta a irmã que a morte roubou impiedosa,
a irmã ao irmão assassinado barbaramente,
a esposa ao companheiro querido que a deixa viúva.
Dão todos largas ao pranto e às muitas lágrimas juntam
a indignação pela morte nefanda do Bispo.
Lamentos, fundos gemidos e queixas sentidas
enchem de longos rumores todas as casas.
Estava o Governador valente decidido a vingar-se
dessas mortes cruéis e a domar o feroz inimigo
com represálias: se maiores combates não o chamassem
a outro campo. Maiores trabalhos pela honra de Cristo
e pela conquista da verdadeira glória o esperam.


LIVRO IV



Longe daí, onde o Sul proceloso com chuvas freqüentes
açoita as terras e os plainos imensos do mar turbulento,
aonde chega o sol, completado quase o giro do ano
e percorridos em seu carro de luz os signos celestes:
os inimigos tem seus campos voltados para as túmidas ondas
do oceano, e numerosas aldeias junto às áridas praias,
e outras muitas sitas ao ocidente, pouso do Zéfiro,
construídas ora nos campo, ora em meio de densas florestas.
Estes provocam em guerra contínua aos portugueses
cujas povoações não distam muito das deles.
Aprisionam os homens traiçoeiramente, saqueiam
as propriedades sem guarda, lançam o incêndio nos campos
e cometem mil assassínios em freqüentes sortidas.
Com eles tratam, ávidos do comércio da bárbara gente,
os Franceses; trocam mercadorias, e com luzentes espadas,
foices, anzóis, tesouras em grande número, amansam
os corações ferozes dos índios e recebem em troca
o pau brasil, que serve para tingir de vermelho
as vestes, a acre pimenta, aves variegadas
e os animais que imitam as maneiras humanas.
De há pouco tempo, com o correr silencioso dos anos,
erguem a cabeça altivos e arrastados pela cobiça
querem para si o que os lusos com grande trabalho
alcançaram. Movidos pois de furiosa coragem
usurpam reinos alheios, fundam em altos rochedos
fortaleza possante e a cingem com todas as armas.
Mais ainda: com o coração infeccionado pela heresia,
e com a mente opressa pelas trevas do erro,
não só todos se afastam do reto caminho da crença,
mas procuram perverter, assim dizem, com falsas doutrinas
os míseros povos índios, de todo ignorantes.
O Governador prepara uma esquadra para expulsá-los
das terras mal havidas: esquipa com armas luzentes
muitas naus e as enche de escolhidos soldados.
Chega o dia em que manda largar porto à esquadra:
desligam-se as amarras e ouve-se a grita alternada
com que disfarçam o trabalho penoso os marujos
endurecidos às intempéries dos sóis e das chuvas.
Uns puxam as cordas entesadas pelo peso avultado
e enrolam-nas no cabrestante ao passo que sobem:
enfim aparece a âncora nas fortes mãos. Outros abrem
as velas bojudas e erguem ao alto as antenas. Uns sobem
à ponta dos mastros firmando, nos nós e nas redes
das muitas cordas, as mãos e os pés. Outros seguram o leme
com os braços robustos e todo o peito. Fora, o oceano
rouqueja ao redor; dentro, entre clamores variados
fervilha a faina. Para as plagas do Sul voltam-se as proas,
enchem-se em bojo as velas, ao sopro do Norte assobiam
as enxárcias estiradas, muge o mar sob o peso das popas
e a quilha calafetada rasga profundo sulco nas ondas.
Finalmente junto às desejadas praias as popas deslizam
e de noite fundeiam no porto: presa ao cabo traseiro
a âncora denteada morde o chão e firma os navios.
Quando a aurora em seu manto de luz trouxe ao mundo
o novo dia, eis que aparecem nos altos rochedos
as torres soberbas, cingidas de toda a sorte de armas,
e as fortificações escavadas em vivo granito.
Por acaso, nessa ocasião, os Franceses se achavam dispersos
pelas várias aldeias dos índios; poucos vigias guardavam
a fortaleza. Ao avistar a esquadra, apavoram-se os guardas.
Dá o toque de recolher a corneta estridente
e a todos chama à fortaleza o sinal da fogueira.
Daqui e dali acorrem todos e apressados se acolhem
aos ninhos altaneiros, como fazem as pombas
quando em dia cálido, ao sopro do Norte, vagueiam
pelos prados em busca do variado biscato campestre:
Mas se o vento Sul se levanta e negrejam as nuvens
e se entrechocam nimbos e se ouvem trovões reboando
no céu escuro: então fogem rápidas, deixam os campos
e, ruflando asas, se escondem nos pombais sossegados.
Uma nau francesa carregada de inimigos e armas
estava surta no interior do porto sinuoso.
Por ordem do Governador para lá se dirige
pequena galé, que a ataca e rende: salvam-se apenas
a nado os índios com os franceses acolhendo-se à praia.
A nau rendida é ligada à popa da nossa: a fortaleza
tenta impedir-lhe a volta com projéteis incendiários
e o monstro de ferro vomita suas bolas de fogo.
Com a ajuda divina, em vão as balas cortam os ares:
antes, a pólvora explode no paiol inimigo
a um centelha, e o fogo em turbilhão num momento
envolve e engole desprevenidos a sete soldados.
Infelizes! começam já a sentir as chamas do inferno
em que os ímpios corações, manchados pela heresia,
sofrerão o eterno castigo que seus crimes merecem.
Mas. viu o piedoso chefe que tal guerra só se faria
a peso de muito sangue e ao preço e muitas cabeças.
Compassivo, preferiu evitar a crueza da guerra
e tenteando a via da paz, ao general dos Franceses
mandou estes dizeres num pequenino bilhete:
“A fama, general gloriosos, te canta como excelente
em feitos prestantes, e longa experiência da guerra
e também as belas artes todas te poliram a alma.
Não creio pois que te hás de lançar a empresa tão árdua
para defender uma causa injusta, contra todo o direito
divino e humano, com a morte de tantos soldados.
Essa terra que habitas é nosso domínio intangível:
pois que a conquistou o trabalho esforçado dos lusos.
Se te aprouver abandonar nossos reinos, de grado,
como ordena o nosso e vosso rei, será suprimida
toda a ocasião de manchar nossas destras com sangue,
e nada sofrerá por isso a tua honra de chefe.
Doutro modo, decididos estamos a atacar sem piedade
a fortaleza e a travar horrendo e cerrado combate,
manchar as mãos de sangue e a tingir de vermelho
as naus, os rochedos e as praias brancas de areia.
Fa-lo-ei contra a vontade, testemunha me seja
Deus aqui presente: tu só darás conta tremenda
do que suceder, no tribunal do Senhor. Responsável
tu só o será dos crimes, das ruínas e sangue
que se derramar: do alto do céu nos contempla
Cristo que um dia virá julgar-nos os atos da vida.”
Às linhas do Governador, assim respondeu o Francês:
“Qual seja melhor ou mais justo partido, ótimo chefe,
não cabe a mim decidi-lo, é alçada daquele
por cuja ordem habito os litorais do Brasil:
foi ele quem me confiou a defesa do forte.
Foi mandado de Henrique, o soberano, a fortíssima torre,
que vês, ergue a fronte até os lumes celestes.
Sem ordem do grande Francisco, a quem coube por dita
o governo da França, que dirige os destinos da pátria
de cetro ilustre na mão e coroa na fronte,
jamais abandonarei essas muralhas que erguemos.
Vive eternamente o juiz do universo
que pesa as culpas de cada homem em rigorosa balança:
Ele me guardará as mãos puras de todo o atentado
e livres de todo o sangue: tu vê bem a guerra que intentas.
Temos grande soma de munição, espadas luzentes,
artilharia rija, dardos incendiários, armaduras
para proteger os corpos afeitos a guerras contínuas.
Tudo enfim está bem preparado: aqui estou eu a postos
para defender os rijos muros da fortaleza.
Vamos pois! prontos estamos para a defesa do forte”!
Esta a resposta que o chefe Francês remeteu ao herói.
Que cega loucura, ó Francês altivo, que soberba tamanha,
que incêndio de cólera te invadiu a cabeça?
Rejeitas a paz que te oferecem? Com que auxílio confias
conservar a vida? Cruéis batalhas te aprestam
a morte, nem pouparão a pequeno nem grande.
Tanta confiança te inspira o alcantil desse forte?
Sim, mas não é fácil ao Senhor, desde seus fundamentos
arrasar garbosas cidades e espatifar contra o solo
altaneiras torres? Ele que sacode as muralhas do mundo
e com um aceno aterra os firmamentos celestes?
Enquanto correm estas negociações de uma parte e de outra
o general português manda pedir à cidade,
que se ufana do nome ilustre do Mártir Vicente,
enviem reforços e tropas índias de auxílio.
Inflamaram-se os corações: preparam ligeiros
naus velozes e armas e, sem tardar, conforme o pedido,
chegam, e com eles a flor dos guerreiros brasis,
na mãos esquerda o arco e na direita as rápidas flechas.
Vejo com seu Irmão de Ordem um sacerdote adestrado
armado com o raio inflamado da palavra divina,
membro da Companhia de Cristo Rei, para o soldado
confessar suas faltas e lavar suas almas das manchas,
antes de entrar no combate, onde talvez deixe a vida.
O restante do povo os ajuda, erguendo preces ao alto;
todo o sexo piedoso, com as crianças e os velhos,
suplicam ao Senhor e aos Santos do céu a vitória.
E que direi dos Jesuítas e dos ministros sagrados?
Dia e noite, com fervor sua mente e seus lábios se voltam
ao Pai celeste, ao Filho divino e ao Espírito Santo
a se atribui igual felicidade,
igual poder e igual glória nas moradas eternas.
Pedem-lhe que os auxilie e dê aos nossos guerreiros
a mais gloriosa vitória e o mais estrondoso triunfo.
Foram eles, estou certo, que com seus gemidos e queixas
comoveram os céus e lhes abriram as portas da graça;
eles que, dardejando do peito ardente setas de fogo,
moveram o Pai eterno a prostrar o inimigo,
incutir-lhe terror e afugentá-lo para longe do forte.
Vinte vezes a aurora erguera ao mundo o manto de trevas,
desdobrando sua púrpura sobre o pálido rosto.
O Governador prepara-se para o ataque do forte:
reúne os conselhos dos chefes, ainda que saiba
a relutância de todos. Diziam eles que não era possível
com armas algumas escalar o forte, cercado
por rochas enormes, defendido por construções numerosas.
Mas o chefe magnânimo tinha a peito acima de tudo
propagar a fé. Apoiado de força divina,
sozinho opõe-se a todos e não sofre que o dobrem
discursos alguns: atira-se ousado contra o impossível
e procura vencer os perigos da empresa que intenta:
tal o rio, que lavradores represam com grandes
barreiras de troncos e desviam para outras bacias,
vai pelos campos vizinhos em regas estreitas,
mas continua a lutar com esforço contra a represa,
até que, forte pela massa das águas, rompe a muralha
e em turbilhão se alarga como vasto oceano.
Logo que se reuniram todos os maiorais em conselho,
o governador expõe o desígnio que guarda no peito,
e no meio da assembléia profere estas palavras:
“Chegamos, senhores, ao termo: estou enfim decidido
a atacar a fortaleza altiva: bem sei a posição estratégica
do lugar e as construções montadas de inúmeras peças,
os muitos braços do inimigo e os Franceses postados
a perder a vida ou salvar o forte a preço de sangue.
Mas que são essa forças para a onipotência divina?
Porventura é difícil arrasar as torres mais altas
ao Senhor que a um aceno faz tremer o palácio celeste?
Não é ele homem a tremer de batalhões de soldados
embora cruéis: ele desconhece os terrores dos homens.
Ele incutirá forças e ajudará compassivo
a causa do justo e do fiel e com a destra potente
abaterá e esmagará o inimigo, castigando co’a morte
corações ímpios, vazios da fé verdadeira.
Confiados pois na força do Deus invencível,
lancemo-nos à grande empresa para glória divina.
Preceda-nos o estandarte fulgente do triunfo de Cristo,
e a desejada vitória seguirá a bandeira da Cruz!”
Esse grito que o chefe arrancou do peito ardoroso
arrastou todos ao seu parecer: já o peito dos bravos
se acende no anseio das batalhas furiosas.
Estuam as almas impacientes de ir arrasar
as fortificações francesas e entregá-las às chamas,
ou generosas perder a vida em morte gloriosa
pela causa santa da fé e da gloria divina.
O próprio chefe, conduzido em batel, passa em revista
a todos e manda que as naus avancem em ordem.
Distribui seus homens: que todos cumpram seu cargo
e guardem seu posto, quando começar o combate
e se atirarem à refrega. Então purifica sua alma
das culpas e a fortifica com as armas de Cristo,
caindo de joelhos aos pés do ministro sagrado.
Muitos imitaram o belo gesto do chefe
e de coração sincero lhe seguiram o exemplo,
purificando suas almas, manchadas de culpas.
Chegara o dia que veria as batalha sangrentas
de corpo a corpo, e de bandeira contra bandeira.
Do alto da popa o almirante toca a trombeta,
os homens em entusiasmo ardente se erguem de um salto,
lançam mão à obra, arregaçam os braços robustos
e com grande grita recolhem os cabos pesados
para soltar a proa. Abrem as velas bojudas
que a aura suave, vinda do vasto oceano
enche imediatamente com o afago do sopro.
O sol volve seu carro de ouro ao completar a subida
íngreme do céu. As proas em bico fendem as túrgidas ondas
em demanda das ameias da fortaleza inimiga.
Há uma ilha pequena no meio da vasta baía
que o mar rodeia, de todas as partes, de ondas:
cercam-na rochas e as praias do continente vizinho
donde saem as naus que vão para o oceano
através de estreitas portas, as quais divide uma laje
pela metade. Aí outrora construíram um forte
os Franceses: porém carregou-o a força das ondas.
Agora esta outra ilha ergue suas torres ferozes,
forte por sua rochas inacessíveis, fervendo ao embate
do mar furioso e gemendo ao som de grutas soturnas.
Para o lado do ocaso se levanta a pequena colina:
uma que outra palmeira ao longe a cobre de sombra
com seus verdejantes leques. Perto dessa colina
está enorme rochedo talhado todo ao redor
pelo picão tenaz. Em cima da pedra imponente
se eleva o baluarte altivo, prenhe de artilharia.
Mais além há uma pequena altura e à sua direita
uma cisterna, com casa dum lado e doutro, repleta de água.
Bombardas numerosas defendem as estreitas veredas.
Entre estas e a cisterna há enorme abertura,
onde as ondas remugem espumando de raiva.
Ponte de um pau dá estreita passagem por cima do abismo.
Transposta esta, do lado da aurora esplendente,
depara-se um monte que parece subir às estrelas,
com escarpas a pique em redor. É impossível
subir por aí ao cume, ou descer de lá para baixo.
Um só caminho escarpado e estreito conduz à altura:
talhou-o na pedra, à força de golpes teimosos
e muito suor, o duro picão dos Franceses.
E protegeu-o com baluartes de alvenaria. No cume
ergue-se a torre sob armação de grossos madeiros
defendida por bombardas e pela estratégia do posto:
o rochedo todo é inacessível e se lança às alturas
qual gigantesca montanha e inexpugnável penhasco.
Assim pois os navios, túrgidos de brisa os velames,
vêm sulcando a planície do mar: em direção do oriente,
já volvem as naus maiores para, do meio das ondas,
atacar a fortaleza com suas terríveis muralhas.
Canoas velozes, prenhes de soldados e armas fulgentes,
se dirigem ao litoral crivado de escolhos
e atacam a colina das palmeiras, onde os franceses
postaram inumerável guarnição de selvagens,
que a defendam afastando os esquadrões portugueses.
Bem sabia o Francês que essa fortaleza altaneira
só daí podia ser atacada pior flechas e balas.
mas de nada adianta às pobres forças humanas
provocar o Onipotente: o chefe inspirado pelo alto
manda volver à esquerda, que o Sol refulgente desperta
quando sobre os corcéis da aurora deslumbra o oceano.
Manda voltar velas às outras naus e tomar de corrida
a praia para onde forte arroio corre de altas florestas
e se mistura ao mar. Era para que o incauto inimigo
cresse nos apertava grande falta de água
e enganado por essa idéia abandonasse a colina.
Foi um instante: apenas viu o bando inimigo
que as naus a velas cheias voavam para esta abertura,
precipita-se da colina em desordem e sobe
às canoas ligeiras e deslizando no dorso das vagas
ocupa o litoral sinuoso e em vertiginosa carreira
se atira às torrentes marulhantes afim de poderem
afastar das águas límpidas ou trucidar nossos guerreiros.
Loucos! deveriam ter ficado no sítio marcado
para afastar do acesso à colina os soldados intrusos,
único posto que permitia o ataque do forte.
Mas aguilhoada pela paixão infrene do sangue,
a instável multidão em vão se arroja e furiosa
e tresloucada vence o grande espaço de areia.
Entretanto, voltando as velas com vento propício
nossos barcos armados ferraram a colina das palmas.
Sem hesitar um momento, de todas as naus os guerreiros
rompem como chama de fogo, pelo meio das rochas,
escalam de um salto a colina, ocupam-lhe os cimos,
escavam fundas trincheiras e no alto do cume
fincam vitoriosa a bandeira da cruz resplendente.
Outros correm às naus e entre gritos possantes
arrastam o falcão: num momento, ei-lo postado
no cume a vomitar incêndios, da boca tremenda,
e a arrojar pelouros, forçando a cantaria das casas.
Já as balas de ferro arrombam a casa e os madeiros
se desmoronam: responde feroz o Francês arrojando
balas que zunem. Entretanto nosso bronze gigante
atira globos incandescentes do navio fronteiro.
Fere duas vezes a casa, abala-a com toda a força;
e solapa a grande mole: as vigas partidas desabam
em ruína. Fogem os Franceses e pelos penhascos,
seguros a cordas, apressados se escapam
ao alto refúgio da torre. Em grita, nossos valentes
se precipitam do outeiro das palmas e seguem
de vencidas aos fugitivos. Ultrapassando as ruínas
da primeira casa, se arrojam com ímpeto ardente
à segunda colina. Ocupam as águas que a cisterna recolhe,
defendendo-se num parapeito de terra elevada.
Entretanto trovejam horrendas as altas muralhas
e com tiros tremendos espedaçam e arrombam
os navios fundeados no meio das águas.
O bruto canhão vomita em chamas pedras e balas
e cobre o azul do céu de negra fumaça.
O troar medonho acompanha o fogo incessante,
ribombam os céus e geme os espaços imensos,
ringe a terra ao peso do fragor horroroso,
freme o mar mugindo em longo murmúrio.
Dir-se-ia que todo o universo saltara dos eixos:
tamanhos eram o estrondo, a grita e o fogo das balas!
Para o lado do áureo levante, estava postada
junto de um baluarte uma bombarda de metal amarelo
sobre rodas de ferro. De boca enorme, o monstro arrotava
penhascos e balas de metal, molestando à vontade
com tiros contínuos as naus: fere as popas e arromba
um e outro flanco, estilhaça mastros e pranchas
com fragor espantoso. Ora aponta a esta, ora àquela,
e espedaça com um só tiro mortífero os corpos
de muitos soldados. Os conveses se inundam de sangue.
Já não mais podem as naus continuar fundeadas.
Livres das amarras fazem-se ao mar avariadas.
O sol mergulha seu carro luzente nas ondas,
e Vésper desdobrara seu manto noturno de trevas
e na abóbada celeste brilhavam mil luzes de estrelas.
Não se dormia no acampamento; cada qual preparava
suas armas. Da colina das palmeiras o falcão continuava
a bater o alto da torre, arrotando bolas de fogo.
Ressoam vozes e gritos de mulheres nas casas.
Manda entretanto o governador fortificar por inteiro
as trincheiras. Uns contra as balas enchem de pedra e terra
grandes canastras tecidas de vime flexível.
Outros retiram das naus os canhões e os arrastam
com o fragor gigantesco de suas rodas pesadas,
e os colocam em postos escolhidos erguendo em redor
um parapeito de terra. Depois esperam impaciente
as batalhas temerosas do dia seguinte.
Já os primeiros clarões afastavam as trevas da noite
e a aurora tingia o mar com seus raios serenos,
já o sol da orla do horizonte se lançava à corrida
que espalharia mais uma vez a luz pelo mundo:
quando refulgem no alto as falanges francesas
armadas de espadas e longas lanças; os corpos
cobertos de reluzentes couraças. Armados de flechas
aí se acham também os selvagens que tinham voado
à aguada, para derramar o sangue dos lusos,
quando nossas naus voltaram e deixaram as praias
com as águas, ajuntando-se aos seus e enganado
o inimigo cruel que nutria feliz esperança.
Viram-se então enganados, fremiram terríveis
em vão, acalentando cruéis desejos, de novo
vencem num vôo a praia já em vão percorrida
e deslizam nas canoas ligeiras até conseguirem
grimpar pelas rochas espumosas ao alto da fortaleza.
Nossas naus tentaram com balas estorvar-lhes o acesso:
quanto preferiram eles subir à colina das palmas!...
Portanto, índios e franceses, multidão numerosa,
atiram-se ao campo inimigo. Seus gritos abafam
o rumor do oceano. Pressurosos lhes vêm ao encontro
os outros. Travam-se de mãos. Ferve duro o combate
de uns e de outros. Cortam o ar as flechas zunindo
de parte a parte. Geme os arcos ao golpe da corda,
e a bala metálica sibila rente às cabeças.
É um incêndio o ardor da luta. A terra se crava
de inúmeras setas, o espaço imenso se tolda
e o céu se cobre sob o denso granizo das flechas.
Assim, depois que o Sul chuvoso deixou de regar
campos verdes e bosques, e os trovões já cessaram
de sacudir os nimbos; quando arde a atmosfera
sob um sol causticante: sai das entranhas da terra
a formiga, e, deixando os profundos lares maternos
busca nova casa, pouco a pouco, junto das portas
avulta o cicio, ergue-se em enxame cerrado
sobre as quatro asinhas e libra-se nas auras ligeiras
e forma densa nuvem sobre nossas cabeças.
De parte a parte voam nos ares as flechas velozes
e o combate flutua daqui e dali, com sorte indecisa.
Não cedem estes, nem aqueles recuam vencidos;
nem estes arredam pé, nem voltam as costas aqueles.
Enfim, com os membros quebrados do longo trabalho
e rendidos pelo esforço da luta renhida,
afastam-se os dois exércitos de tácito acordo,
este para o acampamento, aquele para o forte altaneiro.
Entretanto, de um de outro lado, vomita chamas horrendo
o canhão; voam incessantes as balas traçando
riscos de luz, na densa fumaça, entre sons pavorosos.
Ora é a bombarda inimiga que arromba o casco das naves,
ora é o nosso canhão que fere a torre altaneira,
partindo traves e parapeitos e portas e trancas.
Já o sol transpusera o zênite de sua carreira
e volvia para o mar seus corcéis apressados.
Os Franceses, como não puderam num primeiro combate
reconquistar em contra ofensiva as águas perdidas,
espumam de raiva e aguilhoados pelo despeito
retomam o combate, fiados em armaduras agora.
Cingem o peito com a couraça luzente, e a cabeça
com o capacete. A mão empunha a espada recurva
e a veste de malha cobre o corpo de alguns dos maiores.
Assim armados, se precipitam da penha, cercados
pela chusma dos índios. Brandem as espadas que chispam
ao sol fronteiro e cortam o ar com golpes freqüentes.
Sem temor algum transpõem a estreita ponte de um tronco.
Começa a chover denso granizo de flechas:
sem cessar os inimigos distendem os arcos e os tiros.
Crivam de inúmeras feridas as fileiras contrárias.
Fúria de parte a parte, de parte a parte golpes tremendos.
Mas os Franceses, com o peito protegido de rija couraça,
já não combatem com dardos, lançam mão das espadas
e se lançam à luta e com ousadia se esforçam
por afastar das águas perdidas os arraiais inimigos.
Já as forças começam faltar aos nossos, cansados
de tanta peleja, já lhes nasce o desejo da fuga:
largar aos Franceses que avançam as águas tomadas.
Eis senão quando um tiro da nossa bombarda arrebata
a dois franceses encouraçados, varando de um golpe
couraças e peitos altivos. Com que fulminados
rolam estraçalhados no chão pernas e braços,
e o sangue que salta tinge armas e pedras em volta.
Fogem os outros arrastando os corpos despedaçados
dos infelizes colegas e rápidos galgam o forte.
Entretanto os cavalos do Sol relinchavam
já próximos do pouso da tarde. Com a morte de muitos
as naus se afastaram da terra. Não mais bombardeiam
os muros da torre elevada: imenso cansaço
prostrara os batalhões que pelejavam em terra,
tão porfiadamente. Não há meios algum para o cerco
do forte altivo, rodeado todo de íngremes rochas,
peças de fogo, valentes franceses e ferozes selvagens.
Ademais um caminho reúne grandes montes de pedras
para prostrar e esmagar os soldados que tentem
escalar a montanha: é esta a única senda
de acesso ao forte. Quem ousará galgar tal muralha?
E eis que um cuidado maior acresce ao cansaço,
surge um estorvo que não podiam sequer esperar.
Na guerra de mar e de terra, gastara-se a pólvora toda,
esse pó, que a mão do destro operário fabrica
de vivo enxofre, de negro carvão e de nitro
em grande fornalha, pó que alimenta a chama furiosa
e aumenta de muito o poder desse elemento.
Que farão dora em diante? com que forças o forte
será atacado, se o fogo mortal com golpe incessante
deixar de derrocar as posições inimigas? contínuos
cuidados vários começam a angustiar soldados e chefes.
Com que estratagemas se acolherão aos navios
eles e os canhões, de tal sorte que não o sinta o inimigo?
A dúvida e o medo de um grande desastre os oprime.
Referve o anseio cruel no fundo de todos os peitos
e a imagem do perigo já paira em todos os olhos.
Então, como creio, o governador, no silêncio da angústia,
arrancou do coração vozes queixosas,
pedindo ao Pai celeste o auxílio que as forças humanas
não lhe queriam dar. Com olhos cravados na altura
lançava para o céu estas palavras de prece:
“Ai! porque nos entrega, supremo Criador do universo,
sem recurso nenhum, aos últimos riscos da vida?
Bem vês que nossas forças, rendidas por imenso trabalho,
já não podem subsistir. Como podes deixar que sejamos
o opróbrio do inimigo? porque zombarão de teu nome
esses bárbaros? porque há de o francês conspurcado
pelo crime feio da heresia, insultar teus soldados
cristãos e fiéis? A coragem nos abandonou por completo,
não resta outra força; compadece-te tu, senão perecemos!
Olha, Pai Celeste, para os que carecem de todo o recurso.
Estende a mão bondosa e sinta teu furor justiceiro.
a raça inimiga. Se soltares as rédeas da ira,
o próprio espaço se armará de feixes de luzes,
lançará em combate suas torrentes de dardos,
e com a destra oculta arrojará seus raios ferozes,
incendiando do bojo das nuvens o forte altaneiro.
Vamos, apressa-te, corre em auxílio e levanta
os que estão a cair; e aos povos selvagens e ímpios
castiga-os! experimentem o imenso poder de teu braço
nossos contrários! enfim arranca dos perigos presentes
o exército cristão que te ama e respeitoso te adora
e por tua glória se atira às mais duras pelejas”.
Ouviu o Rei celeste estas vozes, ouviu juntamente
as que os jesuítas e os povos fiéis nesse tempo
arrancavam do peito, abalando com gemidos e prantos
as portas do céu compassivo. Não houve demora.
Oh! quem pudera sequer imaginar de que modo haveriam
os ferozes Franceses de abandonar um forte tão firme
pela natureza e tão seguro pela arte da guerra?
Mas, eis que Deus chama um ministro do exército alado
Manda-lhe que corte os espaços com as céleres asas
afugente os inimigos do posto altaneiro,
insuflando-lhes o terror pelas trevas da noite.
Cumprem-se as ordens: voa ele veloz pelas nuvens
e segue-o de aspecto horrendo e impassível,
esquálido e lívido, o terror: envolve-o um manto de sombras
e ruflam as asas negras pelos céus nevoentos.
Apresenta duras feições, a morte sangrenta,
cruéis grilhões com ranger de correntes e ferros,
suplícios vingadores prenhes de extermínio e de sangue.
Tal foi o monstro horrendo, miserável e feio
que, às ordens forçosas do Senhor do universo,
um ministro alado, membro da hierarquia celeste,
lançou incontinente dentro das muralhas francesas.
Apenas o terrível temor transpôs os umbrais altaneiros
da primeira porta, já todos dentro começam
a empalidecer; tremem, e pelos membros lhes côa
gelado pavor. Em breve é a fuga por rochas e ondas.
Sem demora, sem descanso: o temor agarra-se aos ossos.
Parecia que o horror cercara saídas e portas,
e logo, logo espadas vingadoras e dardos agudos
e chamas devoradoras se comprimiam às portas.
Tudo incute terror a essas mentes turvadas,
e ameaça, aos valentes de há pouco, morte cruenta.
Do lado em que o Sol se lança à corrida brilhante do dia,
por rochedos abruptos, todos ele, agarrados em cordas,
muito longas e armadas de nós numerosos,
vão-se acolhendo a barcas e através de ásperas rochas
e de agitadas ondas buscam o litoral dos selvagens,
deixando o forte erguido em formidável penhasco,
construções descomunais e inexpugnável rochedo.
Tamanho era o terror que o Senhor Deus onipotente
lhes metera nas mentes e corações apavorados!
Nos aflitos arraiais lusos espalha-se em breve o boato
da fuga pelos rochedos e abandono do forte.
Erguem-se todos à pressa, com a ânsia de verem
esses muros desertos e atingem a parte mais alta
do penhasco, e fincam logo a cruz vencedora
no cimo do forte e aclamam o nome santo de Cristo.
Pasmam da construção gigante, dos rochedos em roda
todos a pique, protegendo em suas dobras edifícios recentes,
dos escolhos em que o mar espuma horrificamente.
O próprio governador, olhando todo esse posto,
que forças humanas jamais com arma nenhuma
poderiam arrasar, do íntimo peito canta louvores
ao deus eterno, que tomou o monte e o forte altaneiro
e com a força de seu braço afugentou o inimigo.
Ó muito amado de Deus, ancião venerando,
por quem batalham os astros da altura e pelejam
o céu e os corpos angélicos, a quem dos fortes celestes
envia auxílio o Pai onipotente: tu, quando
forças humanas não podiam trazer-te socorro,
com tuas preces arrancadas do fundo do peito,
atraíste aos teus desejos o soberano do mundo,
para apoiar teus combates com sua força divina.
Eia, novo ânimo, ancião, no templo celeste
terás por destino a glória, e os coros dos anjos
te cingirão com a coroa de rei triunfante:
depois de sujeitares a Cristo os litorais brasileiros
e ensinares a venerar o nome santo de Cristo.
Entram finalmente nas casas desertas. Dentro se achava
número enorme de munições, cuja força não pode
segurar os Franceses. Mas não se encontrava ali a imagem
da cruz resplendente, nem a dos santos que habita,
o reino dos céus, por cujos merecimentos e preces
o Rei supremo se inclina ao perdão e abranda piedoso
a cólera justa e santa, protege os reinos terrestres
e enche de dons abundantes as almas humanas.
Encontrava-se aí um grande móvel, cheio de livros
que encerram doutrinas crivadas de impiedades e erros.
Martim Lutero os compôs com mente perversa
e mandou a seus filhos observá-los à risca.
Enraivado, muitas blasfêmias arrojou contra o papa,
Sumo Pontífice e contra a Igreja, esposa de Cristo.
Muitas outras vomitou de seus lábios impuros
João Brêncio, raça de Lutero e digno de infâmia paterna:
e o petulantes Melanton de coração mal cheiroso.
Também aí estava a fera que os abismos do inferno
há pouco arrotaram de suas vasas imundas,
dragão inchado de todo o veneno que o mundo
preparou em seus monstros. É Calvino, a serpente
de coleio variado e horrendo, que abraça no rolo
de suas espirais o forte, vibra olhares de fogo
e agita a língua trífida em ruídos de morte.
É este quem te protegerá contra força celeste
Ó ímpio francês? estes são os arcos, estas as balas de fogo
que para ti preparaste? Calvino vencer a Cristo,
Senhor do céu e da terra? em que fúrias ardentes
te consumias, que loucura de ti se apossava
quando, desprezando a bandeira triunfante de Cristo,
pensavas defender com teus venenos de monstro
os muros do forte? Não sabias que o dragão que habitava
as cavernas do inferno, caíra outrora vencido,
quando Cristo estendeu os braços nus sobre o lenho,
santificando com rios de sangue o horrendo madeiro?
Eis o digno prêmio que teus feitos merecem!
Assim alegres todos, no meio do forte vencido
descantam os louvores do Pai onipotente.
Erguem um altar: o sacerdote, na veste sagrada,
celebra o banquete augusto do pão sacrossanto,
que jamais fora aí celebrado: a geração de Calvino
rejeita com impiedade o alimento celeste,
nem crê que as espécies de pão encerram a Cristo.
Então, os soldados vencedores, depois da matança,
atiram-se ávidos aos mal adquiridos bens dos Franceses,
carregam com eles as naus triunfantes, e arrastam
os canhões que tão negras ruínas causaram lançando
seus fogos. Geme sob a massa enorme as rodas de ferro
com horrendo ruído: o batel que os acolhe
mal pode levar aos navios esses pesos gigantes.
Arrasam até aos últimos fundamentos o forte
e abatem todos os bastiões com mãos impiedosas.
Tudo se desmorona, geme a terra ao baque dos pesos.
Com loucos alaridos ajuntam as toras enormes
em altas fogueiras. Obras que há pouco erguiam a fronte
até as estrelas, jazem agora por terra em pedaços,
presa do fogo voraz: a chama se ceva sem freio.
A fumaça cobre o céu de escura fuligem,
e em nuvens densas escurece os orbes celestes,
e luzem as águas rumorosas aos clarões da fogueira.
Como quando o lavrador encerrou nos celeiros
as douradas espigas, despojando de seus frutos os campos:
então lança fogo às hastes secas, sobre a fumaça
às alturas, a relva ao longe vai crepitando,
enquanto os campos se cobrem de escuros resíduos.
Assim ruiu o forte francês desde as cimeiras, e o fogo
num momento reduziu a cinzas esses muros altivos.
Foi Deus quem domou essas iras sem freio, foi ele
que lhes esmagou a soberba: Cristo, sim Cristo
que rege os destinos humanos, a quem obedece
o mundo das orbes, de quem treme a terra espaçosa,
o céu brilhante e o inferno de sombras trevosas.
A força de teu braço realizou estes milagres,
Cristo poderoso; tu meteste no coração dos Franceses
o medo cruel, de ti fugiu a multidão dos malvados,
e aterrorizada abandonou as gigantescas muralhas;
a ti somente se deve, a ti, Jesus, esta glória!
Tu reges com teu cetro os vastos globos do espaço,
e com um aceno guias o mundo brilhante dos astros
volvendo no eterno giro as arcadas celestes.
A ti obedece o sol e a luz com seu ciclo de fases,
os orbes sidéreos, o misterioso lume celeste
e o oceano transparente dos espaços imensos,
a aurora de raios claros e Vésper que cora,
as estrelas do Sul e os astros fulgurantes do Norte,
a primavera e o inverno de gélidas brumas.
Tu governas os abismos e os litorais rumorosos
do mar, habitado de monstros, e suas ondas em luta;
quando queres, o mar, ao sopro turbulento dos ventos,
se indigna e ergue em seus braços tempestades medonhas.
De novo, ao teu mando, o vento indômito deixa
sua raiva, e as ondas mansas guardam fundo silêncio.
A ti obedece a terra, tu lhe fecundas o seio
com as águas das altas nuvens, e ela à tua ordem,
das prenhes entranhas jorra seus alegres presentes,
seu variado tesouro! Tu sustentas a vida
a quanto animal se abriga sob o teto celeste,
pintas as aves de cores e lhes concede a todas
librar pelos espaços diáfanos as penas ligeiras.
Tu é único Senhor do mundo, tu dos globos celestes
é o Criador imenso, que tudo moves, coevo
do Pai e do Espírito Eterno, eterno laço de amor.
Tu, quando criaste os astros do céu sempre em giro
e as legiões angélicas, habitantes felizes da altura,
derrubaste das sedes etéreas, como folha que rola,
a Lúcifer orgulhoso de seu esplendor deslumbrante,
e ambicioso do cetro divino. Lançaste-o nos antros
do fogo eterno com muitos milhares de seus companheiros,
e em vão o dragão te ameaça com os dentes e a cauda.
Tu, quando a raça de Adão, inchada de orgulho,
intentava até às estrelas levantar uma torre,
de tijolos cozidos ao fogo e de negro betume,
que tocasse com o vértice o firmamento celeste
e que lembrasse a sua glória: tu, desceste da altura,
lhes confundiste a língua e com ela todas as obras;
dispersaste os homens por várias regiões do universo,
deixando inacabado esse momento do orgulho.
E, como foi que outrora experimentou tua força
o Faraó que dominava as sete bocas do Nilo,
quando o agitado Mar Vermelho parou de estupefato,
rasgou em meio as ondas e mostrou longo abismo?
Tu abriste ao teu povo uma estrada segura
pelos plainos profundos do mar e nesses mesmos abismos
afogas o rei e sepultas seus carros de bronze.
Quando as águas do Jordão enchiam ambas as margens
e mal cabiam em seu leito, a uma tua palavra
se dividiram e volveram atrás: uma parte
parou e se ergueu à guisa de monte, e a outra
continuou a correr para o mar. Passaram seguras,
de pés enxutos, pelos vaus secos do rio, as fileiras,
admirando ao lado a montanha de águas suspensas.
De ti recebeu a merecida pena de morte
Jericó, a ímpia cidade das palmas, quando ruíram
ao toque das trombetas sagradas as altas muralhas
e se desmoronaram desde os seus alicerces mais fundos.
Então o teu povo invadiu e devastou vitorioso
a cidade inteira e exterminou a fio de espada
jovens velhos e até indefesas mulheres.
E que grandes extermínio feriu o exército dos Filisteus
que cercavam com tantas forças um povo sem armas,
quando, contigo à frente, Jonatas, soldado animoso,
rastejando de mãos e pés, passou os terríveis rochedos
com suas rudes arestas, e derrotou a multidão inimiga!
Ao medo horrível que lhes incutiste, eles fugiam,
enquanto o jovenzinho, veloz como um raio,
prostrava com seus golpes batalhões de inimigos!
O céu, o mar, a terra imensa, todos te temem,
tudo está sujeito ao teu poder, e até os infernos
estremecem ao teu nome. Tu, depois que a serpente
enganara nosso primeiro pai e sepultara o gênero humano
sob o peso do pecado, tu, para lhe renovares a vida
te abrigaste ao seio da Virgem Mãe; respiraste
auras humanas e nascido iluminaste as trevas da terra,
enriquecendo com dons celestes a pobreza do mundo.
Sofrendo em tua carne inocente horrendos trabalhos
e morte de cruz , arrancaste às fauces da morte
aquele a quem afeava o labéu do pecado,
e lançaste aos antros sombrios o tirano do inferno.
Penetrando nas férreas prisões do limbo vizinho,
soltaste os cativos e devastaste as regiões da tristeza.
Ao livrar das trevas os presos, irritou-se em suas cavernas
o dragão infernal. Tu o prendes em cadeias de fogo
e em vão ele uiva seus gemidos horrendos.
Quebras o poder à morte e calcas aos pés o inferno.
Sai das regiões inferiores cheio de troféus majestosos
e sobes às alturas do céu entre nimbos de glória.
Vencedor aplaudido. Celebras teu ilustre triunfo
sentando-se à destra do Pai, muito além das estrelas:
Com o cetro e a coroa, recebes o reino que mereceste.
Salve, artífice do mundo, Jesus, Glória do céu;
poderes e reinos te temem, veneram-te todos
os climas, onde quer que chegue o Sol com seus raios,
e excede tua magnificência as alturas celestes.
Já o teu nome se espalha até aos confins do universos,
ó Cristo, como torrente de penetrante perfume,
chegando até aos Japões, os mais afastados da terra.
Arrancadas às trevas e iluminada pelo sol fulgurante
da luz divina, também virá um dia adorar-te
a nação que se ceva agora em carnes humanas.
A terra em que sopre o Sul, conhecerá o teu nome
e ao mundo austral advirão os séculos de ouro,
quando as gentes brasílicas observarem tua doutrina

Glória imensa a ti, ó Pai bondoso; glória, ó Filho
imensa a ti; ó Espírito, glória imensa a ti!
Tu que concebeste pelo Santo Espírito ao Filho
do Pai eterno, glória a ti, ó Virgem!.


FIM

Os Feitos de Mem de Sá José de anchieta

APÊNDICE DA EDIÇÃO 1563


AO ILUSTRE MEM DE SÁ


Por muito tempo, herói, esteve oculta a sublime
majestade veneranda de teu coração generoso,
digníssima do poder, em limites alguns estreitado,
fadada a suster os raios torvos de Marte sangrento,
restaurar no mundo, por razão ou força, os séculos d’ouro.
Enfim te enviaram como governador a essas plagas
da gente austral, avessa a leis e tanta vez opressora,
sacudindo (ó maravilha) de nossa cabeça seu jugo.
Mas a Morte feroz foi, como sempre, invejosa
de teus feitos. Então lastimada chorou a terra guerreira
ao ver roubar um jovem, em cuja fronte brilhava
quanto pareceu a outro pai fugir em Ascânio.
Fora ele que do nobre sangue te nascera primeiro,
digno de que tal fama lhe celebrasse os destinos na morte
qual eles a concederam a tais pais, quando nascia,
digno de que a glória lhe preferisse à vida o sepulcro.
A morte, digo, saltando em tão grande duelo,
arrebatou esse penhor, último consolo paterno.
Reservado a qualquer risco e conduzido contigo
por horrendos abismos, atormentara-o o oceano
nas curvas ondas. Já não afaga os tenros braços inglório,
mas no campo de batalha, cobertos de armas, ativo
prostra corpos de inimigos, e grava nos astros
que brilham eternamente eterna lembrança.
Átropos já em chamas, mas inda não satisfeita,
esforça-se por mergulhar tais triunfos nas águas
do negro Letes. Na rápida torrente arrebata
das mãos vencedoras as palmas verdejantes da idade
áurea dos Portugueses; para que o olvido da hórrida noite
cubra a luz dos fatos com as trevas eternas.
Enquanto impiedosa prepara às tuas glórias e foice
com que ocultara os dois filhos, astros fulgentes do mundo,
ralentada pelo número das obras, seguindo-a
pelas costas, aproxima-se Francisco, filho segundo,
ilustre, vestido com as armas douradas da Apolo.
Com elas de improviso a agride, e rapidamente
rouba-lhe das mãos as verdes palmas, e à morte vencida
arranca os mesmo troféus que a cruel se dispunha
a roubas a teus filhos, aos teus feitos e fama.
Pois esta, sangrando monumentos a sucessos gloriosos,
poupou um merecido renome às fauces do tempo
devorador; e a luz que tu, chefe ilustre, concedes
aos filhos nascidos ao mundo, ele sozinho a restaura
a ti, aos teus feitos, a seus irmãos, como vida
que não se extinguirá jamais nos tempos vindouros.
Com razão pois nada perdeste, caríssimo pai:
pois vive um filho, por quem os mais te revivem,
e séculos felizes te sagrarão a vitória.

Estas poesias, fê-las editar Francisco de Sá, filho de Mem de Sá.


Os textos em itálico, referem-se a acréscimos efetuados na edição original de 1563, cotejada com o
Manuscrito de Algorta.



A história do padre José de Anchieta é de extrema importância para a literatura brasileira. Como o missionario jesuita via os indigenas brasileiros de maneira diferenciada. Foi quem catequizou os índios. A imagem de São José de Anchieta é característica da colonização no Brasil.




Referências
JOSÉ DE ANCHIETA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Jos%C3%A9_de_Anchieta&oldid=52912857>. Acesso em: 15 ago. 2018.

Tecnologia do Blogger.
 
Sobre | Termos de Uso | Política de Cookies | Política de Privacidade

João 3 16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.